quinta-feira, dezembro 31, 2009

Poli.

E os meus olhos estavam entreabertos, a preguiça forçando-me a continuar na cama, e meu celular despertando com um rock dos anos 80. Derrubei-o, cai da cama literalmente, xinguei. E ouvi-a cantar: “chorei por ter despedaçado as flores que estão no canteiro”. Eram 05:30 am e tenho certeza que os vizinhos reclamavam da tua cantoria, ainda assim, tu cantavas tão doce que meus ouvidos ficaram atentos e eu escrevia pra ti, dentro da cabeça poemas. Poli. Poli Pocket, Poli Chinelo e como o Alan costumava chamar-te Poli Grana, te amo tanto boneca. Desses amores que filmes norte-americanos costumam descrever, daquelas amizades que nascem assim ao acaso e tornam-se tão verdadeiras e sinceras.

Olhe. Já te impliquei tanto, peguei tuas coisas sem pedir emprestadas, te li os diários que me dizia: odiar. E chorei. Chorei por saber que eu te era tão insuportável. Daí em diante eu lembrei que costumávamos tomar banho de mangueira juntas, que a gente brincava de boneca, polícia e ladrão, que a gente era cúmplice, naquela época de 8 anos até os 10. E então, você me disse: “eu não gosto de suas festinhas, de seus namoradinhos, me deixe em paz”. E eu te achava tão antipática, e odiava meu pai dizer: se a Poli for, você pode ir. E eu já começava a soluçar e bater o pé firme, pois sabia que você não iria. Mas a gente cresceu, sabe? E começamos a dividir segredos e eu você me encobria o namoro, haha. E eu te amei tanto desde então. Porque nós começamos a pertencer uma a outra. E hoje, quando a gente confidencia as coisas sente na pele uma da outra, entende?

E eu vou te confidenciando os meus segredos, assim como quem despeja macarrão na peneira. E você ri da minha inconstância, dos meus chiliques, do meu jeito e a gente se completa tanto, amor. Que eu fico aqui imaginando: “se você não fosse minha irmã, com certeza seria minha melhor amiga.”
E hoje eu quis dizer que nem importo que você me acorde cantando às 03, 05 ou 06 da manhã, desde que você cante. E sabe de uma coisa, eu te amo mesmo.


Da sua irmã desmiolada,

Pâmela.
Hoje, dia 31 de dezembro, além de ser o último dia do ano é o aniversário do meu pai, Manoel ou como o chamam Jesus e queria dizer, "papito", que me alegro demais por ser sua filha e que mesmo com todas as nossas desavenças jamais eu desejei ter outro pai. Você é um máximo =D
Escrevi uma carta pra ele no meu outro blog. Quem quiser ler.
Te amo, meu velho.
Feliz aniversário =D

quarta-feira, dezembro 30, 2009

Aquela caixa;

Eu descia as escadas vagarosamente carregando em minhas mãos uma pequena caixa de madeira clara, aquela que você me deu em meu último aniversário, lembro que havia algumas fitas lilases ao redor e alguns cartões do Garfield com poemas desconexos com a tua letra pavorosa. Eu ri da lembrança. No último degrau sentei-me sem forças, as pernas trêmulas e o coração fatigado. Sentia que meus nervos estavam à flor da pele e que a qualquer momento eu entraria em curto-circuito iniciando ali, com a madeira da caixa, um pequeno incêndio. Desagüei. Porque eu não queria jogar fora tudo aquilo, mas eu precisava – porque você me doía. E eu ouvia música clássica e ao invés de encontrar a paz que eu buscava com a melodia, sentia-me em um funeral e pensei que talvez estivesse morrendo ali. Sozinha.

E sabe, doçura, quando eu abri aquela caixa e vi todos os nossos pertences e tudo aquilo que conquistamos nos últimos tempos que nos pertencemos pensei que tudo havia sido em vão. Porque você quis assim. E então os meus olhos secaram tal qual o deserto do Saara, sem pretensão alguma de voltar a chover. Engoli seco o meu orgulho e levantei-me em direção a porta da cozinha. Assim que me aproximei da janela os avistei, vestiam-se de laranja e corriam de um lado a outro da avenida enquanto o caminhão andava lentamente esperando-os. Levantavam sacolas, sacos plásticos azuis e pretos e então corri até eles e ofereci-lhes o nosso pequeno tesouro. Um mundo que vivíamos outrora.

E uma moça simpática e bonita, mesmo debaixo daquele uniforme, disse-me que não levaria. E eu tentei convencê-la, mas ela mostrou-se relutante. E eu cedi. Dissera-me que um dia agradeceria a ela por isso, duvidei, mas não quis lutar. Vi que era batalha perdida e enquanto eu retornava para casa lembrei-me que há muito não limpava o sótão e podia sentir, só de pensar, o gosto da poeira em minha boca, do frio e da escuridão daquele lugar. Olhei duas ou três vezes para aquela caixa e sorri com lágrimas: havia encontrado o teu lugar.

terça-feira, dezembro 29, 2009

Todo azul do mar;

Há muito havia me esquecido como era ouvir o meu nome saindo de teus lábios: doce - como havia de ser. E eu não esperava você, não daquela maneira, naquela circunstância. E você me veio naquela tarde cinzenta e sentou-se ao meu lado. Ali no chão. E eu usava um jeans surrado e você disse: - esse jeans tem história. E eu ri. E os seus dedos percorriam o meu pulso brincando com a fitinha de Bom Jesus da Lapa que recém-adquiri. E eu não disse nada. Apenas assenti. Porque as tuas mãos sempre me foram refúgio e os teus abraços sempre me envolviam quando eu queria - e quando quero. Mas eu não te chamei e mesmo assim tu vieste ao meu encontro. E aquela grama parecia tão verde, assemelhava-se a cor dos teus olhos. E eu disse: - tom verde grama. E você deu de ombros: - eles mudam vezenquando. Nós rimos porque era gostoso você me ter e vice-versa sem obrigações, sem pedir nada em troca. E nós éramos um do outro - sempre fomos, afinal.

E você me cantou todo azul do mar dizendo que era por causa da fitinha. Que a sua mãe gostava e que você, mesmo achando brega, gostava da poesia da música. Eu ri novamente. Porque você sabia que eu era bem boba com essas demonstrações de afeto e então corei. E nós nos fitamos por alguns instantes a mais. E o sol escondia-se atrás dos prédios anunciando que era hora de ir, mas você continuou ali. E eu sentia que as minhas emoções sempre mudavam quando te tinha por perto, mas não compreendia. E eu ficava me perguntando se a gente se amava, sem que os meus lábios se abrissem - apenas em pensamento. E você me lia claramente. E nossos olhos confusos e tímidos avistavam o nada, só o horizonte. E não precisamos dizer nada. E então eu lembrei que não houve um adeus, um até logo ou breve e que as despedidas nunca fizeram parte de nosso cotidiano. E a gente se pertencia e ponto final. Porque não tivemos um fim de fato.

E você me veio assim manso e sem pretensão alguma. Deitando-se em minhas pernas continuou ali por várias horas, até que a Lua estivesse no alto do céu. E eu te acariciava os cabelos negros como a asa de uma graúna e te cantava More than Words e a gente sempre se amava daquela maneira. Contida. Só com palavras, porque os gestos e toques já não nos satisfaziam mais. E naquela noite eu não te beijei e pela primeira vez vimos que era melhor assim. Porque não era necessário que nossos lábios se tocassem para que soubéssemos que éramos de fato um do outro.

segunda-feira, dezembro 28, 2009

As flores amarelas.



Eu as via pomposamente ali no alto. Combinava com o verde musgo, escuro das outras folhas e com o caule marrom-preto. A moça que estava ao meu lado discutia ao telefone e eu podia ver o nó que se formara em sua garganta. Os seus olhos eram grandes de avelã e a sua pele negra era perfeita. Moça bonita - pensei. E eu olhava para as flores que ainda estavam lá, deslumbrantes em cima das árvores, imaginava apenas o tapete que se formaria embaixo daquela árvores quando as flores resolvessem cair, dançando com o vento. E a moça soluçava baixinho.

O fluxo de carros era lento, pois chovia bastante. E eu presenciava ali duas tempestades, aquela que molhava as flores amarelas do outro lado da BR e a que saia dos olhos da moça. Senti pena. E não queria sentir, pois se a tempestade estivesse em mim não gostaria de olhos penosos em minha direção. E ela soluçava pouquinho enquanto os carros andavam, olhando fixamente para o seu celular. E a dor era contida. E eu via aquelas flores lindas e sentia raiva. Por que tudo aparentemente é bonito?

E a moça começou a chorar penosamente, com soluços mais intensos e eu até podia sentir a vibração que fazia, pois a cadeira tremia um pouco. E eu senti raiva. Porque eu olhava para aquelas flores pequenas, medíocres e ainda assim elas eram lindas. E o celular dela tocou novamente, mas ela não atendeu. Tentei não prestar atenção no que acontecia, mas vi suas mãos trêmulas e a chamada assinada: amor. Então eu pensei: - Até amor correspondido magoa.

Só que eu não pensava em mim. Só conseguia enxergar ela ali. Porque ela sofria e mesmo que eu não a conhecesse fiquei triste por ela. E eu olhei mais uma vez pela janela do ônibus e as flores amarelas pareciam nos sorrir e então eu pude perceber: as flores tentavam animá-la e vi que realmente amarelo era alegria, mas também é desespero. - E ela desaguou.

E ontem enquanto eu estava rezando pelas famílias em um encontro, eu pensei naquela moça. E os olhos grandes e vermelhos dela estavam em minha mente, mesmo que inconsciente. E desejei de coração que ela fosse feliz. Assim como me dispus a ser. Sem interferências, sem pedir nada em troca, sem depender de ninguém. Salvação e felicidade depende apenas da gente, de nosso estado de espírito, quando colocamos alguém acima disso nos magoamos. Cedo ou tarde as pessoas irão nos magoar, isso é fato, apesar de não ser aceitável.

Deixem a porta aberta a felicidade pode cansar de bater.

sábado, dezembro 26, 2009

Quando o amor não acontece;

Completavam-se. Ela com toda a sua docilidade misturada vezenquando com sua acidez - doce e incoerente. Ele rude ao extremo, amolecia-se sempre que os braços dela envolviam seu pescoço em busca de afeto. Eram amigos – apenas. Assistir a sessão da tarde só fazia sentido se os pés dela estivessem sobre as pernas dele, enquanto comiam pipoca e tomavam café. Costume estranho que ele aderiu depois de conhecê-la. Ela era pura tempestade, vendaval, tornado, ele sempre a acalmava, aprendeu um pouco de meteorologia depois que se viu dentro da vida dela.

E ele não conhecia outra vida a não ser a dele – na dela. Os dois. E eles cresciam, mudaram, já não eram mais crianças. Ele derrubou tinta guache em sua camiseta branca, ela apenas sorriu e revidou. Mas o namorado dela os viu e interferiu, chamando-o de irresponsável. Ela ficou sem graça e nada disse. Apenas assentiu.

Ele foi embora chutando pedras e em seu peito havia dor, muita. Ele indagou: por que ela não olha para mim? Enraiveceu-se quando não obteve resposta. Ela é tão perfeita – pensou ele. E ainda assim é muito pra mim. Por que ela me magoa tanto? Por que ela não vê que me esforço para fazê-la feliz? E ele sentiu-se infeliz, sentando-se em frente a TV desligada.

Ela chegou a casa correndo, era puro furacão. Correu até o quarto e trancou-se no banheiro, tirou a blusa que agora tinha um tom vermelho do guache, seus olhos azuis estavam tão vermelhos quanto a mancha da blusa. Chorava. E dizia: Por que ele não olha pra mim? Ele é tão perfeito e eu não sou nada. Por que ele me magoa tanto?

E não conseguiram dar nome ao sentimento. Deixaram-no aprisionado. Lá dentro.

sexta-feira, dezembro 25, 2009

Feliz Natal.




A menina pediu uma boneca
O menino pediu um carrinho
E ambos enviaram a carta para Pólo Norte
Papai Noel não recebeu
E eles esperaram ansiosos por sua chegada
Dormiram
Papai Noel não existia e eles não sabiam

Do outro lado da cidade a menino rezava na missa
Cantou parabéns para o aniversariante
E deixou um pequeno carrinho perto da manjedoura
Era o único que tinha, mas era aniversário d'Ele

Chegou a casa e em sua cama havia um pequeno presente
Com um laço azul um bilhete dizia:
Obrigado pelo presente, irmãozinho
E no final estava assinado: menino Jesus.

Feliz Natal a todos. E Feliz aniversário Jesus!!!

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Gérberas.

Os passos apressados era característica comum dela, andava a passos largos e em sua mão carregava um guarda-chuva preto, tentava se esconder da fina chuva que caia. Usava um salto agulha tamanho quinze, com uma roupa social que ela odiava usar, mas que hoje era indispensável: uma reunião de negócios. Ela precisava fechar um contrato, o que lhe renderia um aumento e uma posição privilegiada na empresa. Há duas semanas vinha trabalhando em seu projeto, estava exausta, havia perdido a noção de tempo e espaço.

Chegando a seu trabalho, eufórica, correu em direção à sala de reunião. Todos os acionistas da empresa a esperavam ela, por sua vez, mostrou-se calma e exemplificou todas as idéias, sendo aplaudida com louvor – contrato fechado. Virou-se em direção a sua sala, exausta. E olhou para o porta-retrato que estava sobre a mesa: eles. Em uma época em que se pertenciam que eram felizes. Chorou. Sua mente estava voltada para o trabalho nos últimos dias, isso a preenchia de fato, mas agora que havia conquistado queria sentir-se feliz, mas não conseguia. Estava vazia de novo. Não havia contrato para preenchê-la. Só um vazio imenso, saudade.

Engolia as lágrimas tentando mostrar-se forte, alguns amigos a cumprimentavam pelo sucesso, e ela sorria, mas seus olhos sempre voltados à foto. De repente a sua amiga e recepcionista entra e lhe diz: – Feliz aniversário, Letícia. Acho que alguém também se lembrou disso. – E um senhor já idoso adentrou a sala e em suas mãos havia flores, gérberas amarelas, lindíssimas. Ela com um coração quase na boca e as mãos trêmulas pegou-as delicadamente, havia um pequeno cartão dentro as flores.

– Meu aniversário? – Ela havia esquecido completamente disso. E sorriu com esperança nos olhos.

E sentiu-se gelada ao mesmo tempo, pois teve medo. As pessoas estavam ao seu redor, olhando-a ansiosas também, flores em ambiente de trabalho era novidade e sempre motivo de fofoca. Mas desta vez, eles desejavam que as flores trouxessem felicidade à moça. Ela desejava que as flores e o cartão fossem dele. Tinha medo da decepção. Abriu o cartão com delicadeza, leu e suspirou. Era do seu melhor – não do dono de seus suspiros doces, mas de seu amigo: Bernardo. Ela não conseguiu ficar triste, como imaginava, sentiu-se alegre.

Talvez o moço não soubesse o seu valor, mas alguém sabia. Sorriu. Uma lágrima fugidia caia de seus olhos castanhos, mas não teve sabor amargo quando encontrou seus lábios.

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Primeiro beijo.

"Meu primeiro beijo foi doce a atrapalhado. Meu primeiro beijo foi mágico, mas rápido." The Happy Losers.


A rua estava movimentada, várias crianças corriam desembestadas com balões coloridos. Era aniversário de sua irmã do meio e os pais resolveram comemorar chamando toda a vizinhança e parentes. Ela, por sua vez, havia pintado os olhos e usava um vestidinho preto recém-adquirido na última andança de sua tia à Goiânia. Todas as outras meninas entraram na onda e usavam a maquiagem de sua mãe, não passavam de 12 anos, bem meninas. A preocupação de sua mãe com os convidados deixou-a tranqüila quanto seu plano, planejara sair assim que as pessoas começassem a cantar parabéns. Imaginava que não daria falta de sua presença. E assim fez.

Ela saiu no tumultuoso quintal e dirigiu-se a saída, ouvia de longe o seu assovio. Ele sempre a chamava dessa forma. Quando ela o viu seus olhos encheram-se, lágrimas doces de excitação, felicidade, um misto que ela não compreendia. Naquele dia descobriu o significado de borboletas dentro do estômago, estava nervosa. Havia dito que precisava falar com ele, decidiu que não passaria daquela noite. Ele tímido sabia do sentimento que a menina nutria por ele, mas nunca dissera a ela que era recíproco, ela sabia através de terceiros, amigos, amigas.

Ela aproximando-se do rapaz disse: - Que bom que você veio. – E as palavras eram falhas, parecia que seu coração estava à mostra. Havia, tinha certeza, dentro dela uma escola de samba inteira. Ele riu, pegou em seus cabelos e timidamente disse: – Está linda, pequena. E eu tão desarrumado. E ele usava um jeans escuro, com uma camiseta branca estampada, seu cabelo meio molhado e o cheiro doce. Ela adorava.

Ela sabendo que a conversa não renderia mais que isso se ela não tomasse atitude disse: – Muito obrigada. E vamos ao que interessa, eu gosto de você, sou apaixonada por você e queria saber se você quer namorar comigo – A menina despejara um quilo de palavras, meio gagas devido ao nervosismo e ao final da frase suspirou, cansada. Ele olhou-a atônito e disse: – Sim. Eu quero.

E ficaram se olhando por alguns minutos. Ela impaciente como sempre indagou: – Você não vai me beijar? Ele sorriu envergonhado e deram ali o segundo-primeiro beijo de suas vidas. É, o primeiro será narrado outro dia.

terça-feira, dezembro 22, 2009

Ele.

As palavras caladas que ensurdecem
Deixando silêncio ecoando pelos cantos
É grito calado preso na garganta
É choro abafado, contido, refreado

É ele que move os dedos dela
Que mexe com seu consciente e inconsciente
Que vive nos sonhos e devaneios
Não sabe que existe nela – dentro dela

Ele que escorre em suas lágrimas
Que não sai de seus lábios
Intrínseco a ela, tal qual liana em macieiras

Ele que a moldou doce
E conhecedora de seus sentimentos
Desenterrando o amor

Ele que não sabe
E talvez nunca saiba
Que existe e vive nela.

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Margarida é desespero;

(...) e vimos uma margarida e nem sequer era primavera e disseste que margarida
era amarelo e branco e eu disse que branco era paz e disseste que amarelo era
desespero e dissemos quase juntos que margarida era então desespero cercado de
paz por todos os lados.
O dia de ontem - Caio F. Abreu


Eu ri quando ela me chamou de leãozinho. Ri porque era isso que ela queria – provocar-me. Cedi. E quando me olhei em frente ao espelho vi que tinha razão, os meus cabelos altos e loiros remetiam ao Simba. Nós sorrimos – logo chorei. Então, ela abraçou-me e envolta em seus braços solucei. Tristemente, eu diria. Seus olhos andam tão fundos – ela disse. Eu apenas dei de ombros assentindo. Embora eu não soubesse, ela conseguia me ler perfeitamente. Há alguns dias enquanto leio Caio F. sobre a cama ela vem sentar-se à beirada e me fita. Diz: - Deixa-me compartilhar dos versos dele também, fominha. E eu rio. Olha pra mim, menina. Que tu verás um pouco do que eu leio.

Ela disse que verde era esperança e disse a ela que preferia marrom. Marrom é triste. É poesia. Ela chamou-me de louca. Rimos e dissemos: - Poeta. Ela não compreendia o que acontecia, tampouco eu. Eu ria das minhas lágrimas chamando-me de louca e chorava a minha dor em meus risos. Ela falava sobre maquiagem e que minhas pálpebras são inchadas, que meus olhos estão minúsculos e eu disse: - é um ‘quê’ oriental. Ela me fazia feliz, tentando adivinhar o próximo revide, fazendo-me companhia debaixo das minhas cobertas de lágrimas. Eu era desesperança, ela era verde.

Ela disse que o poço era ruim e eu disse que gostava do sabor da água. Ela disse que eu plantasse hortênsias em minha fossa, retruquei dizendo que preferia avencas. Ela sugeriu a fazenda, sugeri então continuar ali deitada, olhando para a rachadura que havia no teto. Ela entristeceu-se e chorou. Eu já não tinha lágrimas – mas a dor ainda me latejava. Ela me chamou de egoísta e eu disse que não sabia ser altruísta.

Ela me entregou uma rosa. Então, disse que eu gostava de margaridas.
Diálogo com a Poli Pocket.

sábado, dezembro 19, 2009

Caro 'Anônimo',

Entendo perfeitamente como é fantasiar e devanear pessoas, sentimentos e possíveis acontecimentos. Eu, por minha vez, sempre crio situações das quais queria viver. Então, eu te li hoje pela manhã tão logo o sol apareceu em minha janela e tive raiva de ti. Desculpe, não sei quem é você, mas você acabou com o meu dia. Fato isso. Eu não queria ouvir que você tem amor platônico por mim, que te sou o sol, tampouco que pessoas como eu devem se idealizadas, admiradas por pessoas como você. Isso está errado, completamente.

Enquanto eu tomava banho um grito instalou-se em minha garganta, um nó tão grande que ainda me sufoca. Estou aqui inchando. Como se a qualquer momento eu pudesse explodir. Desculpe-me por não compreender o teu sentimento e sei que estou sendo egoísta, mas eu não sei – e nunca soube receber amor de ninguém. E isso me apavora.

E eu fico olhando para o meu celular pensando se eu apago ou não. E me dói. Dói porque eu já disse tantas coisas parecidas assim, já pintei sol e estrelas em luzinhas, vaga-lumes e adjetivei tantos outros objetos a fim de criar poesias e agora te condeno. Mas compreenda o que te digo: eu não sou apaixonável, baby. E eu não quero te magoar. E isso é aviso.

Definitivamente eu fui feita apenas para escrever de amor, vivê-lo me repele, me assusta. Perdoe-me, caro – seria fácil se você tivesse se identificado -, mas eu sou assim. Se te dei alguma esperança, mesmo que mínima peço-te perdão. Eu não nasci para amar. E a cada dia que passa me convenço mais disso. Sei sim falar de amor, talvez você tenha se encantado com isso, confundido. Só que o meu amor se restringe a páginas de cadernos e documentos do Word.

Atenciosamente,

Pâmela Marques.

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Dos encontros;

Passavam-se das dez e meia e a chuva ainda não cessara, obrigava-a continuar ali esperando. Impaciente como sempre, batia os pés descompassados, enquanto o relógio avançava às horas rapidamente. Encheu-se de coragem e partiu em meio à chuva que caia ferozmente, desejava ir para casa. Estava exausta, algumas reuniões e decisões haviam sido tomadas deixando-a com os nervos irritadíssimos. Seu destino não era longo, atravessou a avenida a passos lentos, estava molhada e pressa já não tinha mais.

Começou a devanear, em mente, o rapaz que lhe roubara os sentimentos. Estava tão absorta que não percebera a aproximação do carro que vinha velozmente, colocou os pés na pista e foi repelida para trás pela buzina ensurdecedora do Vectra verde. Xingou, murmurou alto. E o moço que dirigia abaixou o vidro do carro dizendo: - Mel, não te vi menina. Perdoe-me. De súbito ela reconheceu a voz, claro. Está estava tão impregnada em seus sonhos e pensamentos que lhe era impossível não reconhecer: Ele! - Pensou.

Gaguejou um pouco até recuperar o fôlego. Ela estava ensopada da cabeça aos pés e ele gentilmente abriu a porta do carona obrigando-a a entrar. Perdeu a voz. Ele retirou a blusa e lhe deu para que se secasse e ela enrubesceu. Observando a timidez da moça ele disse: - Não te acanhes, tão logo cheguemos a casa me visto. Ela apenas assentiu. E em pensamentos pensava: - Como assim chegar a casa? Não vai me deixar na minha casa? Somente pensou. Não quis perguntar, deixou que a noite fosse dele, assim como a direção.

Chegando a casa trocou-se e lhe ofereceu uma toalha. Ela olhou-o atônita. Ele sempre ligava para ela, mandava-lhe mensagens, mas ela não conseguia enxergar nada, além disso. Suas deixas sempre a deixava confusa e ela não sabia o quê de fato ele pensava. E agora eles estavam lá, calados, olhando um para o outro. Ele, por sua vez, cansado de todas as entrelinhas e indiretas disse-lhe: - Doce. Sou-te apaixonado, fato isso. O sorriso molhado da moça rompeu o silêncio que acabara de se estabelecer com essa revelação e ela que outrora era toda tristeza, não se conteve e beijou-o como desejava há tempos.

Depois em seu ouvido ele disse: - Viu que não precisava ter medo? Sempre fui teu. Mas a incerteza também me consumia hoje, porém, vendo-te ali. Criei coragem. E juro que se soubesse dos teus doces beijos teria dito antes. Gosto-te, pequena.
(Desativei o: It's a problem)

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Três.

Escrito a seis mãos com a amora doce e do bonito Du.

Caminhava na praia, prestando atenção nas casas. Fascinava-me as cores e proporções que aquelas casas à beira mar possuíam, dignas de revistas de Arquitetura. Uma pequena realeza, numa praia pacata, de areia branca e ondas não tão amistosas. Tudo me convidava, inclusive a penúltima casa, não tão grandiosa, mas, ainda sim, bonita de muitas maneiras. E eles estavam lá. O casal de três pessoas. O homem com suas duas mulheres, deitados numa rede, balançando-se a brisa do mar.

Eles eram estranhos, confessos. Não entendia como era possível três pessoas que se amam viverem juntas. Elas o amavam, idolatravam. Ele parecia ser o amor da vida de cada uma delas e ele, entretanto, amava as duas. Igualmente! Isso era visível pelo brilho que emanava do olhar, sempre que olhava, seja para uma ou para outra. Doce. E não parecia haver atrito, ciúmes, competição. Se ele queria as duas, elas eram boas demais para deixar que ele fosse feliz. Um amor desses, não cabe descrição. Não cabe emoção. Senti inveja, não dele, por ter duas mulheres bonitas, mas deles, por viverem um amor tão impossível.

Helena, Caio e Lúcia eram seus nomes e esses nomes soavam como um só dita na frase, tal era a ligação entre os três. Pertenciam-se, fato. Ouvia-se dizer que Helena e Lúcia mudaram-se a fim de dar início a um pequeno empreendimento, eram artistas plásticas e escolheram aquela praia por causa da movimentação de turistas, mesmo fora da época de férias. Há três verões Helena estava em um posto de gasolina, quando voltava da loja de conveniência avistou-o. Ele com sorriso largo e claro pediu-lhe um cigarro, mal conseguia encontrar o maço dentro da sua bolsa imensa, mas não somente por isso, o sorriso havia deixado-a enervada. Estendido o maço em sua direção Caio com um sinal negativo disse: - Não fumo, bonita. Apenas tática para uma aproximação. – E sorriu. Helena derreteu-se daí então.

Helena apaixonou-se por Caio na primeira troca de olhar. E prometera parar de fumar, devota como era ao amado. Um dia, ela marcou jantar em sua casa, que dividia com Lúcia, e apresentou Lúcia a Caio. No instante que Caio trocou olhar com Lúcia, seu coração dividiu-se em dois pedaços iguais. Metade ele deu para Helena e a outra metade, para Lúcia. Caio foi um homem dividido ao meio, amando loucamente e igualmente duas mulheres prestes à entrar em pé de guerra. Quando viu a amizade que ruía, Caio se postou entre as duas e falou, com emoção: "Eu não posso me por entre as duas e nem quero que briguem por culpa minha. A vida me traiu e dividiu meu coração, dando metade para cada uma de vocês. Não posso sobreviver só com metade minha..."

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Beije-me.

"Beije-me sob o crepúsculo.
Leve-me pra fora, no chão iluminado pela lua.
Levante sua mão aberta, faça a banda tocar
e faça os vaga-lumes dançarem.
A lua prateada está brilhando, então me beije."
(Kiss-me Sixpence None The Richer)

O crepúsculo aproximara-se e nós estávamos sentados, a beira de um precipício. A vista era linda, embora embaixo houvesse muitas pedras, o barulho do mar nos convidava a um mergulho. E os teus pés estavam descalços assim como os meus, e em tuas mãos havia um violão – o meu, que comprara na intenção de aprender algo e embora tentasse, não conseguia avançar às notas. Sempre tive problemas com minha coordenação motora e tu bem sabias disso. Tu cantavas que: garotos não resistem aos mistérios de meninas, que muitas vezes são mulheres. E eu tentava desvendar naqueles teus acordes, e palavras que saiam fáceis se algo era para mim. Enrubesci. E os meus olhos fitavam as fitinhas de Bom Jesus da Lapa que estavam no seu pulso recém-adquiridas em sua última viagem. E você ria do meu rosto vermelho.

– Mel, tu sabes que os acordes mais sinceros são vindos do coração, não é?
E tuas palavras eram tão doces, que meu nome realmente parecia escorrer por tua boca, tal qual num favo de mel. E então eu apenas assenti com a cabeça, faltava-me ar, fôlego. E eu apenas fitava os teus olhos de avelã.
Então você me deu o violão e disse: – Cante o que teu coração mandar agora. E eu engoli seco. Relutei, pois mal sabia as notas.

E pousei sobre o colo o violão com as cordas voltadas para as minhas pernas, pensava em levar a conversa para outro lado, afim de que você se esquecesse da tal música. Apesar de cantar sempre, sabias que eu era tímida por completo. E mostrei-lhe os vaga-lumes, que mais pareciam estrelas baixas – eles dançavam. E você aproximando-se de mim disse: Vê como a lua prateada nos declama poesias, doce. E inebriada fiquei, tensa também. Não compreendia bem as tuas palavras, nós sempre tão amigos e sem pretensões. Sempre devaneei palavras assim, vindas de teus lábios que me são tão apetecíveis, e agora te olhava boba sem palavras.

E você deitou-se sobre a grama, que agora iluminada pela lua tinha um tom verde brilhante, e com a voz doce apenas disse: cante-me. E eu fechei os olhos e disse: – Não ria dos meus olhos fechados, me é constrangedor cantar-te e veja, vou tocar sendo que sou estabanada e mal sei alguns acordes. E você me soprou um beijo e disse: – Quero-te cantante, assim como a tua fala. E eu estremeci.

Ré sustenido era a nota inicial, seguida de outros acordes que fui lembrando aos poucos, meu inglês um pouco enferrujado era tímido. E você olhando-me com olhos atentos traduzia mentalmente o que eu cantava e o meu canto era um leve balbuciar. E você aproximava-se de mim aos poucos e eu era toda nervos. A música foi interrompida por teus lábios que cantavam e agiam conforme a letra que dizia: beije-me.

Outros beijos: Alan, Andrey, Camila, Carla, Charlie, Du, Fernanda,
Luciana, Maria Fernanda, Natália, Nathália,
Raquel, Tiago.

Quer participar? Escreva e nos avise.

terça-feira, dezembro 15, 2009

Bonito,

As minhas palavras hoje estão tímidas e fugidias, assim como as lágrimas que hoje insistem em escorrer pela face. E sou toda tempestade, daquelas que inundam, desabrigam, causam estragos. Porque eu não sei até que ponto eu estou mergulhada nisso, sabe? Nesse sentimento. E também por não saber se quero continuar dentro, pois não agüento mais. E ontem, sonhei-te horrivelmente, tu falavas de nossas coisas abertamente com os teus amigos, magoando-me. Falando de meus sonhos, de minhas palavras, chamando-me de menina-boba. E rindo com eles. E eu via, chorava.

E então, eu fico pensando em todas as coisas que nós conversamos. Se elas lhe causam risos, e isso me dói. Não sei ser de outra forma, só poética assim. Boba, como tu dizias no sonho. E indireta. E hoje, meus olhos estão pesados assim como o céu. Viste o céu hoje? Quase negros. As nuvens quase chorosas tão parecidas comigo. Queria hoje dizer-te o quanto de você há dentro de mim, mas eu não posso. Porque eu realmente não sei. Estou tão cansada de mim, desse sentimento, de toda essa confusão.

E quando eu acordei hoje, ridiculamente chorando, soluçava e pensava: - Meu Deus o que eu estou sentindo. E me doía, sabe. E você me dói tanto vezenquando, que não tem noção. E hoje eu queria só entender o que há em mim. E que meus olhos parassem de transbordar.
Hoje o que sinto por você me traz tristezas, incertezas.

Sei que foi sonho, mas me pareceu tão real.

Pam.

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Quase uma Dona Flor, quase.

Sentou-se na varanda observando a chuva que caia incessantemente. Ela não era bonita, puro agouro. Estava lá com um cinzeiro abarrotado de tocos de cigarros, alguns maços em cima da mesinha e um litro de uísque 12 anos, que vinha bebendo do gargalho - não era necessário um copo. Sua boca era amarga, não pela bebida, muito menos pela nicotina, era a amargura que vinha de dentro. Estava sentado há horas, não se lembrava se havia acordado ali, ou se apenas havia sentado ao amanhecer. Tudo lhe era incerto. Suspirava enraivecido o nome de Úrsula.

Ela havia deixado, como de costume, a sua cama na madrugada. Marco, havia se cansado disso. Sentia-se usado, declamava-lhe poemas, mostrava-lhe os textos que dedicara e fizera sobre os dois. Ela, por sua vez, deliciava-se com o seu jeito doce de ser. Talvez, o amasse, mas não sabia até onde, quando. Não sabia se gostava apenas de suas palavras, ou se realmente o amava. Ele não era como Júlio, o comerciário com quem se encontrava às escondidas todas as tardes dentro do estoque de calçados, ele sim sabia fazer uma mulher feliz. Pensava ela. Não conseguia imaginar a ideia de viver com Marco, ele lhe propusera casamento, ela não queria compromisso. Queria ouvir Camões em seu ouvido, enquanto se amavam, mas queria ouvir palavrões enquanto se perdiam na seção de sandálias femininas com Julio. Sentia-se completa com os dois. Embora ambos não soubessem a existência do outro.

Úrsula amava os músculos de Júlio, ele ficava bem sem camisa, não era inteligente. Certo, possuía lá a sua serventia, mas não era tão dotado quanto Marco. Ele tentava ser romântico, sendo um fiasco diversas vezes, e ela não gostava dessas investidas. Pensava: - Tenho, Marco, para me amar com palavras. E assim, Marco fazia – amava-lhe com palavras, com docilidade, toques amenos e cuidados, enquanto Júlio lhe desejava e possuía como um cachorro enraivecido. E ela gostava de ambos.

Marco que estava sentado em sua varanda, embriagando-se viu Helena, correndo da chuva. Estava ensopada e tentava-se abrigar debaixo de uma mangueira. Levantou-se então, e com um guarda-chuva trouxe-a até sua varanda e lhe ofereceu uma toalha para secar-se, os olhos azuis de Helena transbordavam, não por causa da chuva, mas por ter terminado com seu namorado que a esbofeteou, ela chorava rios. E ele lhe enxugou as lágrimas, lendo um de seus poemas. Ali, Helena e Marco apaixonaram-se, em meio a lágrimas e um doce soneto que Marco declamou. Úrsula – Pensou ele, tinha vaga memória deste nome.

A loja que Júlio trabalhava estava em liquidação, a movimentação era tremenda e a gerente da filial de Campos Belos visitou a loja. Ela era morena e tinha traços indígenas, uma beleza descomunal. A sua voz era imponente, mas doce. Ela derrubou, sem querer, as caixas que Júlio arrumava no estoque. E ao ajudá-lo a recolher, seus olhos cruzaram-se e penetraram-se por alguns longos minutos. Júlio, que era burro na visão de Úrsula, lembrou-se um livro escrito por José de Alencar e disse a moça: a virgem dos lábios de mel e de cabelos mais negros que a asa da graúna. Que coincidentemente, chamava-se Iracema. E eles se apaixonaram.

Úrsula procurou Marco, mas ele não atendia. Os seus telefonemas não eram atendidos, ele trocara a fechadura da porta, e suas janelas sempre estavam fechadas. Marco enviou-lhe um poema de Caio F. que lhe dizia: "Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, ERA SEU. " E a ênfase no final da frase, mostrou-lhe que tudo havia acabado. Úrsula chorou e desejou entregar-se a Júlio a fim de esquecer.

Então, Úrsula procurou Júlio, a loja continuava inflamada por causa dos descontos absurdos que a loja resolvera praticar. Vira algumas vendedoras, outros vendedores e encontrou Maria, amiga de Júlio que sempre lhes vigiava a porta na hora do almoço, nos seus encontros amorosos no estoque. Maria lhe dissera que Júlio havia sido transferido para a filial de Campos Belos e que lhe indicou um livro para que lesse: Iracema, de José de Alencar. E Úrsula achando que Júlio nem sabia ler.

Úrsula não sabia o que era choro há tempos, experimentara de tantos outros sentimentos, amor, paixão, felicidade, prazer, mas tristeza lhe era novo. Ela chorava enquanto andava desolada pelas ruas. E ao contrário de Júlio e Marco não encontrou ninguém que lhe enxugasse as lágrimas. Terminou sozinha.

domingo, dezembro 13, 2009

Não te amo;

“O meu comportamento egoísta, o seu temperamento difícil. Você me achava meio esquisito, e eu te achava tão chata.”
Há 8 anos nós estávamos sentados na sua varanda, ouvindo Relicário, eu cantava e você tentava. Devo confessar, meu bem, só te ouvia porque eu te amava. E lá estávamos nós discutindo sobre uma possível família, no futuro, onde teríamos alguns filhos e nada de animais, apesar de você relutar. E era tão engraçado e bom planejar o futuro contigo, desenhar a casa, pensar se nossos filhos teriam os teus olhos verdes, se as meninas teriam cabelos encaracolados como os meus. E você me cantava: “debaixo dos caracóis, dos teus cabelos.” E eu ria. A tua voz desafinada, mas com o carinho imenso. Você me era tão bonito.

E hoje eu lembrei de todas as nossas desavenças quando não éramos namorados, de levar bandão no futebol contigo, de você roubar sempre, de você me derrubar e dizer: você sem querer. E de saber que naquele futebol eu haveria de me apaixonar por você. E assim foi, tão recíproco no início, mas não tão sincero. De tua parte. E eu me entregava, me doava, e você aceitava apenas. Ciúme doentio o meu. E você me atazanava. E as nossas brigas eram tão constantes, mas logo se acalmava com um beijo, toque. Você era tão irresistível, que eu pensava: “U-A-U. O coração desse menino é meu.”

Mas as coisas foram mudando, éramos tão jovens, você não conseguia lidar com nosso relacionamento e com os teus amigos, eles eram todos solteiros e você me deixava esperando. A gente já não se amava tanto, e eu era dura. Maltratava-te demais. E você me apertava o braço com os olhos cheios, transbordando, dizendo que ia mudar, mas não mudava. Eu te quis tanto, quis que você fosse realmente meu marido como a gente pensava, mas você não mudava. Não mudava.

E sexta eu te vi, com o mesmo sorriso menino de antigamente, jeito malandro de ser. Você me abraçou e disse que eu estava como você se lembrava, que meu cheiro era o mesmo:doce, e que tinha saudades de mim. Eu ri. E não quis pensar em nossas brigas, nas horas que você me fez chorar, pelos 5 anos que eu sofri calada esperando pelo reencontro, por voltarmos depois desses 5 anos e eu dizer: “acho que não gosto mais de você, era só sentimento de posse.” E te doer com isso. Eu quis simplesmente te abraçar, sabe? Continuar dançando com você ali. Porque eu amei você, você me feliz. E acredito que a gente deu certo, que foi bom. Acabou, mas você ainda vive em mim. Sabe?

Eu te amo. Mas amor diferente, não mais aquele que a gente sonhava. Aquele que eu te quero bem, pela eternidade.

sexta-feira, dezembro 11, 2009

Não há memória;

Não há memória, nem mesmo vaga, de quando as coisas começaram a mudar. É simples. Gostoso. Assim como deliciar-se com algodão doce. Algo tão natural que cresceu como aquele grão de feijão que é jogado no quintal úmido e vai brotando, nasceu sem ser regado. Sem pretensão alguma. E enroscou-se em mim como costumam fazer as lianas em busca, talvez, de afeto. E enquanto eu olho todas as coisas insanas que já escrevi pra ti, e sem coragem alguma, de postar ou te enviar eu me deparo com tantas possibilidades e palavras não ditas, de silêncios muitos. E então, aquele montinho de frases soltas, desconexas e folhas amassadas começam a fazer sentido: eu me apaixonei por você. Embora a vontade aperte muitas vezes cá dentro, eu me calo.

Não te escrevi mil cartas, mas creio que me aproximo dessa contagem a cada dia, elas vão se amontoando dentro de meu computador em uma pasta chamada: Dele. Que ironia, não? Se realmente fosse tudo teu, tu terias acesso a todas as minhas doces, algumas ásperas e tristes, palavras. E eu te leio a cada página de Caio F. Abreu, da mesma forma, que te leio em Vinícius de Moraes. E cada linha, imagino-me escrevendo tantos amores, que nem cabem dentro de mim.

É assustador. Ver-te em cada amanhecer, no sorriso das pessoas, nas estações do ano, no ar, no frio e em tudo que a vida me proporciona. É estranho. Não ter as rédeas e saber que os meus sentimentos me dominam a cada dia. E eu vou gostando cada vez mais das tuas palavras, e fico me perguntando se você é realmente aquilo que vejo, ou se é somente a projeção daquilo que sinto, entende? É-me absurdo te ver em todas as coisas que admiro e gosto. E se eu deixar de gostar delas? Deixarei de gostar de você também? E então, o amor seria apenas isso te enxergar nas coisas e quando não mais te visse deixaria de gostar? Desamar?

E eu perco nessa incerteza que me consome aos poucos. Essa que eu insisto em cultivar, mas se você soubesse como eu me sinto. E não, minhas palavras não são bonitas assim para ‘embonitar’ o texto, tão pouco acho isso. É apenas forma de expressão que busco, refúgio. Querendo amenizar o que está empurrando todas as janelas, derrubando paredes e esse telhado dentro de mim. E sabe, bonito, eu espero que as coisas melhorem para mim. Não entendo a forma que isso se fará, só espero pacientemente que dentro de mim os sentimentos se aquietem. E que essas borboletas que insistem em debater-se dentro do estômago amansem.

É, eu disse que não falaria mais sobre você aqui, mas se eu não falar enlouqueço. Sim, hoje eu transbordei. Quis transbordar.

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Só não se perca de mim;

“But listen to your heart before you tell him goodbye, sometimes you wonder if this fight is worthwhile.”

Listen to your heart - ROXETTE.



A água fria do chuveiro não me incomodava nem um pouco. Apesar de eu reclamar todos os dias com meu pai que eu vou passar a tomar banho realmente só aos sábados, eu não sentia aqueles cubos de gelo (rs) caindo sobre a minha pele porque eu cantava Listen to your heart e analisava a letra. Fiquei pensando se eu realmente ouvisse o meu coração, eu ligaria para você agora, me declararia, lhe roubaria milhares de rosas vermelhas, te agarraria. E se de fato eu realmente luto para que haja uma história entre nós, compreende?

E você me veio às 21h de um dia qualquer. O dia eu não recordo, mas foi em Maio, e desde então esse mês será o meu favorito. E eu lembro do filme Doce Novembro, sabe? Eu não gosto dele. Não mesmo. Apesar de escrever romance, não gosto de filmes do gênero. Estranho, né? Mas eu pensei somente que a história de relacionar um mês a uma pessoa seria bonito, poético, entende? Coisa minha, você sabe. Então assim que Maio chegar todos os meus dias, pensamentos, suspiros e aspirações serão todos voltados para ti.

E então, eu fico pensando – ando pensando demais – que eu não esperava por você e vice-versa. E que as minhas lembranças são bem vagas, de quando não existia você, daquele tempo que éramos desconhecidos e insuspeitados um pelo outro. Esse tempo sem você eu quase não lembro. É como se as minhas memórias tivessem sido apagadas por completo. E à noite, exatamente na madrugada, eu acordo espantada e me pergunto até onde nós mergulharemos nisso que construímos todos os dias. E eu me pergunto se você me ama assim como eu te amo, sabe? E não se assuste com isso. Não é amor de amante, namorado ou coisa parecida, é amor que protege, que não machuca, que quer bem, que espera saber notícias do outro, que implica porque quer o melhor, que ama sem interesse. E eu fico pensando, será que a gente se ama? Será que algum dia nós vamos nos machucar? E eu estremeço.

E eu estava olhando nas mensagens do meu celular. E o menino que me manda torpedos em algumas noites, com palavras melosas, doces e fáceis, nada toca o meu coração. Porque mesmo que eu quisesse não há espaço para ninguém além de você. E por não fazer sentido tudo aquilo, eu fui apagando-as, desejando que fossem suas para que pudessem permanecer ali. E eu as guardaria como tudo que conversamos. Mas não eram.
E hoje eu estou aqui pensando – como sempre penso – que não quero que nossas vidas se percam. Que eu encontre vazio. Eu te quero tanto em minha vida, sabe? Por te amar assim, também, como se ama um amigo.

Meu coração é tão seu.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Noites de um verão qualquer;

"A paixão pode ser avassaladora. Muitos amores começam logo os gatos saem a noite, e acabam-se com o canto do cotovia. Postagem coletiva de amigos."

22:35 pm

A luz neon escondia o seu rosto, mas não o bastante para Johnny não notá-la. Lá estava ela, talvez a mulher mais bela de toda a pista, todos os olhares voltados para ela. Sua expressão era dura, inacessível. Mas ela não o conhecia, pensava ele.
Aproximou-se rompendo a barreira que ela mesma impora aos demais. Vários olhares foram de encontro aos dois, ele apenas segurou-lhe a cintura olhando-lhe os olhos e não foi necessário uma palavra sequer. Os olhos trataram de falar o que o corpo desejava. Sussurrava-lhe palavras doces, elas escorriam-lhe fáceis como o mel derramado de um pote. E ela não se moveu. Continuou lá sendo levada pelo ritmo quente, que os envolvera. Salsa. E a voz doce do rapaz que lhe falava ao ouvido: caliente. O rapaz lançou-lhe um olhar hipnótico e perguntou-lhe seu nome, tampouco seu nome lhe interessava naquele momento, não sabia sequer se estava acordada. Permanecia em estado letárgico. Ele era tão, tão – e tentava encontrar um adjetivo para definir o que ele era.

03:40 am

A luz não era mais neon, tão pouco clara. Tudo era escuro, opaco. Não sabia ao certo como todas as pequenas luzes haviam desaparecido. Alguns degraus atrapalhavam-lhes a subida, não estavam embriagados, embora quem os visse acreditasse piamente. Sapatos foram deixados na sala de estar, e tantos outros acessórios que demonstravam a paixão iminente naquela casa.
- Beatriz....- A sua voz soou sôfrega, e ela repetiu mais algumas vezes. Esse era seu nome. E ele simplesmente olhou em seus olhos, e disse: - Johnny, às suas ordens.
Deleitaram-se, amaram-se tanto quanto puderam. Ela não conseguia organizar as suas ideias, somente sentia que não era normal tanto desejo, estava em ebulição. Gostava daquilo. Encaixava-se tão perfeitamente como se tivessem sido feitos sobe medida, suas mãos, bocas, entrelaçadas ali.
Beatriz com certeza havia encontrado um amante, o melhor homem que ela conhecera em suas vidas, e sim. Ele era real, não havia lhe tentado com versos ensaiados, fora necessário apenas o toque. Sim. Caliente como ele havia pronunciado, ele era quente.

06:45 am

O despertador tocara ensurdecendo-a. Mas, Beatriz continuou com os olhos fechados, milhares de imagens passavam-lhe pela cabeça, ele com os braços envoltos em sua cintura na pista de dança, as suas mãos segurando-lhe com força enquanto tentava abrir a porta de sua casa, e finalmente os ombros nus sobre a sua pele seminua. Sussurrando-lhe mil desejos e vontades, e lembrava-se de cada gesto, toque, movimento.
Decidiu então, abrir os olhos e posou a mão sobre o lado esquerdo da cama, estava vazia, desarrumada apenas. Levantou-se de súbito, os olhos negros reclamando algo, como se alguém a tivesse roubado. Não havia sinal dele, as roupas já não estavam mais espalhadas pelo chão. E Beatriz chorou um mar inteiro.

Nunca havia vivido uma noite de verão.


Desafio coletivo "Uma noite de verão".
Outros amores de Alan Félix, Andrey Brugger,
Quer participar? Escreva e nos avise.

terça-feira, dezembro 08, 2009

Valia a pena - final.

Andava pelos corredores da Unb angustiado, sua cabeça fervilhava, zilhões de pensamentos e dúvidas. Em cada face feminina tentava enxergar o rosto da moça, andava muito inquieto. Agora isso vinha refletindo em sua rotina, não prestava atenção na aula, vivia mergulhado na inércia. Abria todos os dias o bendito Icq e nada, nenhuma mensagem, isso o entristecia.

Parou em frente ao espelho e viu seus olhos tristes e fundos, não entendia como alguém que não o conhecia tinha tanta influência assim na sua vida. Nunca ninguém havia se preocupado com ele, sentiu-se importante e ao mesmo tempo acuado. Imaginou que poderia ser algum trote, afinal era comum os nerds da escola serem zoados.

Em seus 19 anos de vida não havia desobedecido a mãe, entrado em qualquer confusão. Nunca havia se arriscado e pensou que essa seria a chance de quebrar a rotina. Encheu-se de coragem e destemido sentou-se em frente ao computador. Imaginou versos e poesias para escrever, mas como não a conhecia resolveu apenas cumprimentá-la.

“Moça quero ver o seu sorriso, posso?”

Quando viu já havia enviado. Será que se precipitou demais? Não havia mais jeito de voltar. Esperou por algumas horas e nada de resposta, infelizmente dessa vez ela não estava offline. Desligou o computador e foi dar uma volta na rua, quando abriu a porta teve uma grande surpresa: havia uma rosa salmon e um bilhete que dizia:

“Verás o meu sorriso domingo no Teatro Nacional, sala Villa-Lobos às 20:30″.

Não acreditou no que acabara de ler. Inacreditável, exclamou! Nunca havia recebido um bilhete, ou qualquer coisa com tanta significância. Tremia de emoção, não sabia o que fazer, gritou para explodir toda a emoção que estava aprisionada no peito. Pensou: será um encontro? Meu Deus eu tenho um encontro!

A ansiedade tomou conta de sua vida durante todo o resto da semana, todo o dia pensava na tal moça misteriosa e em seu “encontro”. Ouviu comentários que haveria uma apresentação de um musical, então dois dias antes do combinado recebeu por correio o convite, melhor lugar. Alugou então uma roupa de gala, apesar de se achar muito careta, mas o pai havia avisado que lá estariam as pessoas mais baladas e ricas de Brasília a nata da sociedade. Arrumou-se comprou um buquê de rosas salmon e dirigiu-se ao local.

Chegando ao local sentiu-se deslocado. Sentou-se e ficou esperando sinal de vida da moça, imaginava que em algum momento ela sentiria ao seu lado. Esperou, esperou e quando de repente uma senhora e um rapaz sentaram ao seu lado, ficou triste e imaginou que havia sido esquecido. Levantou-se para ir embora, mas hesitou, pois as luzes desligaram. O espetáculo iria começar!

As cortinas abriram-se e de repente alguns jovens entraram encenando a peça Romeu e Julieta. Eles cantavam e emocionavam o público que não se continham e ia às lágrimas. Ele nunca havia visto algo tão belo em toda a sua vida, nunca havia visto uma moça tão bela também, parecia um anjo, uma santa. Ela segurava uma rosa salmon em sua mão direita enquanto cantava e em um momento de interação com o público ela jogou a rosa em sua direção.
Arregalou os olhos e não pode acreditar. Estava sonhando, pensou.
Enquanto ela cantava, ele viajava em doces devaneios. A voz tão angelical, parecia niná-lo. A cada ato seu coração anseiava pelo encontro, quando estaria frente a frente.
Ao fim da peça, enquanto todos a rodeavam cumprimentando-a pela bela atuação, ele observava de longe. E os olhos da moça fitavam-no com receio e ao mesmo tempo desejo. Desejo de falar com ele, de apresentar-se.

Finalmente ele decidiu aproximar-se e ela não pode dizer outra coisa a não ser:

“Beije-me!”


O primeiro beijo de suas vidas. O que ele havia guardado para a mulher de sua vida.
Apaixonou-se pela santidade da moça, pelo jeito recatado de ser e pelo sorriso envergonhado que lhe falava milhões de desejos.
Escrito aos 16 anos.

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Valia a pena - Parte I.

Tão estranho era aquele sujeito. Parecia até que vivia em um mundo diferente, um lugar inacessível a outras pessoas. Não conversava com ninguém, evitava ao máximo contato com as pessoas que o cercavam. Na escola era calado, ficava em seu ‘mundinho’, parecia não se importar com os colegas.

O rapaz cresceu e passou em 1º lugar no vestibular da Universidade de Brasília. Para ele isso não era grande coisa, já que ele mesmo dizia ter estudado tanto tempo para isso. Todos o achavam estranho, afinal estavam no 4º semestre de psicologia e nada de aproximações. Nada de trabalho em grupo, era fechado mesmo. A vida fora da universidade não era muito diferente ele se limitava apenas a dizer ‘oi’ e ‘tchau’.

Traumas na infância? Talvez, mas como saber se ele não falava com ninguém? Tímido não era, tinha uma facilidade imensa em se expressar quando necessário. Um amor talvez seria o ideal para livrá-lo da solidão, mas como encontrar alguém sem sair de casa?

Mas todos nós estamos predestinados a encontrar alguém, ele também teria uma paixão a sua espera.

Certa noite chegou em casa depois de horas na biblioteca lendo mangás, isso mesmo, mangás. O rapaz não era tão velho, ainda era moço, tinha apenas 19 anos. Olhou para o computador e decidiu ligá-lo. Abriu seu e-mail e viu que recebera uma mensagem que dizia o seguinte:

“Sempre quis me aproximar de você, mas tinha receio. Então resolvi mandar-lhe esse e-mail, se quiser conversar comigo estarei no icq. Meu uin é ‘xxxxxxx’.”

Pensou quem seria essa moça que por ele havia se interessado. Ninguém em mente. Fechou o e-mail e desligou o computador, porém, aquilo não o deixava dormir. Pela primeira vez alguma coisa o perturbava, então depois de muito relutar decidiu ligar novamente o computador. Não tinha icq, pois não tinha amigos e usava o e-mail somente para saber as novidades de seus mangás, filmes e livros preferidos. Entrou na página do icq e fez uma identidade para ele, pegou o número da moça e a adicionou. Ela não estava on-line, esperou por mais algumas minutos, horas talvez e desligou. Do outro lado da cidade lá estava ela em modo invisível se lamentando por não ter falado com o rapaz que tanto lhe despertava desejos e até mesmo compaixão. Escreveu a ele off-line:

“Mas uma vez meu medo me impediu de chegar até você.
Não entendo o porquê de não ter me aproximado, já que você se mostrou interessado em saber quem sou.
Sinto muito”


No outro dia ele leu e ficou pensando se deveria ou não responder. Alimentar esperanças não fazia sentido, afinal não a conhecia e tinha dúvidas se queria ou não saber realmente quem ela era. Mas ele precisava acabar com aquela incerteza que o estava incomodando há dias. Respondeu então e para sua surpresa esta respondeu saindo do modo invisível.

Conversaram por horas e aquela moça, pela primeira vez em sua vida, despertou algo que estava adormecido: uma paixão. Foram meses teclando, ele já sabia todas as manias e gostos da moça. Estava até mais solto, mais alegre. Sabia que ela estudava na mesma universidade, mas nunca falaram em se conhecer, talvez perdesse o encanto depois disso. Ele pensava que se ela o conhecesse realmente não iria querer continuar a teclar com ele, levando assim a única coisa boa que ele conquistou em seus 19 anos de vida.

Escrito aos 16 anos.
Continua.

Ps: Post da Fê para mim. Leiam. Amo-te, gata!

sábado, dezembro 05, 2009

Romeu & Julieta.

Eu sabia que nossos nomes eram associados escondido. E eu me deliciava com a hipótese de pertencermos de fato um ao outro. E você me alegrava com os teus poemas explícitos, com a tua gargalhada alta e gostosa e com todos os seus devaneios e assuntos que não condiziam com a nossa realidade.

Tu gostavas de falar de política para me irritar, ensaiava piadas para alegrar-me e eu sorria abertamente. Tu desenhavas o meu melhor sorriso, sem saber que não era necessárias falácias, pois tudo o que havia dentro de mim já era teu.

E eu, moça bonita, lia aquele romance que tu insistias em decorar as falas. Dizendo-me, que maior amor não houvera no mundo. Romeu e Julieta tiveram apenas um flerte, querida. Se tu soubesses o que há dentro de mim para ti, teria plena convicção disso que te afirmo. E hoje, tenho plena certeza disso que te falo: eu te amo. E os meus lábios desejam os teus como o orvalho se entrega ao amanhecer, às folhas, as flores silvestres. E os meus braços te esperam como se soubessem que o teu corpo se encaixaria perfeitamente em meu abraço.

Mas, amada, o telefone insiste em chamar. A tua voz do outro lado diz apenas que devo deixar um recado após o Bip, e minha respiração ofegante não deixa que eu inicie qualquer frase. Meu coração sempre fora teu, amor. Embora, não estivesse claro em mim e então eu deixei você partir.

Eu sei que já é madrugada, que o teu telefone insiste em tocar. Atenda. Imploro-te. A tua janela está acessa, eu te vejo a silhueta daqui, por que insistes em dar voltas e voltas em teu apartamento? Basta arrancar do gancho e não ensurdecerá. Tudo bem, amor. Amanhã será um novo dia, ligo para você de outro telefone que não reconheça o número. Sim, não vou desistir de você.
"Para Poliane Marques que riu
de meu choro desesperador ao assistir
Romeu & Julieta aos 16 anos."

sexta-feira, dezembro 04, 2009

O cravo e a rosa.

Bernardo não era o tipo de Clarisse. E tudo o que ele queria mesmo era conquistar o coração dela. Ela, por sua vez, o ignorava. Achava-o mal-educado e que seus modos não condiziam com um rapaz da sua idade. – Grosseiro. Ela repetia.

E todos os dias enquanto Clarisse se dirigia a escola no centro da cidade, Bernardo a acompanhava de bicicleta, lhe oferecia carona, ela dizia que não podia amassar sua roupa, pedia para levar seus livros e ela rejeitava dizendo que não eram pesados. Clarisse sequer lhe estendia o olhar, talvez nunca tivesse visto de fato o seu rosto, seu olhar piedoso e cheio de amor. Ela nunca lhe dera uma chance.

E os dias seguiam calmamente. Clarisse já esperava ser acompanhada por Bernardo até a escola, mesmo que não lhe devotasse qualquer sentimento, ela sentia-se segura. Talvez, Bernardo tivesse conquistado um pedaço de seu coração, afeto ou algo do tipo. Mas ainda assim, Clarisse desconhecia.

E então, numa sexta-feira dessas bem claras, o sol estava quente, e as flores tão vivas. Clarisse nunca se esquecera daquela primavera. O dia convidava-a a alegria, dançar, e ela assim como a manhã vestiu-se de primavera. E decidiu que aquele dia seus olhos encontrariam os de Bernardo pela primeira vez, esperou alguns minutos e saiu de casa. Pelo mesmo caminho que costumava ser seguida por seu pretendente, mas ele não apareceu.

Entristeceu-se. Imaginou que ele havia dormido demais, tinha perdido o horário, talvez o encontrasse na saída. E assim esperou, contando os segundos juntamente com o relógio que estava pendurado no centro da classe, primeiro, segundo, quinto período e o sinal finalmente tocou. Saiu desesperada e enquanto andava, olhou alguém muito familiar. Estava encostado em uma motocicleta, e os braços envoltos em uma moça vestida de rosa. Era linda, e seu cheiro era tão adocicado e gostoso que ela pôde sentir de longe.

Ainda assim, sua cabeça em Bernardo, fervilhava. Onde estaria o menino? E quando passou perto do casal. Uma voz cantou seu nome:

- Clarisse, belo vestido.

O rapaz encostado na moto sorriu-lhe amigavelmente. Era Bernardo, reconheceu somente pela voz, pois seus olhos nunca haviam encontrado a sua face anteriormente.
E nesse dia, Clarisse viu que ela que não era o tipo de Bernardo, mas porque ela desejou assim.

Para a bonita da Maria Fernanda que me inspirou o texto.

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Silêncio eterno.

Eu olhava da sacada todas aquelas luzinhas que insistiam em vestir-se de estrelas. Era madrugada, bonito. E eu estava lá, sentada naquela varanda com milhares de folhas e canetas sobre a mesa, e uma caixa de madeira onde eu guardava tudo o que escrevia para ti. Algumas folhas denunciavam a sua idade, o tempo deixado lá, estavam amarelecidas. Fazia frio, mas as minhas pernas brancas estavam descobertas, sim. O frio doía mais dentro de mim, do que qualquer parte do meu corpo. Como eu odiava a cor das minhas pernas, mas não faz sentido falar disso agora, não é mesmo? Eu atentava para todas as coisas ao meu redor, até o que não tinha importância. Eu só desejava que não latejasse tanto.

Eu imaginava as vidas que aquelas luzinhas iluminavam. É, as luzinhas que te disse no início, lembra? Não prestou atenção no que eu disse. Tudo bem, já me acostumei a isso. Então, elas estão vestidas de estrelas, mas não podem alcançar o céu, o máximo três ou quatro metros de altura. Não sei se estou certa, nunca gostei de pesos e medidas também, então certamente errei quanto a isso. Desculpe. Eu nunca acerto.

Mas uma vez é tudo sem sentido o que eu te digo, mas olhe, essa é a última vez. Eu prometo. Eu não falarei mais sobre você, nem implicitamente, embora você esteja tão intrínseco a mim. Não quero te aborrecer nunca. E isso não se diz respeito a minha segurança, e sim a nossa. Eu não quero te perder nunca, entende?
Só espero que entenda o meu silêncio eterno.

Eu desisti de mim mesma.
"Mas, te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem
Eu só quero que você caiba no meu colo
Porque eu te adoro cada vez mais".

quarta-feira, dezembro 02, 2009

O muito amado – e a que muito ama.

Ele entrou na sala larga e iluminada, seus passos eram lentos, porém bem calculados. Observava a que o amava sentada lá, numa poltrona de couro marrom com as mãos sobre as coxas e os olhos vagos em direção a janela fumê. O céu estava nublado e não havia sinais de raios solares, claro – não havia nenhuma fresta ou sequer espaço que coubesse luz ali.

Virou-se para ela. Ela lhe fugia o olhar. Ajoelhou-se e a encarou nos olhos. Mesmo que tentasse uma fuga, seus braços estavam envoltos em seus joelhos. - Não ela não sairia dali. Ele pensava. A não ser que esperneasse bastante, mas sabia que tinha mais força que ela.

- E então, como estamos? – O muito amado perguntava a ela. Só queria que lhe fosse mais clara, nada de entrelinhas. Ele desejava apenas ouvir, mas os seus lábios estavam tão cerrados, como se ela os tivesse zipado.

Ela permaneceu como estava apenas com um vinco enorme na testa e suas sobrancelhas contrariadas. Ela não abriu a boca, a não ser para respirar. Faltava-lhe ar naquele momento.
E ele insistiu. Sem sucesso, claro.

- Feche esse livro, por favor. Olhe. Seria bem mais fácil se você me ajudasse a ler todas essas imagens que insistes em pintar em nós. Não me olhe assim, menina. É tão complicado dizer o que sente por mim?

A sua expressão mudou. Agora ela parecia triste, e os seus olhos inundaram. Ela apertou-lhe as mãos e disse:

- Até onde é permitido andarmos juntos? É só isso que preciso saber antes de lhe falar qualquer coisa, entende? Não. Sei que não compreendes, e eu jamais diria a você como me sinto se não tivesse certeza que houvesse possibilidades ou se estaríamos dispostos a penetrar naquilo que desconhecemos. Sabe? E então, é isso. Eu te quero perto para sempre – o meu para sempre se aplica ao agora – mas sabe que amanhã eu continuarei a mesma com você.

E ela lançou as suas mãos longe das dela. Esquivando-se como sempre fizera. E chorou piedosamente.

- A gente só sabe o limite, menina. Se dermos os primeiros passos. E então. É difícil demais dizer o que há aí dentro.

- Se eu lhe disser o que há aqui dentro, tudo mudará em nós. Não me olhe assim, por favor. Não, devolva-me o livro. E não, esse personagem não é melhor que você, sim o teu sorriso me é mais gostoso.

Inspirado no comentário de Natália Corrêa.

terça-feira, dezembro 01, 2009

Eucaliptos;

O céu estava bem claro, o sol latente sobre a cabeça dos transeuntes e eu divagava em milhares de sensações presentes em mim. O ônibus deslizava rapidamente pela rodovia, eu lia – como de costume – um livro de meu autor preferido que me faz pensar em você. Sim. Talvez por ele ser tão inconstante, medroso e por falar de amor apenas em letras. Assim como eu o faço.

E então eu avistei ao longe uma fileira indiana de eucaliptos, e me dei conta de que eu penso em você todas as vezes que eu os olho. Não. Você não parece um eucalipto – me escute. É que quando eu era criança achava-os tão majestosos, imponentes e costumava deitar sob a sua sombra, achava uma delícia, amava aquela sensação. A mesma que sinto quando eu penso em você, sabe?

Então, eu fiquei imaginando o que você pensa quando os vê também. Sim. No caminho de sua casa. Você já observou que fazemos a mesma trajetória em direção a nossas casas? Exceto por você ir para outra direção, entrar em outra curva. Assim, como acontece com a gente. Sempre caminhamos em direções opostas, infelizmente. Queria saber se será sempre assim, se não mudará. Você poderia me responder?

Olhe pra mim, por favor. Seus pés são mais interessantes do que o meu rosto? Tudo bem. Não precisa olhar para mim - Pare. Não enxugue as minhas lágrimas, eu gosto dela. Do sabor delas. Elas me dizem que você é real em mim. Então não as tire de mim, por favor.

Sabe, essas coisas que tento te dizer não se dizem costumeiramente. E eu reconheço que vivo falando por metáforas, mas você não me ajuda também. Essas analogias que eu crio para te levar a entender o que se passa dentro de mim é chato. Eu sei. Mas me cale a próxima vez que eu tentar falar dessa forma, não sei. Encoste-me na parede. Não, não faça isso.

Tudo bem então. Esqueça tudo o que eu disse. Que tal falarmos de música, literatura – tudo bem sei que não gosta dos meus livros, mas podemos falar sobre O grande sertão veredas. Ta, confesso, eu não li. Mas você podia fazer uma resenha pra mim, né? Eu só escutaria. Sabia que Plutão deixou de ser planeta? É, verdade. Já tem quase um ano.

Só me fale alguma besteira, para romper esse silêncio em nós.