quinta-feira, agosto 16, 2012

Quando o paraíso teve que esperar.

Foi tão súbita a sua chegada que ela mal pôde encontrar ar. Sua respiração trêmula ficara segundo após segundo entrecortada. Ele é tão bonito! - Pensara em voz alta. Talvez alta demais, tanto que fora obrigada a desviar o olhar por medo de entregar a sua inquietação. Ela brincava com a borda da taça de vinho que ele oferecera, tentando não revelar a sua curiosidade. Um homem que falava sobre cinema, rock n'roll e cantava em uma banda de hardcore vestido, estupendamente, em um terno Armani.

Ela pensava: - Ele não existe, não existe, não existe. - E, sim parecendo ouvir os pensamentos dela chamou-a junto a sacada do prédio. A noite morria macia lá fora e podia-se ver o céu pontilhado de pequenos cristais, belas estrelas namoradeiras. E olhando os olhos da moça amendoados dissera:

- Você gosta da Lua?
- Sim. Mas prefiro as estrelas. E você?
- Tanto faz. Acho que dependendo do contexto elas são apenas expectadoras.
- E que contexto seria esse?
- Vinho, jazz, você e eu. Essas coisas que se tornam bonitas quando se tem poesia na alma.
(Silêncio)

- Que foi?
- Nada. Só poetizando você por dentro. Assim como o jazz.
- Você não deveria me dizer essas coisas.
- Por quê?
- Porque não tenho alma de poeta. E porque eu sinto vontade de responder, mas tenho medo de parecer idiota.
- As respostas nem sempre precisam ser verbalizadas, moça. Tome mais vinho.

(Silêncio)

Os cômodos estavam todos vazios. Não perceberam que aos poucos todos os convidados haviam indo embora, os olhos dela fixaram a porta indicando que também era hora de partir. Tocava "Forever Young" do Alphaville e por fim ela gargalhou:
- Bons momentos?
- Não é isso. Só queria dançar assim como a música pede.
- Elegantemente?
- Do modo que conseguirmos.
- Dancemos.

E em seu ouvido ele cantava, docemente - como podia -, "Heaven can wait we're only watching the skies." - É hora de ir, compreendo. Mas só se quiser ir. - Ele falou.
- Sim. Eu fico. - Ela respondeu.