quinta-feira, abril 15, 2010

Aniversário.

Só então, quando olhei com mais atenção, notei a enorme armação dourada que rodeava a figura da minha avó. Sem entender nada, ergui a mão que não estava em volta da cintura de Edward e a aproximei para tocar minha avó. Ela repetiu exatamente o mesmo movimento, como em um espelho. Mas onde nossos dedos deveriam ter se encontrado, não existia nada além do vidro frio...
Com uma vertiginosa sacudida, o sonho abruptamente se transformou em um pesadelo.
Não havia nenhuma avó. Aquela era eu. Era minha imagem refletida em um espelho. Era eu, velha, enrugada e acabada.
Edward continuava ao meu lado sem se refletir no espelho, insuportavelmente encantador em seus eternos dezessete anos. Ele apertou seus lábios frios e perfeitos contra minha decrépita bochecha.
- Feliz aniversário. - ele sussurrou.
Acordei assustada – meus olhos a ponto de ficarem fora de órbita – e ofegante. Uma
escura luz cinza, a familiar luz de uma manhã nublada, tomou o lugar do ofuscante sol
de meu sonho.
Só um sonho, eu disse a mim mesma. Foi só um sonho.


(Me sinto exatamente igual, com a exceção de que não tenho o bonitão Edward me amando).
Texto retirado do livro Lua Nova de Stephenie Meyer.

quinta-feira, abril 08, 2010

24 de março

Sei que é tarde e as horas se estendem largas, mas é necessário que conversemos. Leoni canta os meus sentimentos em 24 de março, e embora a data não seja a mesma e que há muito março tenha se despedido de nós as evidências e semelhanças me são excruciantes e, por que não dizer, letais. Eu me esvazio da dor que por vezes me causaste, é incrível como os teus caprichos não são suficientes para acabar com o que nasceu cá dentro e transborda continuamente. Eu sei que não devo entrar em desespero, porque você me é de todas as formas possíveis e inimagináveis, mas esse é o ápice -, aquela velha história de: "ou vai ou racha, ou é 8 ou 80". Perdoe-me o palavreado chulo, querida. Mas é que como a noite avança sem compasso, os meus modos também se foram há muito. É agonia, repreenda-me se necessário. Não é uma reconciliação que pretendo propor e sim um acordo amigável. Por favor, não bata o pé assim e sua respiração profunda me causas açoite, entenda. Não ria de mim, pois te conheço tão profundamente que posso descrever cada movimento seu do outro lado da linha, estas tuas mãos que insistem em desenhar mil coisas na agenda ao lado do telefone, e o teu bico que se formará assim que eu calar minha boca.

Não se assuste. Respire. Tenho tentando em demasia afugentar lembranças, mas no fim é sempre seu nome que vem à mente. E hoje, o telefone me foi saída, depois de tanto ensaiar em frente espelho. Eu tinha que ligar e dizer, por fim, você é a razão da minha vida. E isso não é uma declaração de amor, constatei. É apenas algo que eu deveria ter aceitado há algum tempo, mas por alguma razão me esquivei. Eu queria mesmo ser o eterno em sua vida, aquilo que você mais adora, um objeto porque não. Mas, eu entendi o nosso lance e ele sempre foi um tanto unilateral e tantas vezes você quis me mostar isso. Perdoa. Sei que estou dando voltas e você deseja que esta conversa acabe logo, é claro. A proposta que tenho para nós é: "me deixa ser de outro alguém?" Soou mais como pedido, né? Mas é que não poderia ser feito de outra forma. É que eu sinto tão enraizado em você, que seria injusto não te pedir permissão. Vai ser bom para nós dois. Você não vai precisar se preocupar onde pisa comigo, poderá falar dos teus romances abertamente e eu farei o mesmo. Vai ser estranho no começo, mas eu precisava dizer.

Por favor não respire dessa forma, os teus soluços me magoam. É, existe outra pessoa. Mas ela ainda está nascendo timidamente em mim, talvez essa semente não cresça e morra pelo caminho. Só que eu precisava me dar, tentar e buscar um jeito de crescer em alguém também. Ela me viu colecionando lágrimas no bar e me ofereceu um drinque. Aceitei e desde então somos. Assim como foi no começo, somos descoberta um para o outro. Clarisse não chore. Você nunca me amou mesmo, não como eu gostaria. Senti que a nossa química era bem mais de pele, física do que outra coisa e eu desejo que alguém olhe para dentro de mim, a minha alma, e me ame pelo que eu sou. Vou dar uma chance a ela, mesmo que no fim da noite o teu nome volte aos meus lábios.

É isso.


(...) e do outro lado da linha como havia descrito, ela rabiscava na agenda " Grande amor, meu Matheus". Mas agora o telefone mudo não lhe dizia mais nada. Lembrou-se de Caio F. que dizia: "Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para entendê-las."

E acabou ali entre duas avenidas, dois telefones mudos.

terça-feira, abril 06, 2010

Éramos três.

Moço,

Lembro-te aos doze com o peito nu e uma bermuda vermelha, não tinhas preparo algum para a vida. E ainda assim carregava nos lábios os sorriso mais sincero que os meus olhos já tiveram o prazer de ver. Teus assovios muitos que me chamavam para papear em frente ao portão até altas horas e o teu desespero ao ver meu pai se aproximar. Tinhas medo.

Gosto de imaginar-te naquele tempo em que éramos os melhores e, talvez, únicos amigos. Essas lembranças me vieram ontem à noite rasgar-me o peito, porque sei que não ouvirei novamente a tua voz de menino, os teus assovios finos e tudo aquilo que lembrava nossa tenra infância. Gosto de imaginar o jogo de dama que era sagrado todos os dias às dezoito horas em frente minha casa, os moleques que juntavam-se para brincar de jogo da verdade. Essas meninices que vivemos juntos, entendes? O nosso beijo impulsivo que nos trouxe várias gargalhadas, nunca coube a nós outro sentimento senão o amor de amigo. E o teu ombro que me era refúgio todas as vezes que eu brigava com ele.

E sabe, Du, saber que você se foi assim tão cruelmente, me fez lembrar o Rafael também. Nós que éramos um tripé, eu que me sentia a D. Flor, não por ter dois maridos, mas por ter dois amigos que me eram fiéis e que me amavam. Eu não entendo como as pessoas podem ser tão impiedosas, destruir lares, famílias e amizades, assim como fizeram com nosso Rafa há 10 anos e agora contigo. Me dá um nó na garganta pensar que não seremos mais os mesmos. Que eu fiquei sozinha, sem os dois. E lembra quando cantávamos os três em frente a minha casa? Então. Na mente restou apenas um pouco do que fomos, porque é doloroso lembrar.

Sabe, a ficha da tua mãe caiu ontem, e incrivelmente a minha também. E só Deus sabe como o coração dela está. A tua namorada, Du...ela não aguentou. Não sei o que passou pela cabeça dela, mas ela não resistiu e quis te encontrar. É, ela também se foi. E eu penso sobre essas coisas que acontecem, esse sofrimento todo me faz pensar: "a gente já nasce morrendo?"

Saudades Du.
(...) da gente.

Vai com os anjos! vai em paz.
Era assim todo dia de tarde
A descoberta da amizade
Até a próxima vez.

domingo, abril 04, 2010

Quem eu amo.

Eu não quero - e nunca fiz, disso aqui um diário. Mas, sabe aquela vontade de parar e escrever o que sente às claras? Então. É tristeza. Puro descontentamento e uma vontade imensa de terminar, de dormir apenas. Eu não compreendo como cheguei assim ao fundo do poço, mas eu estou acostumada já. É como Caio F. diz: Primeiro você cai num poço. Mas não é ruim cair num poço assim de repente? No começo é. Mas você logo começa a curtir as pedras do poço. O limo do poço. A umidade do poço. A água do poço. A terra do poço. O cheiro do poço. O poço do poço. Mas não é ruim a gente ir entrando nos poços dos poços sem fim? A gente não sente medo? A gente sente um pouco de medo mas não dói. A gente não morre? A gente morre um pouco em cada poço. E não dói? Morrer não dói. Morrer é entrar noutra. E depois: no fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir quê.
Escrever me preenche de uma maneira que eu não compreendo. Contudo, as palavras me fogem. E não há alegria, não há amor para ser escrito, não existe nada na verdade. E me dói. Eu estou tão perdida. Com uma vontade imensa de me isolar do mundo. De ficar sozinha, somente eu e minhas aflições. E as pessoas que mais se importam comigo eu afastei, deixei de lado. Porque eu não consigo dar aquilo que elas querem, atenção, carinho, amor e eu também não quero. O pior de tudo isso que está acontecendo comigo é que eu não quero mudar. Entende? Estou gostando da água do poço, acostumei com o lodo e com os meus dedos que já estão enrugando. Eu nem sou tão boa com as pessoas imaginam e dizem. Por que as pessoas me amam se eu nem mereço?
Eu tenho consciência que estou afastando propositalmente todos os meus amigos, mas eu acho que é melhor assim. É, porque está ao meu lado ia ser um fardo. Na verdade eu sempre achei que eu nunca gostei foi de mim. E não deles.