quarta-feira, fevereiro 17, 2016

Eu aprendi a me amar em você.


Eu aprendi a amar o seu jeito, seu modo de ver a vida, os seus sonhos. E isso foi tão involuntário. Tão natural, eu diria, como inspirar e respirar. Eu aprendi a me amar em seus olhos, nas suas palavras doces, em sua voz imponente, em sua obstinação em abraçar a vida e conhecer o mundo. Eu me vi uma pequena aventureira ao adentrar seus cômodos, ao deixar a minha mala sobre a sua cama e, aos poucos, tomar meu espaço em seu guarda-roupa.

Eu aprendi a enxergar a vida de uma nova forma, me vi cheia de sonhos – eu descobri que podia sonhar –, eu me vi com asas dando rasantes no céu e enxerguei, ainda, constelações inimagináveis em sua retina. Eu amo cada milímetro teu e, confessamente, eu digo que amarei até os espaços empoeirados, escondidos, que ainda não conheço de ti.

O amor é uma doce loucura e me vi colocando, por livre espontânea vontade, uma camisa de força tecida de flores silvestres e ramos de margaridas. Irônico é ter que se perder para se encontrar, e eu me encontro. Eu me deparo, cada dia mais, em tuas palavras bonitas, em teus carinhos sinceros, teus gestos que me desconcertam, acalmam e me pergunto se a vida sempre foi bonita assim. Se ela sempre foi tão precisa e cheia de cor.

Eu aprendi a abrir a janela do coração, aprendi a amar a luz do Sol e apreciar o quentinho que ele nos causa na pele. Eu aprendi a amar a cor de meus cabelos e minha forma de olhar. Tudo isso porque os teus olhos hoje me parecem o espelho mais sincero que existe. Eu aprendi a colher margaridas em teus ombros, a beijar teu coração com meus lábios e amar o teu modo de respirar a vida. Eu desconfio que aprendi a viver – novamente – a vida como alguém que há anos esteve aprisionado em uma torre. Eu me vi Rapunzel, meu bem, apesar de ter cabelos curtos.


Eu aprendi a te (me) amar.

quinta-feira, fevereiro 11, 2016

Amar é construção




"O verdadeiro amor é amar e deixar-me amar".
Papa Francisco. 
Todos sonhamos com um modelo ideal de família, estilo comercial de margarina, mas pouco buscamos compreender o verdadeiro sentido dessa construção. O amor é um edifício que deve ser construído diariamente, tijolo por tijolo, e em equipe. É na oração que encontramos o sustentáculo para as nossas relações, assim como uma casa necessita de uma base sólida para se manter em pé, do mesmo modo a vida a dois necessita desse suporte.

Em nossas orações pedimos a Deus que nos conceda um companheiro para a vida inteira. No entanto, nem sempre preparamos os nossos corações para recebê-los. A nossa vida, ainda comparada a uma casa, deve estar organizada, sem entulhos, os cômodos devem estar ventilados, a varanda limpa e clara para acolher aqueles que morarão – em definitivo – em nossas vidas.

Preparar nosso interior é o modo mais exato de se atrair o amor. Podemos orar ao Senhor incansavelmente, mas é necessário que haja em nós uma contrapartida. Que nós nos movimentemos. Dar passos em direção a felicidade também depende de nós e para que isso aconteça é necessário que descubramos a nossa essência, que compreendamos que apesar de desejarmos – com tanto ardor – construirmos uma família, ela só será formada no tempo certo.

“O amor é para os que esperam e distraídos esbarram nele” – Repita isso sempre que necessário. Vivemos em uma sociedade imediatista, onde todos as coisas devem acontecer instantaneamente. Permita-se em uma era tão digital vivenciar o analógico, dê ao seu coração a oportunidade de aguardar as demoras do Senhor. Abrace o versículo, em Hebreus, que diz: “A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê”.

O coração do homem é terreno arenoso, desconhecido por muitos – até por ele mesmo – mas é a maior fonte de vida feita pelo Criador. A construção de uma família, o nosso encontro com aquele que será uma só carne conosco, acontece antes mesmo do primeiro olhar. Ele nasce no seio do Pai. Portanto, por mais que os dias passem devagar, que o desejo sufoque o nosso entendimento e o nosso coração seja massacrado pelas perguntas do mundo, dê a Deus a rédeas de seus caminhos, dê a Ele a chance, a oportunidade, d’Ele ser realmente o Deus de sua vida.

Fotografia: Théo Gosselin.

quarta-feira, fevereiro 10, 2016

Meus dias são sempre como uma véspera de partida.


Meus dias são sempre como uma véspera de partida.
Caio Fernando Abreu

Tenho aprendido a silenciar as minhas vontades para dar espaço aos planos que Deus tem para mim. É doloroso ter que pegar pela mão a criança birrenta que há em nós e sentá-la, quase de castigo, para que ela possa escutar e ser educada. Os dias seguem opacos e desprovidos de luz. É como se alguém houvesse coberto o sol com uma malha grossa e preta. Ou, até mesmo, aprisionado dentro de uma solitária impedindo-o de brilhar até mesmo pelas frestas.

Meu coração está adormecido e, infelizmente, não consigo diagnosticar se isso é bom ou ruim. Eu nunca fui dada à ciência do corpo humano, sempre tive vertigem ao pensar em órgãos, mas queria entender um pouco de medicina para compreender o que há dentro de mim agora. Ou quem sabe psicologia. Ou quem sabe curandeirismo. Os dias seguem normais, mas não uma normalidade boa – é algo preocupante. Às vezes me pego pensando que há calmaria demais, mas, em alguns momentos, eu me vejo como um prisioneiro de guerra sob tortura. Meus pensamentos me maltratam, vez ou outra, como uma gota de água que insiste em pingar de uma torneira. É um barulho/silêncio que ensurdece.

Tenho aprendido a confiar nos desígnios de Deus, mas assim como Tomé eu tenho vacilado. Fraquejado demais. A minha mente diz que está tudo certo, que a vida tem que seguir seu caminho natural, que o percurso e as rédeas são d’Ele, mas – ao mesmo tempo, ele tem pedido para que eu lute, de alguma forma, e tente agarrar aquilo que por um minuto acreditei ser meu. Há um embaraço tão grande dentro de mim, de meus pensamentos, de minhas quase ações. Tão confusa é essa dormência que existe aqui dentro e tão assustadora – ao mesmo tempo – é esse desejo de sair gritando as minhas emoções aos quatro ventos.


O coração da gente tem que entender que a vida é passagem para algumas pessoas e morada para outras. E saber aceitar esse ir e vir de passos, mesmo que seja doloroso.

Imagem: Théo Gosselin.