quinta-feira, março 24, 2016

Resenha - Como Eu Era Antes de Você - Jojo Moyes


Bom, como o próprio título do livro sugere, a história trata de um romance com direito a suspiros e lágrimas - muitas lágrimas. Mas se engana quem pensa que vai ler apenas mais uma história de amor. Como Eu Era Antes de Você vai marcar a sua vida para sempre, pois trata de um assunto extremamente delicado e muito difícil de ser abordado. 

Louisa Clark (a Lou), a protagonista, é uma jovem de 26 anos, sem muitas ambições na vida, que mora com os pais, a irmã mais nova e o sobrinho. Ela trabalha num Café, como garçonete, há muitos anos. Quando o dono do Café decide fechar o lugar, Lou tem que procurar um novo emprego, já que a família depende da sua contribuição financeira. Depois de muitas tentativas mal sucedidas, aceita a vaga de cuidadora de um deficiente físico, Will Traynor. Will é um homem rico e bem sucedido, que aos 35 anos tem a vida mudada depois de um acidente que o deixou tetraplégico. O que o tornou frio, irritado e distante. 

No início, os dois definitivamente não se dão bem. Mas Lou consegue cativar Will com seu jeito espontâneo e irônico e suas roupas coloridas. Quando Lou descobre o motivo pelo qual foi contratada, a protagonista começa uma empreitada, que rende momentos maravilhosamente singulares a ambos, a fim de fazê-lo mudar de ideia. 
O livro aborda um tema polêmico, mas a narração da autora impede que façamos qualquer tipo de julgamento a respeito das escolhas feitas pelos personagens. E até concordar que o final escolhido por ela foi de fato o melhor. 

Se eu chorei? Sim, e não foi pouco. Certamente este foi um dos livros que mais me marcou. Ele me fez mudar a forma de compreender e valorizar a vida.

Resenha por Viviane Marinheiro.






terça-feira, março 22, 2016

A vida é feita de começos e recomeços


Hoje eu te dou duas opções: continuar mofando na poltrona em um fim de semana, enquanto assiste alguma série na Netflix com um balde de pipoca e um pote de sorvete do lado, ou vestir teu melhor sorriso, aquele vermelho escarlate que te desenha a felicidade no rosto, e sair por aí distribuindo simpatia. Você sabe, moça, e ninguém precisa repetir a você que a vida é uma roda gigante e que nenhuma dor é eterna. Que a vida é feita de começos e recomeços.

Eu te dou o conselho de pegar a tua dor - ou esse sentimento que vem carregando no peito - e fazer dela combustível para a caminhada. Você sabe melhor que ninguém que amores vêm e vão. Que eles são passarinhos que vadiam na época do verão, que são andarilhos e não têm morada certa, que são ciganos que vêm, se alojam por algum tempo, comem tua comida, bebem da tua água e, em uma manhã qualquer, decidem que é hora de partir.

Eu te aconselho a abraçar a vida com a mesma energia de sempre, a aceitar os convites para jantar e papear por uma noite inteira, um cinema após um dia estressante de trabalho, apreciar o céu de Brasília no fim de um sábado à tarde na Ermida Dom Bosco, andar de bicicleta ou patins pelo Parque da Cidade, a correr domingo de manhã no Eixão.

São conselhos bobos, moça. Mas são opções que podem trazer de volta o vigor à tua vida, que podem dissipar as nuvens cinzas que se formaram sobre a tua cabeça ameaçando a chover. Troque a tempestade por uma garoa fina. Por aquela chuvinha que traz em seguida um arco-íris a enfeitar o céu. Se dê a oportunidade de começar e/ou recomeçar inúmeras e infinitas vezes. Se caiu, levanta! Se machucou, ralou a perna, faça um curativo.

Eu te dou a opção/conselho/alternativa de começar do zero. Conhecendo novas pessoas, experimentando novos sabores, se embrenhando em novas histórias e descobrindo novas risadas e sorrisos. Só te peço que não permaneça na dor por muito tempo e não queira, nem por um momento, retornar onde não és bem-vinda. Dê ao amor o local mais nobre de seu coração, pois ele é majestade. Amor é rei.

Fotografia: Théo Gosselin.

terça-feira, março 15, 2016

Feche a porta quando sair


Eu te escrevi uma dúzia de cartas ou mais, uma canção que ainda me falta melodia e um verso de poesia a tatuar no coração. A vida parecia tão precisa e hoje a vejo como um caderno de desenho rabiscado por uma criança de 2 anos de idade. Um borrão que não se entende. Rabiscos que não se encontram o início. Eu deixo você ir embora sem tantos questionamentos, pois acredito que só devemos ficar onde nos sentimos à vontade. Você não sente. Meu coração deixou de ser tua casa, virou um lugar desconhecido e é justo que você queira alçar novos vôos, desbravar outros caminhos.

Eu abro a porta da minha casa/coração por acreditar que amores não merecem viver em gaiolas, mesmo que a vontade de mantê-lo trancafiado seja maior do que o desejo de dizer adeus. Eu abro a porta e te deixo ir por compreender a tua dor em ter que me acomodar – sem querer – na tua vida, por perceber o quão sofrível era me manter em teus dias, por observar que já não havia espaço para mim.

A gente deixou de ser a algum tempo e, embora eu acreditasse que fosse apenas uma fase o meu coração sempre respondia que não. As coisas não melhorariam e não melhoraram. E então eu me vi sozinha no meio do salão, sem meu parceiro de dança, sem meu companheiro de vida e contador de piadas preferido. Você se lembra que me estendeu a mão para dançar? Que você me quis por um momento em sua vida e cogitou a possibilidade de vivermos o eterno? Que não entendia o triângulo que vivíamos eu, você e Tiago Iorc. Ele nos cantava o dia inteiro na mente.

– Casamenteiro ele, você me disse.
– Irá cantar em nosso casamento, cogitamos.

Eu te deixo ir embora sem tantos questionamentos, porque me basta a dor de não compreender – humanamente – como alguém deixa de gostar da noite para o dia. Ou será que a vida apenas tirou de teus olhos a venda de uma possível paixão? E que na verdade é que sempre fui uma fuga, uma novidade para preencher os teus dias, e quando me conheceu de verdade viu que eu era tão comum, tão igual, tão cheia de defeitos e erros que me preferiu apontar à porta da rua.

Essa é mais uma carta que lhe escrevo e talvez ultrapasse duas dúzias. Um adeus ao que fomos, um pedido de desculpas pelo seu esforço em continuar a gostar de mim e embora eu chore pela despedida, prefiro que vá embora e percorra seu caminho até o fim da estrada...

Porque no final das contas a gente só deve ficar onde se sente à vontade.

Fotografia: Théo Gosselin.

sexta-feira, março 11, 2016

Eu tive um sonho


Sempre achei que receberia um beijo de cinema – daqueles que faltam o ar aos telespectadores – mas você me beijou a testa. Eu me vi uma recém-nascida em seus braços. O cuidado que você me tinha era típico de um pai sem coordenação, de primeira viagem, que não compreendia o que estava acontecendo, mas ainda assim estava grato. Beijou-me a fronte com a doçura de um apaixonado. Abraçou-me com a força de uma criança que deseja manter um gato arredio entre os braços (mesmo sem precisar, pois jamais sairia dali). E me fez reconhecer os sentimentos que cultivava apenas dentro de peito. 

Havia muita luz, muitas pessoas e o ir e vir delas não me desconcentrava. Olhava o teus olhos de promessas muitas, sentia o teu respirar sôfrego, o coração descompassando com o meu, e imaginava que era apenas um sonho. Estar ali não era real apesar de tê-lo envolto a mim. Pensava, enquanto tentava "deslinhar" meus cabelos que estavam presos em seu colar, que a vida tinha se enrolado por algum tempo, que os passos haviam se desencontrado, mas que o próprio destino tratou de traçar uma nova rota, nos mandar por outra trilha para sermos novamente um do outro.

Sorria tímida enquanto olhava teu desespero ao me dizer:

– Acho que vou ter que cortar o teu cabelo.
– Acho que você tem que continuar me abraçando.

E nos abraçamos por longos minutos, enquanto ríamos como dois abobados. A risada sempre foi o combustível de nossas conversas e ali, em meio aquele grande nada, ela ecoava por todos os cantos. Eu vi respostas às perguntas que outrora estiveram tão obscuras em minha mente, eu compreendi que fora necessário nos perdermos para nos encontrarmos e descobri ali, em meio ao caos daquele encontro, que eu te amava em meu silêncio e que você me amou - e amava - em sua renúncia. 

– Uma ametista? 
Eu perguntei.
– 'Preciosa' igual a você.
Você sorriu.



segunda-feira, março 07, 2016

Eu tenho aprendido a amar em meio a desesperança.




As definições do amor são - na maioria - apenas teorias. A gente ouve, lê em alguns livros, e acredita conhecer um pouco sobre ele. Acontece que a gente não descobre o que é amor através de trechos que grifamos em nossos livros prediletos ou, tampouco, em filmes que se tornam campeões em bilheteria. Descobrimos o que é amor é na rotina, no dia em que o outro quer ficar sozinho e, mesmo sem entender, a gente fecha a porta e aguarda pacientemente do lado de fora. Entendemos melhor o que é amor quando abraçamos o outro enquanto a dor o assola, quando as dúvidas permeiam a mente, quando ele não sabe se deve ficar ou partir.

Amar requer aquela paciência que está descrita em Coríntios 13, que muitas vezes achamos que é utópica. Conseguimos distinguir, separar a paixão do amor, quando sabemos compreender o coração do outro, quando damos espaço mesmo sabendo que podemos não caber novamente ali. Amar, no final das contas, e, em alguns momentos, dói de uma forma tão absurda que nos questionamos se o sentimento tem ou não serventia, se ele vale todas as noites em claro, todos os pensamentos marteladores, e somos imediatamente surpreendidos com a afirmativa de que vale sim. 

Eu, por exemplo, tenho descoberto o amor no meu silêncio, ao renegar as minhas vontades, deixar de lado os meus ímpetos e rompantes de desespero. Tenho aprendido a confiar em meu destino, a caminhar sem medo do que a vida tem reservado para mim, pois não adianta me esparramar no chão como uma criança birrenta e gritar aos céus meus desejos. A vida não funciona assim. As pessoas não são os brinquedos que olhávamos nas prateleiras e levávamos para casa. Assim, também, não é o amor.

O amor é livre para ir e vir, mesmo que isso nos doa e por um momento nos roube o entendimento. Amar é, muitas vezes, não saber onde se pisa e ainda assim continuar andando. É acreditar que - verdadeiramente - aquilo que é nosso nos encontra ou reencontra. E a gente percebe, ao final, que anda amando e já sabe muito sobre o amor quando dá o outro o céu inteiro para voar livre e desimpedido, quando começamos a compreender as suas questões e desatamos os nós esperando que eles se tornem laços.

Eu tenho aprendido a amar em meio a desesperança.

Fotografia: Théo Gosselin.

terça-feira, março 01, 2016

Seguir em frente.


Despedidas doem - miseravelmente - e têm o poder de tirar o chão debaixo dos nossos pés. Elas acontecem de forma sorrateira. Você está tomando seu café da manhã e recebe um torpedo do outro dizendo que não poderá te acompanhar no jantar à noite, você recebe um e-mail desmarcando o cinema de quarta-feira ou você discutirá em uma troca de mensagens no whatsapp levando à ruína aquilo que parecia ser tão certo e preciso.

Amores vêm, vão e isso não é novidade para ninguém. O que se torna inédito é a forma que eles saem de nossas vidas, esvaziando as cômodas, enchendo suas malas e deixando a casa cheia de eco, sendo interrompido, apenas, pelo som abafado de nossas lágrimas. Quando um amor decide ir embora ele leva muito de nós e deixa tanto de si e o problema está, exatamente, nesse deixar. A gente vê a escovas de dentes no banheiro, a roupa íntima que ficou esquecida em uma gaveta qualquer, a gente vê, inevitavelmente, a imagem dele projetada em nosso sofá em uma tarde de domingo. Onde costumeiramente assistíamos nossas séries preferidas.

Lembranças excruciam, doem de forma latente, mas elas se esvaem com o tempo. É necessário vivenciar o luto de um término, abraçar a dor que nos assola e chorar os rios que se acumulam em nós. Somente após te doer é que você terá condições de, em um determinado momento, avaliar o porquê de tanto sofrimento. Alguns amores valem as lágrimas, outros nem tanto. E a mágica da vida é essa: saber que amores têm o poder de se eternizar em nós negativa e positivamente.

Seguir em frente é uma opção que nos é dada após o término, mas, muitas vezes, insistimos em fincar os nossos pés no solo e nos transformamos em árvores plantadas em nossos passados. A dinâmica da vida nos permite ser e estar onde quisermos. Entretanto, cabe somente a nós decidirmos qual é o lugar que nos abarca. Eu jamais me demorei onde não me cabia, chorei diversas vezes por achar ter perdido algo que era meu, contudo, devemos entender que a gente só perde aquilo que realmente nunca foi nosso.

Quando nascemos a nós nos é dado, também, o volante de nossas vidas. E aos poucos vamos aprendendo a caminhar, dirigir pelas estradas da vida. Seguir em frente - em todas as questões de nossas vidas - implica em escolhas. Nós podemos escolher estacionar na vida de alguém, passar de visita como um andarilho ou desfazer as malas e fazermos morada ali. E o bonito de tudo isso, não importa em qual etapa você esteja, é saber que chegamos a esse destino com uma única e simples decisão: seguir em frente.

Foto: Théo Gosselin.