sábado, janeiro 30, 2010

Para o Rodrigo,

Eu poderia falar sobre a amizade aqui, agora, mas acredito que há mais a ser explorado, então eu penso que cumplicidade é pouco para definir também, então decido falar sobre esse sentimento que insiste em morar em mim, em nós: a saudade. Doce, tu me veio num momento em que pensei em desistir de mim, dos meus ideais, da minha vida e tu com os teus telefonemas, com a tua atenção e com as tuas mensagens no msn me fizeram feliz. Sabe, Digão, alguns acordes não soam bem sem a tua voz, parece-me vazias as cifras, é como se todas as músicas necessitassem de ti para que estas estejam completa. E ocorre-me dizer isso hoje, porque hoje é teu dia, que por providência divina é tão nossa também.

Sabe, os dias realmente são preto-e-branco quando eu te penso, porque eu vejo como um filme antigo, de cenas amarelecidas as nossas conversas, os teus conselhos e o teu sorriso imenso. A tua voz que é doce, amigo. Que é paz e conforto para alma e eu penso - aqui no coração - que o teu lugar é tão aqui, que tu devias estar aqui conosco. O coração reclama tanto a tua presença, nós reclamamos mais ainda, mas sabes que mesmo longe tu moras em nossos corações. É como diz a canção: "se pela força da distância tu te ausentas, pelo poder que há na saudade voltarás." Nós que te amamos, sabemos que a distância não é nada, diante do mundaréu de sentimentos que guardamos dentro de nós. E sabe, moço da voz linda, do sorriso encantador e do jeito de moleque, a nossa vida é completa porque temos você.

Há pouco estávamos - teus amigos , nossos amigos e eu - conversando. E tu eras o centro das atenções, porque hoje é teu dia. E nós, partilhavamos das tuas peripécias e dos momentos que estivemos juntos e resumindo tudo. Tu és felicidade para todos nós, alegria e por hora saudade.
Mas sabe, que a tua presença em nós, costuma pintar essa saudade que insiste em se fazer cinza, dando a nós uma aquarela onde verde, amarelo e vermelho estão presentes. Nós te amamos, doce.
Acredito que posso falar pelos teus amigos da Família Orlando, Paulinho, Josué, Anselmo, Fernando e eu :D
Feliz aniversário Digão :)

sexta-feira, janeiro 29, 2010

Querida,

Ela estava sentada e eu observava o pequeno pingente que insistia em reluzir chamando minha atenção. Era o coração que havia dado a ela no início de nosso namoro, metade dele - lembrei que a outra metade estava guardada dentro da gaveta de minha cômoda, junto com todas as cartas que ela insistia em escrever-me e todas as lembranças do nosso namoro. Eu a fitava, inevitavelmente, porque além de observar o pingente que há muito - 4 anos - eu não via, eu olhava para os seus cabelos agora loiros. E por incrível que pareça eu gostei, queria falar isso para ela, mas até hoje ela me repele. Não aceita qualquer toque, sequer apertos de mão e isso me é justo.
Ela não me nota mais. E não sei o motivo disso me incomodar tanto, já que sou eu que estou namorando e ela continua solteira. Se depois que terminamos nunca a vi com outro rapaz, soube de namoros todos passageiros. Devo confessar que nunca torci para que ela arrumasse alguém que a fizesse feliz - não estou sendo egoísta - só não sei se aguento vê-la amando novamente alguém como ela me amou. Eu joguei tudo fora e hoje me contento com "ois" e "tchaus" e eu sei que ela me evitar olhar, porque se dependesse dela jamais falaria comigo. Isso dói.
Eu queria voltar no tempo e ter feito tudo diferente e dizer a ela que adorava quando ela me abraçava, quando me cheirava e quando beijava as minhas pálpebras dizendo que meus olhos eram pequenas estrelas. Sinto saudade dela pulando nas minhas costas e nós dois como loucos correndo naquele pátio enorme, das pessoas rindo e comentando nossa felicidade. E eu estou pensando tudo isso, porque ela simplesmente usou aquele pingente hoje, no dia que saberia que nos encontraríamos e a única reação que tive após vê-lo, foi aproximar-me, tocar o pingente e dizer.
- É lindo.
E ela com toda a sua indiferença, mas com um sorriso que ainda me arrancava mil suspiros disse:
- Quem me deu tinha bom gosto.
E eu, acredito, que não há mais nada de mim no coração daquela doidinha. Que me arrancava gargalhadas e vontades imensas de esmagar-lhe com um abraço de urso. Eu sei que eu nunca vou me esquecer as coisas que tivemos, Pam. Eu sei.
Do teu sempre (...)

quinta-feira, janeiro 28, 2010

4 de setembro de 2006.

Eu estava do outro lado da quadra quando a vi, aquele rosto não me era familiar e ainda assim prendeu a minha atenção de maneira peculiar. Ela tinha em suas mãos cadernos e usava uma calça jeans clara e uma rasteirinha, eu não vou me esquecer como ela estava, porque me apaixonei ali a primeira vista. Ela era pura poesia, dava para perceber, porque ela tinha os cabelos que Roberto Carlos cantava em debaixo dos caracóis e os lábios mais bem desenhados que os meus olhos já tiveram o prazer de ver. E eu timidamente aproximei-me dela que estava sentada naquele chão cantando com os olhos fechados e as mãos elevadas. E fingi esbarrar em seus cadernos que se esparramaram, ela olhou-me com seus olhos grandes e desculpou-se e eu ri somente, sentando a seu lado. Ela não afastou continuou sentada lá e eu apenas olhava para aqueles cabelos que eram negros e cheios, eles tinha o cheiro adocicado de baunilha, fazendo-me cócegas nas narinas. E eu pensei: ”como nunca vi essa menina por aqui.” E ela era puro sorriso nos lábios e tinha a voz mais doce que já experimentei ouvir, ela cantava com a banda e em seus olhos havia lágrimas, mas podia ver que eram de esperança e tinha certeza que caso encontrasse seus lábios teria gosto doce.

Ela não prestara atenção em mim, estava imersa em um sentimento que eu desconhecia. Ela era riso de orelha a orelha e levantando-se dançou alguns passinhos recém-coreografados por outras meninas e eu sonhei com ela ali. E quando tive a oportunidade de perguntar-lhe o nome descobri que ela tinha doce nele, ali no meio. Ela era doce desde a fala até os cabelos encaracolados. Ela me pegou pelo estômago e posso arriscar-me a dizer que pelo coração também. E eu quis saber mais sobre ela, o que ela fazia e descobri que cantava e gostava de poesias, que tinha fé e eu tive fé também. Fé em encontrá-la no dia seguinte, em poder ouvir novamente a sua voz aveludada, e ela me veio em sonhos. Eu não esqueci aquela moça e o seu nome era cantado em meus ouvidos suavemente. E assim que tivemos que ir a direções opostas perguntei se ela queria uma carona, desconfiada ela disse que seus amigos lhe deixariam em casa e ela foi. Deu-me um abraço que até agora posso sentir os seus braços frágeis envoltos nos meus, ela tão pequena e eu brutamontes perto dela. E essa noite eu sonhei com ela. Ansiando que ela me fosse presente de aniversário no dia seguinte. Sim, encontrei a moça que me deu o setembro mais inesquecível de minha vida um dia antes de meu aniversário.

quarta-feira, janeiro 27, 2010

Apenas mais uma de amor.

O abajur aceso iluminava o livro que recém havia adquirido e em minha mente fervilhava milhares de pensamentos. Eu desejava ser a personagem daquele livro, porque tudo que é escrito é mais bonito, as pessoas "embonitam" os sentimentos de tal modo que é impossível não desejar vivê-los. E então, eu te sonhei, ali com o livro na mão, exatamente na página 21.

Quando li que: "e eles sabiam exatamente o que sentiam, não era necessário nada além de palavras e silêncios muitos." Eu suspirei. Porque eu sabia que o que eu sentia era só meu, que ninguém poderia destruí-lo e que as tuas palavras que me é conforto são tão minhas, que tu não podes - mesmo se quisesse - arrancá-las de mim. E eu ficava pensando até quando isso se faria em mim. Sabe, doce, você me veio com um propósito, o de me mostrar os caminhos, de sacudir-me quando necessário, de me fazer enxergar aquela bendita luz no final do túnel.

E você faz isso tão bem que eu me espanto, porque por vezes eu penso se tu não lê os meus pensamentos, porque eu penso em ti e tu me vens. Assim. Devargarzinho e me fazes, de todas as formas. E esses dias em que eu não consigo te pensar com tanta frequência por me doer. Eu tenho a necessidade de dizer que há em mim sentimento. Só que eu o desconheço por completo. É querer. Sabe eu nunca te pedi mais do que tu podias me dar, o que tu me ofereces me é suficiente, porque eu acredito que o "nosso" amor sempre será assim. Um completando o outro de diversas formas sem saber e se satisfazendo com isso. Eu me satisfaço.

E esses dias que tu me vieste como anjo eu descobri: que não importa o que teu coração pede no momento, não importa se nossos caminhos não sejam os mesmos, que não andemos de mãos dadas por aí. O que realmente importa é que nós fazemos bem, um ao outro. E isso sim é amar.

Ninguém precisa saber que a gente se completa em algum sentido. E tenho certeza, que esse sentimento eu não precisarei esquecer. Porque tu me é mais amigo que muitos por aí e mesmo que fique só para mim, tu sabes o que significa e o que é em minha vida.

Eu te quero bem.

(Se amanhã não for nada disso/ Caberá só a mim esquecer
(mas isso vai doer)/ O que eu ganho, o que eu perco/
Ninguém precisa saber.)

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Do silêncio.



Porque é necessário, por vezes, silenciar. Para dar espaço a novos sentimentos, organizar as ideias. Renovar. O coração pede calma, a razão quer calar e os outros sentidos não reagem muito bem. Deixo o meu silêncio - não eterno, mas o necessário para mim neste momento.
Eu só preciso de tempo. Para digerir, viver e quem sabe voltar a sorrir.

"Menos pela cicatriz deixada, uma feridantiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva."

Caio F.

Caso queiram me encontrar os contatos continuam os mesmos e estou respondendo com mais frequência no formspring.

sábado, janeiro 16, 2010

“Parece cocaína, mas é só tristeza.”

Eu poderia continuar sentada aqui olhando o vai e vem de transeuntes que insistem em correr da fina chuva que caí nesse céu triste e cinza de São Paulo. Mas a única coisa que desejo é um lugar para esconder-me destes olhos tão atentos que insistem em fitar-me condenando as minhas calças jeans sujas e este baby look que não tiro há três dias. Não sei, realmente, se é este lugar que me deixa melancolia ou está praça que tem nossos nomes escritos com corretivo no banco, a única coisa que sei é que dói. E isso é visível. Eu só queria saber quando os nossos passos começaram a andar em caminhos opostos, quando os nossos corações começaram a dançar descompassadamente. Desperdício.

Eu venho sonhando com o litoral e os dias conversando perto de uma fogueira. Do teu jeito doce de escrever S.O.S Apaixonado na areia. E parece que as coisas vão passando em um filme preto e branco, onde o tempo cuidou de apagar todas as cores, a fim de dizer que acabou. Quando não é preto, é sépia, tudo é envelhecido. E eu vejo a exatidão dessa tristeza e como os outros acham tão bonito, porque hoje doer é belo. É pura poesia aos olhos de alguns e eu, deveras, gostaria de ter uma vida menos fantasiosa, desprovida de poesia até por assim dizer, mas que fosse ao teu lado. E você me vem todas as noites apenas nos sonhos, desde que você foi embora encontro a perfeição somente de olhos fechados, o resto me é imperfeito por completo. É duro. E sem sabor.

Quem tem razão afinal de contas? Ninguém tem a medida certa de nada, não há como mensurar a bondade, a maldade, os amores, os desamores. E cá estou eu, seca, desiludida. Tentando não pesar tanto os sentimentos que resolveram fazer morada eterna dentro de mim. E sabe Lucas, desde aquele outono sem estrelas, de folhas muitas e vento abafado que os dias me são todos iguais. Como um caderno de folhas amareladas em que guardo cada capítulo que vivemos juntos até você morrer. Dói-me.

sexta-feira, janeiro 15, 2010

Hortênsias.

Lilás era a nova cor do pecado porque eu mergulhava nos olhos dela todas as noites. E sim, não eram azuis, eram lilases. Bionda tinha os cabelos loiros, quase brancos como uma folha de papel e os lábios em formato de coração com pigmentação vermelho escarlate. Suponho que descrevê-la é impossível, porque não há como mensurar tamanha beleza, talvez ela seja uma deusa, dessas que dizem serem existentes em mitologia grega ou talvez seja um anjo tão doce e perfeito são suas feições. Contudo, não me atrevo a descrever minuciosamente os seus traços, porque pecaria com a minha visão grosseira e nada poética. Mas, digo-te, Bionda tem o cheiro mais doce e convidativo que meu olfato já experimentou sentir.

Eu estava distraído não esperando absolutamente nada quando ela me veio. O céu pintava-se de pontinhos brilhantes que facilmente podiam ser ligados, tornando-se animais, objetos ou simplesmente palavras. Céu de estrelas muitas e luar minguante. A lua não era cheia, igual aquelas que poetas costumam descrever em seus poemas, era imperfeita. E por trazer a imperfeição aos meus olhos foi bem quista. Dizem que quando a esmola é demais o santo desconfia então me alegrei por tê-la conhecido em uma noite minguante. E lá estava eu andando de bicicleta naquela cidade provinciana, que me acostumara a gostar. Andando de um lado para outro quando eis que ela me surge do nada. Tão rapidamente que não houve tempo de desviar. Acidente. Alguns arranhões, pouco sangue e um sorriso ao invés de choro, de palavrões. Ela deixou-me mergulhar pela primeira vez em seu doce olhar. Entreguei-me.

Ela falava sobre astronomia, dizia que desejava viajar a via-láctea e que conseguia enxergar estrelas em meus olhos. Soou-me poético. E ela disse realmente que era poesia, que eu era todo. E eu a beijei. E os olhos dela permaneciam abertos enquanto me beijava e os meus encontravam hortênsias ali. Ela dizia que olhava meus cabelos desgrenhados e que desejava saber se eu gostava de seus beijos. Não era falsidade. E ela me beijava sempre assim e eu adorava. Porque ela me lia com os olhos lilases dela, parecia ler com seus olhos abertos o que eu desejaria que ela me fizesse. E sabe, que todos os dias quando encontro aqueles olhos de hortênsias desejo piedosamente que continuem sempre abertos.

(Estou sem acesso ao Gtalk por tempo indeterminado, infelizmente.)

quinta-feira, janeiro 14, 2010

O fogo é fogo;

Meu coração martelava junto com as ondas sonoras que vinham do trio elétrico, podia sentir a vibração de cada instrumento que compunha a melodia que banhava a avenida. E ali em meio a várias pessoas usando abadas verdes com branco avistei-o. Estava no trio elétrico e suas mãos inquietas tocavam harmoniosamente a percussão. O gingado do rapaz que tocava dançando e com sorriso largo nos lábios deixou-me compenetrada, tal era minha concentração que já podia prever qual seria o seu próximo movimento, qual sorriso de excitação ele desenharia no rosto, tão dentro eu já estava daquilo tudo. Mas sabia que jamais ele me notaria, milhares de outras meninas gritavam-nos de forma enlouquecida. E eu contida apenas o observava.

Quando a música toca e freneticamente os foliões cantam: “Como é que você foi embora sem dizer pelo menos adeus...” Ele baixou seu olhar para mim, parecendo-me sorrir. Olhei para trás a fim de perceber se era comigo mesmo que falava e para minha surpresa: era. Com um sinal balançou a cabeça e com gestos com suas mãos disse que queria conversar comigo depois. Gelei. E o esperei. E as músicas seguintes iam melodiosamente casando com nossos olhares muitos e eu sentia um turbilhão de sentimentos dentro de mim. Desejo, vontades. A banda deu lugar à outra tão agitada quanto e logo eu o procurava entre milhares de pessoas, assustei-me com um cheiro no cangote, que me enfureceu deveras. Virei-me bruscamente para o indivíduo e o susto foi tamanho: ele. Olhos esverdeados, camisa regata branca e os bíceps a mostra, sem fôlego fiquei diante do monumento. Ele riu.

– Assustada moça. Sou eu. – o som de sua gargalhada era tão doce e gostosa aos meus ouvidos que o sangue de todo o meu corpo me parecia pintar as bochechas de vermelho vivo.

E eu o olhava boquiaberta pensando em meu íntimo: que monumento. E ele parecia me ler perfeita. Pegou-me pela cintura e no ouvido cantou-me: “só sei que o corpo estremece a pernas desobedecem, inconscientemente a gente dança.” E no final da frase disse: - É assim, menina, quando a gente de longe avista quem por um minuto nos tira o fôlego. – E então eu quis cambalear.

– Deves falar isso para todas outras meninas que tu encontras nas cidades. Tens o olhar mais penetrante que já viste. Acredito que me seduziste. – Falei timidamente, mas corajosamente. Eu não podia deixar passar em branco aquela oportunidade.

Ele pegando-me pela nuca disse-me beijando-me o canto da boca. – Podes acreditar nisso, bonita. Ou então deixar que esta noite seja única e intensa para ti. Porque te digo que a tua boca me chama e eu posso ver isso. Não se pode fechar a porta para as oportunidades, vez ou outra a felicidade vem acompanhando-a.

E o que eu poderia fazer? Deixe-me seduzir por aqueles braços, aquela pele um pouco suada, mas ainda assim cheirosa como se devia ser. Ele beijando-me calorosamente, dedilhava seus dedos entre minhas costelas num vai e vem infinito e só pude desejar que a noite não acabasse. E a música que sempre me lembrará aquele momento será a que sempre embala todas as vezes que ele vem tocar aqui na cidade: “o fogo é fogo, esquenta, esquenta o nosso amor (...) esquenta que o Ara chegou.”

quarta-feira, janeiro 13, 2010

O contrário do amor não é ódio, é a indiferença.

"O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola (...) o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença."

Eu só queria mais um copo desse wisky de quinta ou um pouco daquele conhaque barato que costumo comprar no supermercado todas as quintas. Para poder aliviar o peso que se encontra em meus ombros, livrar-me dessa tensão toda. Esse é o terceiro maço de cigarros que fumo hoje e quer saber de uma coisa? Não me importa que meu pulmão grite por ar, que ele fique congestionado ou que meus dentes fiquem amarelados. Porque já não preciso de boa aparência e muito menos aprontar-me para recebê-la depois de um longo dia de trabalho. Porque ela se foi. E nada mais me importa sequer as recordações que ficaram intrínsecas a mim e que insistem em assombrar-me todas as noites, os doces beijos dela, as muitas loucuras que aprontávamos e o amor feito em pleno meio-dia com o sol a pino, deixando os corpos incrivelmente incendiados. Porque ela simplesmente veio enquanto eu estava fora e esvaziou todo a cômoda e os dois lados do guarda-roupa que ocupara com suas infinitas calças jeans. Esvaziou meu apartamento da alegria, do sol e sequer deixou um bilhete dizendo aonde iria.

O telefone dela que não atendia mais, o endereço que estava vazio e o porteiro que não sabia de seu paradeiro enlouqueceram-me. Clarisse sempre tão inconstante deixou-me a ver navios e não quis despedir. Talvez soubesse que eu imploraria para que ela ficasse que me colocaria a seus pés fazendo várias juras de amor – o que não me era difícil – ela, deixou-me aqui com um meio coração. Sem batimentos cardíacos e pulsação fraca. Ela simplesmente levou-me a vida. E enquanto eu ouço Lady in red do Chris De Burgh no Juke Box desse bar de motoqueiro, as lágrimas me vem impiedosamente. E eu morro por dentro. Pensando que ela simplesmente quis ir embora por ter achado que o amor havia caído na rotina. Se ao menos eu soubesse o que aconteceu, porque ela não me responde aos emails.

Uma, doze, vinte e cinco doses de tequila e eis que meus olhos vêem. Talvez uma miragem ou apenas o desejo de que seja ela. Calça jeans apertada, tomara-que-caia preta e muito lápis nos olhos. E os meus entreabertos conseguem enxergar o seu rosto, sim, Clarisse, em carne, osso e mãos envolvendo sua cintura. Ele, aparentemente, quarenta anos mais velho coberto de correntes de ouro e uma bota ridícula de cowboy baba-lhe a bochecha. Enquanto isso, Clarisse olha-me com os olhos desesperados. Ri ridiculamente, com gargalhadas espalhafatosas e com um súbito momento de raiva levantei-me aplaudindo-a.

- Bravo, bravo, Clarisse. Se era dinheiro que você queria devia ter dito antes e eu mesmo teria me afastado de você. Ambiciosa. Alegro-me de não ter esperado mais.

E os lábios dela tremiam. Seus olhos encheram-se e logo transbordaram. Tola. E aproximando-se de mim, Clarisse apertou-me o braço arrastando-me ao único toalete que havia naquele local dizendo que era necessário tudo aquilo, que precisava de grana para bancar os estudos, e outras desculpas que só me fizeram cuspir-lhe a cara. Ela não tinha mais a doçura que me encantava, tinha sim os mais bonitos lábios que eu já vira, mas em nada me comoveu. Suas palavras não me atingiam, suas tentativas de beijar-me eram evitadas e o eu te amo dito por ela apenas me deu náuseas. Ela era apenas o rascunho daquilo que eu havia amado. Era apenas uma cópia bem mal feita, algo que eu queria definitivamente apagar da memória. E a deixei lá, naquele seboso banheiro com palavrões escritos em toda a parede, mas antes de sair mostrei uma palavra escrita na porta, perto da maçaneta em letras garrafais: "Puta". Era isso o que ela era.
Postagem coletiva. Participe!

terça-feira, janeiro 12, 2010

Renata;

É claro que não me enquadro no perfil de mulher perfeita, daquelas que os homens anseiam por casar. Vejo claramente neste espelho embaçado deste hotel de quinta categoria. Olhos manchados pelo lápis que ontem realçava os meus tão admirados olhos verdes, alvo de cantadas e frases feitas. Ironia. Tu quando criança com todas as tuas bonecas e brinquedos-família, vem desenhando um futuro que tão logo se alcança a adolescência deseja ter: “um lar, filhos, marido etc.” Mas eu, Renata, nunca tive tempo de ser criança. Tão logo me descobri nessa fase, perdi-me por completo. Minha infância começou de fato assim que nasci e acabou, abruptamente, naquele agosto maldito – mês do desgosto – em que ele me veio violentar. Lembro-me bem do vestido que usara aquele que mamãe me dera no último natal, rodado tal qual eu queria e desejava, para assim dançar as lambadas que meu avô insistia em tocar em sua antiga radiola, flores muitas havia naquele vestido, parecia-me estar vestida de pura primavera. E contente estava. Linda e não somente meus olhos me viram bela naquele dia, infelizmente.

A casa estava só e eu brincava com o eco. Mamãe havia saído às compras com Margarida, a moça que tio Tony dizia ser dona de desejos infinitos. Não entendia o que queria dizer, mas sabia que ele a achava muito bonita, porque seus olhos a fitavam sempre que ela ia lá a nossa casa, tentava ser o mais cavaleiro possível. Coisa que não combinava de fato com ele. – Boca suja. – Era assim como mamãe o chamava todas as vezes que ele chegava bêbado em casa com os seus amigos vagabundos. O que era vagabundo? Eu não sabia. Mas sabia que era algo do tipo xingamento, porque os lábios de mamãe franziam e sua testa vincava todas as vezes que ela pronunciava isso. E lá estava eu, assistindo desenhos animados e com a minha Barbie que recém havia ganhado de meu pai que muito viajava. Nesta última viagem me trouxera a boneca, a fim de acarinhar-me. E conseguiu.

Tio Tony entrou na sala cambaleando, seus pés trocavam-se continuamente, e eu ria dele. Pobre de mim. Ele me notara e com a voz estridente disse-me: “Está sorrindo do quê garota estúpida? Acaso sou eu palhaço?”. Lembro de cada palavra assim, nessa mesma seqüência, sem tirar qualquer vírgula ou interrogação. Os meus olhos enormes arregalados viram ele aproximando-se de mim. E antes que eu pudesse desculpar-me lá estava ele cobrindo-me de cascudos e tapas, eu gritava, mas ninguém me ouvia. Tampou-me a boca com as grandes mãos e da primavera me despediu. Eu chorei. Não entendia o que ele estava fazendo comigo, ele me apertava contra o chão, segurando-me as mãos com a outra mão livre e me rasgava por dentro. Podia sentir isso. Eu chorava desejando que ele saísse de cima de mim, porque ele estava me machucando. Aquele dia, 25 de agosto, morri para a vida. Ele, tão logo tirou seu corpo imundo e seus lábios amargos de bebida e cigarros de cima de mim, disse que mataria a mim e aos “porcos” de meus pais caso eles soubessem de algo. E então eu escondi. Até hoje.

E hoje aqui estou em frente a esse espelho de cantos quebrados, neste banheiro que mais parece público. Lembrando daquele dia que minha alma desprendeu de meu corpo, do dia que deixei de ter vida. Todos os dias me são iguais, dolorosos, tortuosos, porque não consigo apagar da memória as palavras horríveis que ouvi o amargo dos meus lábios, e todas as marcas que insistem em não cicatrizar em mim. Tornei-me assim: insegura, vazia. Dada a loucura, a tristeza tremenda. E hoje te digo, Renata, que me olhas neste espelho assustada: “Este será teu último dia. O teu último suspiro. Não mais verás o passado novamente em tua mente, porque aliviarei a tua dor."

segunda-feira, janeiro 11, 2010

Brilho eterno;

Antes de dormir toda a noite aninhada ao colo de minha mãe ouvia histórias de conto de fadas e eu me imaginava com vestidos majestosos, enclausurada em uma torre ou sendo salva de algum dragão, embora não soubesse se havia de fato alguma princesa com cabelos iguais ao meu: “cor de fogo”. Eu fantasiava que não me encaixaria nos moldes de contos e ainda assim teria o meu príncipe tão logo eu estivesse pronta para viver o “felizes para sempre.” E a tarde de outono estava convidativa a um passeio, vesti-me então e andei a passos lentos pela praça central, avós com seus netos brincavam despreocupados, mães conversavam e eu observava tudo. Cada passo que eu dava sentia sob meus pés o estalar de folhas secas que nos mostrava em qual estação do ano estávamos, o tapete marrom que se formara nos convidava a um mergulho ou apenas correr levantando folhas ao ar. Perfeito.

Absorta com todos os sons e movimentos naquela praça eu o vi. O cabelo negro jogado sobre os olhos deixando-o cada vez mais misterioso, usando um casaco num tom avermelhado e olhava para mim. Desvencilhei o olhar, porque senti o meu estômago embrulhar quando os seus olhos fitaram os meus, era como se estivéssemos encaixado em um único olhar. Enrubesci. E então eu lembrei, pateticamente, das noites em que minha mãe me contava aquelas histórias e eu sorri. O sorriso gostoso e frouxo que o fez responder com um aceno. E não sei o que me deu, aproximei-me daquele rapaz que me convidava com os olhos a uma conversa e nos conhecemos.

E a vida era e estava perfeita. Éramos a parte que faltava para ambos, toda aquela história de alma-gêmea podia ser facilmente aplicado a nós, até sair de casa para comprar algodão doce era mágico ao lado dele. Embora, muitas vezes, nos encontrássemos em situações tempestuosas o amor era real e necessário. Urgente. E mesmo com toda essa perfeição, em termos, Joel me era atazanável. E a nossa relação de folhas secas tornou-se evidente, não havia mais romance, apenas brigas. E o que era especial e nos aproximava deixou de ser querido. E sabe, que essas folhas e aquele tapete marrom que majestosamente banhavam aquela praça é a primeira lembrança que eu quero apagar. O dia que eu o conheci.

"Do outro lado, Joel contando."

sábado, janeiro 09, 2010

Vô,

Aprendi a usar o acento da seguinte maneira: “o vovô usa chapéu e a vovó usa grampo no cabelo.” Aparentemente são coisas bobas que não dizem nada, mas são frases feitas que me vem agora e confesso-te que meus olhos inundam cada vez que penso em ti, na tua expressão enrrugadinha, o teu sorriso grande e a tua barriga de avô, como tem que quer ser. Sabes que ontem à noite não dormi porque eu devaneava em minha meninice e nos dias que passei em teu colo ou andando a cavalo contigo por aquelas terras distantes. Embrulha-me o estômago esse sentimento que trago cá dentro: é medo, vô. Misturado com a vontade de estar perto e desejo de abraço teu como quando menina tu me aninhavas. Porque eu sei que tu tens milhares de sonhos, apesar de todas essas décadas já vividas e me dói vê-lo sofrer desta maneira.

Não te contei, mas esses dias os primos vieram de Tocantins e rimos muito das tuas histórias, comparando as tuas aventuras com o tio-vô e eu podia ver-te menino ainda, moço e na idade atual. E sabe, vovô, me dói essa distância que não permite ouvir diariamente os teus causos, tuas muitas decisões e lembro-me bem eu criança na tua quitanda comendo halls de maçã-verde ou brincando de pesar coisas na tua balança e eu sinto um nó tão grande no peito, porque eu tenho medo de perder tudo isso. A mãe não dorme mais, chora todas as noites, porque tu te portas como criança não querendo ir ao médico. Sei que as nossas lágrimas ontem te convenceram que precisavas insistir e não se deixar por vencer, mas eu estou com um medo tão grande. Que preferia estar isolada em algum canto ou então ir ao teu encontro e ficar aos teus pés, vôzinho.

Só que alguns quilômetros insistem em nos separar dessa forma excruciante. E tu com saudades te entregas a bebedeira, meu doce, bebida mata. E tu tens que permanecer vivo para aninhar-me novamente no colo cantando-me aquelas tuas cantigas, lendo comigo cordel. E eu choro. Porque todas as noites quando eu vou dormir tenho medo de acordar com uma notícia ruim, entende? Porque eu vejo a mamãe chorar o tempo inteiro, as tias e os primos todos. E a minha casa está tão sem vida, cinza como o dia ontem, que esteve nublado. Amo-te, meu velho, e lembro-me de tudo o que vivemos até hoje. Eu te penteando os cabelos brancos, querendo te passar batom e você deixando. E eu vou lembrando cada coisa e tenho a certeza: não é tua hora. Fica aqui com a gente, porque a dor da despedida eu já senti e não quero novamente.

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Querido A,

Eu queria te dizer que eu sinto muito por tudo. Acredito que tenha eu destruído tudo, infelizmente. Burrice a minha – novidade. Sabe doce eu queria só esclarecer as coisas o que construiu, talvez, uma barreira entre nós. Não sei, mas está tudo tão estranho. Perdoa-me. Quando eu fiquei aqueles dias sem falar contigo não era porque eu não te queria em minha vida mais era porque eu precisava te dar espaço para você respirar, porque por vezes eu me acho tão sufocante para ti. Porque eu te acho bom demais para mim e quis não ficar sonhando contigo. Você é tão homem, diferente dos demais, tens as tuas convicções e teus pensamentos que me mostram o quão menina eu ainda sou. E a minha idade cada vez é diminuída quando eu falo contigo e isso me envergonha por vezes, me intimida.

Quando eu te disse que a gente só perdia o que a gente tinha então eu não me importava muito com isso eu menti. Menti para ti, menti para mim e para todos os sentimentos que estão dentro de mim. Dói-me. Eu quis te mostrar que eu sou forte quando na verdade eu sou mais fraca que tudo, eu te sonho tanto, mesmo você sendo inatingível. Queria me desculpar por toda minha criancice que te irrita, que te irritou, que te provoca. Culpa minha todas as tuas reações, eu sei. E fico cá eu lamentando, chorando por palavras que vieram de ti, mas que na verdade foram provocadas por mim. Pura reação. Desculpe por me colocar sempre no lugar da vítima, mas tentei dormir ali desde que cheguei do trabalho e me foi impossível e acredito que o resto da noite será insone. Porque tu não tens mais paciência para mim. Perdoa.

Eu queria poder pegar uma borracha e apagar o mês anterior e esse início, mas não posso. Infelizmente. Então, eu não sei mais o que dizer. Eu tentei falar contigo há pouco no MSN, mas você me ignorou ou não estava perto, não sei. Não me doeu. Porque você tem razão em não querer falar comigo. Sou bem babaca e tu sabes. Eu só queria dizer, que se tu quiseres mesmo, eu vou embora. Se é isso que deseja mesmo eu me retiro e vai ser como se tu nunca tivesse me conhecido. Vai ser assim mesmo. Porque foi e vai ser sempre assim. Tu és bem mais do que eu mereço e isso é fato. E sem dramas eu descobri isso, por isso não há com o que lutar, apenas com o que se conformar. Perdoa-me as irritações, a paranóia e os muitos desatinos e obrigada pelos risos, conselhos e por passar tantas tardes e noites comigo. Acho que é isso.
Com respeito P.

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Quando ele dorme lá em casa;


“Quando ela dorme em minha casa
O mundo acorda cantando...”
Zeca Baleiro/Fausto Nilo



Vês que objetos e seres inanimados tornam-se adjetivos em minha boca a fim de dar-te poesias inúmeras. Visto tempestades inteiras, banho-me com luzes vindas do céu, vejo-te em luzinhas que sonham em serem estrelas, vejo o esconde-esconde de vaga-lumes que brincam à noite e tudo me traz você. Porque quando você dorme em minha casa eu só quero te olhar e fico enraivecida quando o sono me vem pregar peça privando-me de te olhar os movimentos adormecidos, a respiração leve e os cabelos negros que ficam sobre os olhos. É que deitar a cabeça sobre teu peito me é reconfortante, ouvir cada batida dele traz-me alegria tamanha que poderia congelar o tempo, fazer que as horas, segundos, que o ponteiro continuasse parado ali. Só para te ter em minhas mãos, nos meus braços a noite inteira como deve ser. Porque quando você dorme em minha casa o sol amanhece sorrindo e os meus pés enroscados nos teus já não são frios.

Eu queria tanto dizer: “eu te amo”. Sem aspas, entrelinha queria dizer abertamente para que tu dormisses todos os dias aqui comigo. Mas a garganta se fecha e eu apenas pigarreio. E tu, doce, não me vês tal qual sou em minhas noites insones. Impaciente, inquieta, observadora e principalmente apaixonada. Irrevogavelmente. E esse abajur que ilumina metade da tua boca me vem provocar a loucura. E enquanto a música toca baixinho na rádio Consuelo Velázquez cantando “Bésame Mucho” eu te peço piedosamente que continues aqui dormindo para que os teus beijos tão meus estejam sempre ao meu alcance. É que a noite quando tu dormes até os grilos cantam afinados e o tique-taque do relógio parece dançar compassado com as batidas de meu coração. O mundo inteiro canta teu nome.

E então eu vou observando tudo que está ao nosso redor, reunindo diversas palavras e olhando no espelho vou ensaiando como eu te digo para que não soe fácil e muito menos falso. Que seja verdadeiro, assim como o que eu sinto aqui dentro. Para que não te assuste, para que tu não fujas de mim e permaneça aqui mesmo que meio grogue de sono, com os cabelos desgrenhados. E então quando os teus olhos abriram de manhã, amor. A única coisa que escapuliu dos meus lábios foi: "bom dia". Acredito que os meus olhos já te disseram inúmeras vezes o que minha boca insiste em não dizer.

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Falar de amor não é amar, não é querer ninguém.

Eu fixava os meus olhos naquele “A” vermelho enorme e a figura que o ilustrava eram duas pessoas em um abraço afetuoso e diziam que o “A” era de amor. Então, em minha cartilha eu aprendi o significado da palavra. Achei que amar era apenas abraços e à medida que fui crescendo aprendi que havia outros sentimentos e ações interligados a ela. Descobri então o beijo, o afago e infelizmente a dor. E eu imaginei que amar era mais isso. Descontentamento. Porque eu amava com os meus lábios, muitas vezes, mas meu coração não sentia. E então eu feria.

E o tempo foi se passando e acabei descobrindo várias derivações da palavra e quanto mais eu conhecia, mais mergulhava naquele mundaréu de sentimentos. E então eu ouvi o primeiro: “eu te amo.” Mas eu não acreditei. E quando eu disse a três anos que eu amava alguém soou falso. E senti vazio depois disso. Porque eu vi que realmente lia muito sobre o amor, mas eu não sabia de fato o que era. E então eu te conheci. E eu não queria amar ninguém porque sempre me achei superior quando falava de amor, pois conseguia falar de dor sem sentí-la de fato. E você apareceu na minha vida e os meus pés começaram a pisar cuidadosamente, porque no dia que eu conversei com você eu já sabia que me apaixonaria. E algum tempo depois eu vi que não estava errada. Só que hoje os meus pés já não sabem onde pisar, já não quer pisar em lugar algum, porque você me machucou.

E eu vi que falar de amor não é amar. Por que diabos você veio naquela noite de Maio? E por que diabos você destruiu aquilo que eu inventei para nós. Você me quis ferir e eu senti muito – tanto que o dia que estava quente e claro naquela manhã que tinha tudo para ser de festa acabou tornando-se nebulosa e minha cama estava tão aconchegante que eu quis ficar ali deitada com as minhas lágrimas e soluços, mesmo com o sol a pino. Tudo tornou-se frio porque eu lembrava de cada caractere. E então as minhas convicções tornaram-se falhas, desacreditei naquilo que tinha em mente de que eu te amava só em palavras porque era bonito te escrever, mas eu já não quero escrever sobre você e ainda assim eu te amo. Eu me recuso a pensar em você, eu já não sonho mais com você, meu coração não acelera mais só de ouvir teu nome e ainda assim eu sei que amo você. E pela primeira vez na vida, em 23 anos, eu tenho certeza de que o que falo é real. Não é fantasioso. Não está apenas em poemas e contos que você não é somente personagem e combustível para os meus textos. Que você é o amor que eu sempre quis, mas que me magoa terrivelmente. Sim. Magoa quando bem quer.


“Dias esquecidos
No verão que eu inventei
Eu sei que você vive
Das mentiras que eu acreditei.”
Capital Inicial

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terça-feira, janeiro 05, 2010

Ocre.

Eu preciso da nicotina em minhas veias, porque me entorpece deixando-me mais leve. Eu necessito dessa dose a mais, porque ela emaranha os meus sentidos separando o que é real do fantasioso. Está vendo? Na verdade eu sempre precisei daquilo que é palpável e que você não pôde me dar. E em cada tragada e gole eu te encontro. E você me é melhor assim: “engarrafado”. Porque eu te bebo e vou sentindo você deslizar dentro de mim.

E meu batom, que outrora era cor-de-rosa, hoje é vermelho. Porque vermelho é a nova cor para mim, nada de azul que me remetem ao céu, de verde esmeralda que me lembra a verde grama, do marrom que me lembram os teus grandes olhos. Nada disso. Quero o vermelho que dá raiva no touro, que o incita ao ódio, que machuca e fere. Porque nada mais me importa, sabe. Porque eu não sinto, mesmo sentindo. Porque há em mim um misto – que não é bom. É nada, misturado com coisa nenhuma, enroscada em ausência. É oco, é árido. Terra seca sem vida. E eu gosto, quer dizer, assim prefiro.

Porque azul me dá náuseas, verde não me comove e o marrom tampouco me importa agora. Porque você para mim era caixa de lápis de cor e hoje só quero saber de canetas. Isso. E embora você não tenha culpa, eu me tornei assim, amarga. E a minha cor de hoje é ocre.
E não queira saber o que essa cor significa pra mim.

(Postagem coletiva de amanhã nesse blog - Post Coletivo. Visite e saiba como participar.)

segunda-feira, janeiro 04, 2010

(...)

Esse é meu terceiro cigarro em menos de 4 horas. Eu sei que você diria para mim: “você acha isso bonito?” Eu parei de fumar desde que te conheci, porque eu precisava te impressionar. E você me achava inconseqüente. Aprendi a beber socialmente, porque as minhas doses de tequila te assustavam. Aprendi a conter meu riso, a falar mais baixo, a ser mais dama. E você dizia: “és diamante, doce.” E eu me deixei ser moldada, por tuas mãos. Porque era necessário ser tua, porque você me falou de astronomia e me ensinou que a vida era curta, e você aprendeu a ser imprudente comigo. E eu deixava as minhas coisas espalhadas pela tua casa, você aprendeu a ser desorganizado comigo, eu te implicava com o cabelo arrumado bagunçando-o com as minhas mãos enquanto fazíamos brigas de travesseiro.
E por que você foi tão idiota a ponto de partir?

Eu ignoro a placa que diz: “é proibido sentar.” Porque eu preciso sentir o vento batendo em meu rosto neste lugar. E eu não entendo o motivo de você ter me deixado assim. Algumas pessoas passam e olham assustadas, devem pensar que eu vou pular. Mas eu só desejo ficar com os meus pés dependurados aqui nessa cerca. E ouvir o som do mar cantando, aquelas ondas que batem nas pedras. E eu me lembro de você dançando comigo na chuva porque eu pedi e você usava terno e acabava de vir de uma audiência, éramos tão cúmplices. E todas as loucuras que eu impunha você aceitava, mesmo com toda minha loucura.

E eu vou pensando essas coisas aqui, vendo a água que é escura. Talvez haja um buraco aí embaixo. Igual o que sinto agora dentro de mim. Por que você me deixou? Seu idiota.
E eu fico imaginando se devo ou não pular. Assim como você fez. Deixando-me aqui, somente com a dor. Você foi muito egoísta em me deixar aqui, sozinha, com frio. Egoísta por tentar acabar com a dor em você, infligindo-me uma maior. Estúpido. E sempre que me perguntam porque eu bebo e fumo tanto digo meu namorado terminou comigo, porque eu não consigo simplesmente aceitar que você se matou.

sábado, janeiro 02, 2010

Serafim;

Desferiu um golpe, o primeiro, acertou a sua mão esquerda que sempre lhe afagava os cabelos com cafunés deliciosos. Profundo. E ela olhava-o atônita, sem acreditar o que acabara de acontecer. Puxou a mão junto ao peito e gritava-lhe, não palavras horrendas como se pode imaginar, mas palavras amenas tentando acalmá-lo. Mas ele não a ouvia. Rasgou-lhe a blusa de cetim e cortou seu ombro, aquele que por muitas noites lhe servia de porto, onde ele dormia aninhado a ela. Ela não lutava mais e não pensava em correr, porque sabia que eles eram um só. Que o amor que havia dentro dele iria gritar a qualquer momento, acordando-o, mostrando que havia ferido a própria carne. Mas Serafim continuava gritando que não agüentava mais, que a mulher lhe havia maltratado com a sua indiferença nos últimos dias, e que ela merecia todo aquele tratamento porque ela o ferira antes. Pegou o vaso com as magnólias que enfeitavam a mesa da cozinha e as jogou contra a parede, espatifou-se. E então ela chorou.

Ele não era anjo – pensou. E as suas lágrimas lavavam o sangue de sua bochecha, de um vermelho que não remetia a paixão. Era dor. E ela não entendia o porquê daquela situação, o que lhe causara o que tinha feito para que o amor tivesse se tornado fúria. Não quis se aproximar. E antes de sair da cozinha disse: - É injusto o que está fazendo comigo. Eu sempre quis o teu bem, te fazer feliz com meus gestos, quis te amar. E eu não sei o que houve, qual deslize cometi e você me vem ferir. E ele nada disse. E um último golpe desferiu na moça de olhos amendoados, acertando-lhe o coração – aquele que ela o depositara com tanto cuidado e ele sentiu. Sentiu que as suas pernas ficaram trêmulas, que estava sufocando, a cabeça começou a girar como uma labirintite aguda e sentia o gosto do sangue nos lábios e a moça com os olhos arregalados olhava-o e ele não entendia porque estava sentindo aquilo e ela lhe disse: - No coração, bonito, havia apenas você.
Desfaleceu. Ambos.
"Para o doce do Rodrigo que me deu ideia da história.
Amores vem e vão e teu coração logo será ocupado.
Te amo, amigo."

sexta-feira, janeiro 01, 2010

Fechando o ano.

Todos fazem promessas e mais promessas. Alguns arriscam em dizer que serão pessoas melhores e até se esforçam para que isso aconteça. Eu, porém, apenas digo: errarei mais do que errei esse ano. E cantarei aquela canção do Zeca Pagodinho: “deixa a vida me levar, vida leva eu.” Porque eu sou do tipo que não cumpre promessas, que é inconstante ao extremo e que não leva ao pé da letra juras. E então eu acho graça toda essa crendice de que se eu usar uma determinada cor de roupa atrairá bons fluídos. Aquele lance do amarelo-dinheiro, laranja-alegria é tudo mentira. Confesso que em 2006 eu usei rosa e pra quem não sabe é a cor do romance. Enfim, até que encontrei o romance só que o cara era um crápula e definitivamente eu apaguei 2006 da minha mente. Tudo bem, esse lance da cor pode ser considerada uma meia-verdade embora eu continue não acreditando.

Esse ano eu não prometi nada a ninguém. Talvez tenha feito pequenas promessas – e tenha esquecido elas, claro. Não passei em nenhum concurso, não me esforcei para passar e nem fui chamada nos que passei ano passado. Escrevi muito. Comecei a escrever três livros e estou com uma ideia de um quarto, mas nunca consigo terminá-los. Fiz mais blogs do que deveria e tenho condições de cuidar. Fiz vários amigos. Conheci pessoas maravilhosas na internet e fora dela. Namorei – Terminei - Namorei – Terminei – Er...então. Magoei muita gente, me magoaram bastante. E não coloco isso em balança alguma, assumo os meus atos e erros. Briguei muito, me decepcionei, decepcionei muita gente. Pedi desculpas, fiquei calada. Comprei vários livros. Deixei alguns embalados em minha prateleira. Li 12 horas sem parar um Best-seller aí – que dou um doce se alguém adivinhar qual é. Perdi um primo-irmão e o meu coração dói só de lembrar isso. Porque eu o perdi para sempre, entende.

E em 2010 eu prometo ser mais doce e severa. Não esperar tanto das pessoas e não me doar mais do que o necessário. Estudar um pouco mais, afinal pretendo usar meu diploma para algo. Estudar música. Ler um pouco menos. Dar mais atenção a minha família. E quem sabe dar uma nova chance ao meu coração. Mas como eu disse no início eu não sou boa de cumprir promessas, então.

Feliz 2010 a todos.