segunda-feira, março 23, 2015

O ir e vir das pessoas.

É necessário ter em mente que pessoas vêm e vão de nossas vidas. Não há mal algum nisso, é apenas a vida tomando o seu curso natural. Aqueles que dividiam o lanche no jardim de infância, os que compartilhavam segredos na adolescência, aqueles que iniciaram conosco a vida adulta e tomaram um novo rumo. A vida é assim. É um processo pelo qual todos nós passamos ou iremos passar. É como se nossas vidas, infelizmente, fosse uma estrada e algumas pessoas apenas forasteiros.

Todos nós fomos, em algum momento, apenas um caminhante na vida de alguém. Não há, também, que se magoar por isso. A vida é uma rotatória, o próprio poeta vivia a dizer que ela é uma roda viva. Mas só compreendemos a poesia da vida quando vemos aqueles que amamos – e julgávamos retribuir o mesmo afeto –, se distanciando de nós. Seria injusto imaginarmos que somos descartáveis, substituíveis à medida que não satisfazemos mais a expectativa do outro, porque – sem dúvida alguma -, algum dia substituímos ou descartamos alguém também.


A vida é um jogo de interesse. Não aqueles jogos luxuosos e atrativos de Las Vegas ou aqueles carteados que jogamos em reuniões familiares aos finais de semanas com os amigos. É um jogo em que os peões são derrubados do tabuleiro em impiedosos xeques-mate. O final das contas é que não há nada eterno quando se diz respeito às relações humanas.

sexta-feira, março 13, 2015

Quando ele chegar.

Você chama o destino, estende um banquinho para que ele sente, como quem deseja pôr outra pessoa contra a parede, e desatina a explicar porquê a vida tem que acontecer agora. Naquele momento. Você explode com ele e diz: "tem que ser hoje". Poderia ser. Aquelas cenas românticas que só vemos em filmes ou fantasiamos em nossas mentes. O momento em que você esbarra com o outro, derruba aquilo que você traz nas mãos, quando de repente seus dedos se tocam e seus olhos vão de encontro ao outro.

Deveria ser hoje. Você poderia quase perder o elevador e o outro segurar ou, quem sabe, em um engarrafamento ele jogaria uma bolinha de papel com o número de telefone dele dentro do seu carro. Aquela troca de olhar quando as escadas rolantes se cruzam em um dia movimento de compras no shopping. Ele poderia até contatar você por meio de um telefonema errado, quando estivesse ligando para o amigo da pelada do final de semana. 

Poderia.

Você explica ao destino que deseja que ele te encontre em um dos seus melhores dias, aquela sexta-feira que você decide sair com o seu melhor vestido, aquele perfume importado recém comprado, em uma noite em que você se endeusa e decide dançar. Talvez ele te pague um drink e você aceite mesmo sem beber de fato.

Você bem que queria que fosse, mas...

Vai ser naquele dia que você se achará horrível, que o cabelo não segurará nenhum penteado e as olheiras estejam tão fundas e pretas como uma noite sem luar. Naquele chá de fraldas que você decidiu ir de última hora ou até mesmo naquele momento em que você tentará trocar o pneu no encostamento de uma rodovia qualquer. 

Chegará. 
E quando isso acontecer você dirá ao destino que todas as broncas foram desnecessárias, que esperar foi a escolha mais acertada. Apesar de. Você conseguirá enxergar nos olhos dele as respostas do porquê de tanta espera, sentirá nos lábios dele que o amor nunca se demora. É nós detalhes que o amor se esconde, é na esperança que ele vive.

quinta-feira, março 12, 2015

(...) dos meus primeiros beijos.

Na infância temos uma visão muito limitada sobre o amor. Ele é inserido em nossas vidas através dos contos de fadas. Nos imaginamos como princesas e aguardamos, ansiosamente, por nossos príncipes encantados. Idealizamos um modelo perfeito de homem ideal. Aquele que desbrava sete mares, que enfrenta dragões, que escala torres em nossos cabelos, aquele que - por fim -,vem até nós de cavalo branco. O problema é que não somos da realeza, nossos pais não são reis e das fábulas herdamos apenas as tribulações e angústias das jovens princesas. 

Com o tempo os nossos olhos se descortinam e passamos a entender que o amor não habita na fantasia. Ele tem que ser palpável, ser exato em suas inexatidões, tem que ser sentido na carne.  O amor é o único que consegue nos massacrar, vilipendiar nossos corações e nos cicatrizar como se a dor fosse coisa boba, a toa. Ele nos leva do céu ao inferno em segundos. Só amor é capaz de nos transformar de forma involuntária e sem razões. 

Eu imaginei ter descoberto o amor na inocência dos meus primeiros beijos. Aqueles que dei ao primeiro garoto que entreguei de bandeja o meu coração. Aos doze anos você tem a convicção de que viverá tão bem quanto a Cinderela após o príncipe ter calçado o sapatinho de cristal em seu pé. Mas, a vida vai lhe mostrando que não é tão simples assim, que não nos apaixonamos de um dia para a noite, que a vida não é a quimera que imaginamos ser.

Um dia você também compreenderá que as classificações do amor são todas falhas e sem sentido. Talvez você fale sobre ele e discorra, assim como eu, em textos enormes, cheios de açúcar e esperanças. E, dessa forma, entenderá que falar sobre amor não é saber amar [e suplicará aos céus que a vida não seja uma farsa].

Há mais narrações em minha vida do quê, de fato, sentimentos.   

segunda-feira, março 09, 2015

Como crianças.

Nós temos que resgatar em nós a valentia de criança. Aquela que nos permitia cair diversas vezes, mesmo com arranhões, e correr atrás de nossos sonhos. Pôr a vida em alvo e atirar nela se preciso for. Vestir armadura e se embrenhar nas batalhas diárias da vida. A gente tem que ter coragem diante das dificuldades e enfrentá-las, mesmo sentindo que não conseguiremos. Um capitão não abandona um barco que afunda. Por que abandonaríamos as nossas vidas no ápice de um, possível, naufrágio? A vida é boa demais para deixarmos que os dias sigam sem cor e vida. Caminhe, mesmo que lento, mas dê passos à felicidade. Todos buscamos uma fórmula para endireitarmos a nossos caminhos segundo nossas vontades, mas pouco observamos que a vida se esvai, entre os dedos, enquanto quebramos as nossas cabeças. Viver nunca se tratou de matemática e exatidão. O amor não habita nas exatas.

quinta-feira, março 05, 2015

Querido Nando,

A onda do mar já lambeu os meus pés umas trezentas vezes e eu ainda te espero chegar. O amor é uma doce espera. E eu continuo, em meus dias de sol, te esperando nas varandas da vida, nas praças que abrigam os amores serenos, nos parques que recebem as famílias aos domingos. O dia  mal amanheceu e eu já me apaixonei doze vezes por você e sei que este número será multiplicado tantas vezes mais até o pôr-do-sol. 

A vida é uma doce aventura. Os dias correm tão depressa quando você está, e tão lentos quando insistes em se ausentar de mim. Observo ao longe a imensidão deste mar de águas cristalinas e percebo a dimensão daquilo que guardo no coração para ti. A gente entende, observando o céu acima de nós, que há um porquê de poemas bobos e rimados na adolescência. Nós compreendemos que o amor é para quem é tolo, uma tolice é sadia e abençoada, mas ainda sim um disparate.

Os grãos de areia já beijaram as mãos umas dez vezes só esta manhã. Enquanto escrevo os nossos nomes, desenho as nossas iniciais e assisto as ondas - grandes e ciumentas - a nos levarem para o mar. Há quem diga, supersticiosamente, que o mar leva para sempre. Eu acredito que ela leva e abençoa. Modifica, une e nos torna enormes. Gigantes quanto a sua infinitude.

Há de crescer.
Hei de te esperar.

terça-feira, março 03, 2015

Senta aqui, Maria.

Vou te explicar como as coisas do coração funcionam, Maria. Um dia eu acreditei que o amor era uma espécie de loteria e somente alguns eram contemplados. E andei espalhando por aí que ele não existia, que somente os tolos acreditavam e que era uma espécie de história de carochinha. Eu me enganei. Não porque o amor enfim bateu em minha porta e me convenceu do contrário, mas porque eu soube compreender que ele não se limita apenas à atração física, relação de homem e mulher. 

Senta aqui, Maria. Eu tenho que te dizer que algumas vezes você irá se decepcionar e, por vezes, sentirá seu coração sendo triturado. Meu coração foi costurado diversas vezes desde que tentei desbravar essas estradas em busca do amor. A gente sente uma dor tremenda, algumas vezes é tão lancinante que você perde a noção das horas, dias e meses. Você deita, olha para o teto e mesmo não enxergando nada os seus olhos permanecem fixos. 

Não se assuste, Maria. Apesar da vida bater um pouco, existem aqueles que têm mais sorte e descobrem o amor antes de nós. Fixa neles e não em minhas palavras duras e amargas. Levei um baque esses tempos e ao invés de levantar e sacudir a poeira, eu me mantive no chão, não sei bem o que se passava em minha cabeça. Fiquei ali deitada, comendo um pouco de terra e formando poças de lama com as lágrimas que me caíam dos olhos. É, Maria, doeu um bocado.

Hoje posso te dizer com sabedoria que a queda me transformou em uma pessoa mais forte, que o tombo me fez acreditar - acredite ou não - um pouco mais no amor. Porque para amar alguém é necessário que nos amemos primeiro, que haja reciprocidade no sentir, doação de ambas as partes, é preciso que nós estejamos completos para que não busquemos no outro aquilo que nos falta. Para não entregar ao outro uma carga muito grande. Não responsabilizar o outro a preencher nossos vazios. A gente precisa se entender melhor para não cobrar do outro aquilo que ele não pode nos oferecer.

No final das contas nós precisamos chegar com a bagagem e apenas desfazer as malas. O amor tem que encontrar a casa perfumada, os cômodos vazios de outros sentimentos e a cama feitinha para que possa descansar. O amor é mais simples do que imaginamos, Maria. A gente busca em tanto lugar o amor, sendo que nem desconfiamos que ele é gerado primeiro em nós mesmos. Quando a gente encontrar o dono do nosso coração ele apenas fará um parto, em nós haverá um nascimento, nascerá aquilo que desde sempre esteve em nosso interior.

Acredite, Maria. O amor nasce é assim.