terça-feira, março 03, 2015

Senta aqui, Maria.

Vou te explicar como as coisas do coração funcionam, Maria. Um dia eu acreditei que o amor era uma espécie de loteria e somente alguns eram contemplados. E andei espalhando por aí que ele não existia, que somente os tolos acreditavam e que era uma espécie de história de carochinha. Eu me enganei. Não porque o amor enfim bateu em minha porta e me convenceu do contrário, mas porque eu soube compreender que ele não se limita apenas à atração física, relação de homem e mulher. 

Senta aqui, Maria. Eu tenho que te dizer que algumas vezes você irá se decepcionar e, por vezes, sentirá seu coração sendo triturado. Meu coração foi costurado diversas vezes desde que tentei desbravar essas estradas em busca do amor. A gente sente uma dor tremenda, algumas vezes é tão lancinante que você perde a noção das horas, dias e meses. Você deita, olha para o teto e mesmo não enxergando nada os seus olhos permanecem fixos. 

Não se assuste, Maria. Apesar da vida bater um pouco, existem aqueles que têm mais sorte e descobrem o amor antes de nós. Fixa neles e não em minhas palavras duras e amargas. Levei um baque esses tempos e ao invés de levantar e sacudir a poeira, eu me mantive no chão, não sei bem o que se passava em minha cabeça. Fiquei ali deitada, comendo um pouco de terra e formando poças de lama com as lágrimas que me caíam dos olhos. É, Maria, doeu um bocado.

Hoje posso te dizer com sabedoria que a queda me transformou em uma pessoa mais forte, que o tombo me fez acreditar - acredite ou não - um pouco mais no amor. Porque para amar alguém é necessário que nos amemos primeiro, que haja reciprocidade no sentir, doação de ambas as partes, é preciso que nós estejamos completos para que não busquemos no outro aquilo que nos falta. Para não entregar ao outro uma carga muito grande. Não responsabilizar o outro a preencher nossos vazios. A gente precisa se entender melhor para não cobrar do outro aquilo que ele não pode nos oferecer.

No final das contas nós precisamos chegar com a bagagem e apenas desfazer as malas. O amor tem que encontrar a casa perfumada, os cômodos vazios de outros sentimentos e a cama feitinha para que possa descansar. O amor é mais simples do que imaginamos, Maria. A gente busca em tanto lugar o amor, sendo que nem desconfiamos que ele é gerado primeiro em nós mesmos. Quando a gente encontrar o dono do nosso coração ele apenas fará um parto, em nós haverá um nascimento, nascerá aquilo que desde sempre esteve em nosso interior.

Acredite, Maria. O amor nasce é assim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário