terça-feira, maio 30, 2017

Ideia.


Fiquei apenas pensando que seu rosto
parece com as minhas ideias.



[Corpo de lama - Chico Science]

Eu quero me aninhar no teu peito, baby. Quero que você me conte bobagenzinhas enquanto escuto tua respiração. Quero sentir teu coração bater, ouvir tua risada, segurar tua mão por mais tempo, te entregar mais que dois sorrisos. Mais que um ruído. Eu quero espalhar beijinhos no teu rosto e passear, confusa, em você.

Quero te ligar no meio da noite e ficar em silêncio até conseguir dormir outra vez. Quero que você me abrace. Que você sempre me abrace. Que caminhe ao meu lado segurando no bolso de trás das minhas calças. Quero saber a frequência com que pisca os olhos e decorar o que te faz franzir o nariz.

Quero papos desconexos, propostas decentes e outras tantas avessas. Quero entrar no primeiro ônibus disponível e passar um dia inteiro num lugar onde sejamos estranhos. Quero te puxar pelos braços e que você recue para me pirraçar enquanto vai pintando poesia nos dentes. Quero que teu cruzar de pernas me inspire um texto e que você faça um carinho bom em minha nuca, me abraçando por trás enquanto me observa sentada ao computador.

Quero que você me veja chorando ao cortar cebolas e sempre cante a música de Caetano, só para me ouvir te chamar de previsível e debocharmos juntos das mesmices que são só nossas. Quero que não me diga que sou ciumenta e não se importe com minhas melancolias mensais.

Quero que a vodka tempere nossas brigas bobas, e que deitemos exaustos no colchão ali, no chão da sala, enquanto a vida corre do lado de fora da casa. Quero ver você dar risada da minha cara ao desistir de calcular o troco e que não se importe em ir ao cinema nos horários mais improváveis.

Quero que você se arrisque na cozinha só para me ouvir reclamar depois. Quero nossos beijos cítricos e tua língua tingida com o vermelho do que vai sempre arder em nós. Quero aquelas noites com a luz fraca, tua arte exata e minha busca imperfeita.

Quero que você aumente o som quando começar a tocar uma música que eu goste. Quero te telefonar ao me deparar com algo que se pareça contigo. Quero te ver fechar o jeans, te puxar de volta para a cama, te fazer vacilar, burlar resistências.

Quero pizza gelada enquanto te mostro meus filmes preferidos. Quero te fotografar até você arrancar a câmera das minhas mãos e fazer o mesmo comigo. Quero me rasgar aos pouquinhos para você, só para você. Quero que folheie um caderno meu e reclame porque não escrevo na linha. Porque não escrevo.

Quero entender quando dói e fazer parar de doer. Quero te adivinhar com meus lábios. Quero te projetar: você-filme. Quero espernear. Quero que você bagunce o quarto e te olharolharolhar com minhas pálpebras egoístas que te guardam só para mim. Quero todo esse medo de abri-las para não te deixar escapulir. Quero te achar ridículo enquanto escuto você cantar ao chuveiro. Quero colo.

Quero que você entenda minha euforia após o teatro. Que não se espante com minha sensibilidade. Que não sofra com minha insensibilidade. Que não soframos tanto, apesar das crises, raivinhas, impaciência e muita falta de sentido.

Quero você na minha parede verde. Quero pintar nossa parede. Te borrar a roupa. Tomar banho na chuva, rolar na areia da praia. Quero decifrar tua chegada pela maneira como toca o interfone. Te cantar músicas bregas, caminhar pela praça.

Não quero nada. Só preciso inventar uma palavra. Algo que te explique. E olhar para você mais um pouco, assim, sem querer.

É uma ideia.

Fotografia: Maud Chalard.


quarta-feira, maio 24, 2017

Já podemos ir.



— Já podemos ir.

Disse por um instante. Mas o teu beijo me roubou os sentidos e me fez demorar um pouco mais. A vida parecia não existir lá fora. O que me importava era o seu olhar sobre o meu e a forma como me sentia tua na sua íris. Nada de mim era meu. Nem minha pernas. Nem meus seios. Nem meus meios. Tudo era teu. Do início ao fim. Me perdi em seus olhos para me encontrar em teus braços. Me perdi em teus lábios para me encontrar no céu. O relógio havia parado. Não havia vida além de nós. Não havia nada a se preocupar. Não havia o mundo a nos esperar.

Entre erros e acertos. Entre risos e olhares. Eu fui tua até onde a minha capacidade permitia. Da inocência à malícia. No vai e vem de tuas pernas eu me descobri dona de mim mesma. Compreendi que meu coração sabia ancorar no porto certo. Você me era porto seguro. Eu te era um navio desconhecido que piratas cruzam os mares atrás de encontrar. Tesouro seu são meus olhos. Riqueza minha teus lábios. Lábios que me leem com voracidade e percorrem meus caminhos com sede.

Tua água fui.

Pouco a pouco saciei tua sede de mim. Entre sussurros e gemidos abandonei um pouco da minha inocência. Inocência essa que trouxe gargalhada aos teus lábios. Tão boba, menina. Tão linda ao mesmo tempo. Ser teu pão, tua comida, nem parecia tão Cazuza. Parecia canção feita em nossa pele. Som que surgiu de nosso gozo. Melodia que cresceu de nós. Da canção aos urros. Da excitação ao prazer pleno. Fomos.

— Já podemos ir.

Disse por um instante. Não antes de olhar o meu reflexo em teus olhos e me ver inteira ali.



terça-feira, maio 23, 2017

Obrigada por me magoar, rapaz!



É sério. Obrigada por me magoar mesmo. Fiz de você um príncipe encantado que você nunca foi. Fiz de você meu grande amigo que você nunca foi. Existem any maneiras de se dar um fora em uma mulher. Você não usou nenhuma. Preferiu ir levando tudo como se desse pra equilibrar tudo o que eu esperava de você e a sua vida. Com a sua família, seu trabalho, seus planos.

Eu queria coisa séria. Você queria uma diversão. A namorada estava no exterior e eu não sabia da existência dela. Obrigada por me magoar, me fazer de plano B. Eu não queria enxergar. Mas bastou ver suas atitudes, sua frieza e o esforço que você fazia pra ver meu sorriso que eu percebi. Tinha algo ali. No começo eu realmente não quis enxergar. Mentia pra mim mesma.

Era mais fácil assim. E você me ignorava. Eu ia te driblando. Ia insistindo. Achava que no alto da minha guerra de ego imbecil, estava no pódio. Mas minha autoestima estava guardada à cadeado em uma gaveta. Meu orgulho foi abaixo. Quanto mais me humilhava, mais achava que estava te ganhando. Só que você só era educado. Bastava dizer “não”. Era só dizer que não queria e me tirar da sua vida. Mas você dizia não querer e me abraçava no dia seguinte. Ficava todo fofo. Então eu ia relevando. Sabe, rapaz, te agradecer por me magoar é a forma mais madura que tenho pra dizer: eu acordei.

Te venci. Tirei você da minha vida. Saí do seu caminho. Mudei meu rumo. A depender de você, estaríamos até hoje nos vendo por aí. Você ia sorrir pra mim. Me abraçar, me beijar. E isso nunca teria fim. Era bem capaz deu enlouquecer. Me sentia como um boneco de cordas. Era manipulada pelas suas atitudes. Hoje me pego pensando em tudo e me pergunto “onde eu estava com o meu juízo?”. Se você não tivesse me magoado como fez, talvez eu ainda estivesse nessa loucura de mentir pra mim. Você não era frio. Não era ocupado. Não era indiferente. Não era inconstante.

Você não tinha interesse por mim como eu tinha por você. Seu único erro foi não sair do meu caminho antes de me magoar. Mas foi melhor assim. Cresci muito depois de você, moço.
Por isso sou grata. Isso foi necessário pra eu ver onde tinha me enfiado. Pra eu enxergar o que estava diante do meu nariz, mas eu fingia não ver. Era mais fácil e doce mentir pra mim.

Achar que você tinha escolhido uma vida preto e branco. E que eu iria colorir a sua vida. Você já tinha quem colorisse a sua vida. Só não me disse. E preferiu sim, o preto e branco. Mas me mantinha por perto. Devia ser bom não é mesmo? Ter sempre a trouxa aqui pra te ajudar. Te ouvir. Dar boas gargalhadas. Ser compreensiva. Claro que era bom! Era perfeito! Só que a trouxa aqui cansou. Porque até as trouxas se cansam. Saem de cena. Mais uma vez, rapaz, muito obrigada por me magoar. 


segunda-feira, maio 22, 2017

A gente precisa acreditar.


►Leia ao som de A gente só precisa acreditar, Ivo Mozart.◄

Olhe dentro dos meus olhos e segure a minha mão. Não há nada lá fora com que devamos nos preocupar. Feche os olhos às contas, aos seus medos e à falta de sucesso. Tudo o que temos hoje é o amor que nutrimos um pelo outro. E temos tudo. Feche os ouvidos à vida que insiste em dizer que não é a hora, que não é o momento e que fracassaremos. Abra os seus braços e me acolha em seu abraço. Devagar me envolva e olhe fixamente em meus olhos, pois a nossa verdade se esconde ali. 

Só por hoje eu peço que você quebre as regras e deixe o destino se esgoelar dizendo que não conseguiremos. Só por hoje, por um minuto, eu rogo que deixemos para trás tudo aquilo que atravanca o nosso caminho. A vida é tão efêmera e a brevidade dos dias vêm nos dizer que não há tempo a perder. Para quê economizar vontades? Se o nosso coração já sabe onde deseja estar. Se o nosso corpo só precisa de uma rede para descansar.

A gente só precisa acreditar nos sentimentos que trazemos conosco. Preciso abraçar com fé os nossos objetivos e olhar além das montanhas, dos problemas e das impossibilidades. A gente só precisa acreditar que tudo vai dar certo. Saber que a vida não se desenha em linha reta e ter compaixão por nós mesmos. Todos nós temos dias bons e maus. Todos nós sabemos que a vida precisa ser domada e não nos dominar.

Só por hoje eu peço que você olhe dentro dos meus olhos e veja a história que há muito estamos construindo. Que as promessas que fizemos em nossos lábios são maiores do que as adversidades que se instalam em meio a nós. Só porque hoje eu peço que você acredite. Acredite com o coração. Acredite com todo o âmago do seu ser. Só por hoje eu peço que os problemas sejam deixados de lado para que possamos olhar sem véu ao amor que temos. 

Só por hoje, porque no final das contas a gente só precisa acreditar.


sexta-feira, maio 19, 2017

A geração do desapego!



Dia dos namorados se aproximando é a mesma coisa que dezembro quando está perto da noite de réveillon: lá vem mais uma baita nostalgia com uma retrospectiva anual.que é que eu fiz durante esse ano de solteiro? Quantas bocas eu beijei? Ana Carolina, Gabriela, ops! Acho que era Sthefany mas chamei de Daniela, erro meu. Não estou acostumado em manter a frequência se é que me entende.

Um sábado à noite, um encontro, uma sorveteria, talvez um cinema ou até mesmo um domingo preguiçoso na cama de conchinha, vai depender de quem será a minha companhia. Ligo a televisão é: “só love, só love”. No rádio só toca música romântica, na rua todas as lojas estão abarrotadas de balão de coração, é uma epidemia tão doce que chega a me dar náuseas.

Marco um futebol com o Paulinho, mas ele tem que levar a mulher no aniversário da tia-avó. Chamo o Guto para aquele open bar e digo que levarei uma amiga da minha garota da vez, ele me dispensa porque o lance com a Caty evoluiu e agora ele entrou para o time do sosseguei. Eu hein, será que é o mal do século? Ou será que sou eu que não me canso dessa vida de rei?

Mas que reinado mas sem graça! Está sobrando vassalos e me faltando, a minha rainha.

-É, mais pera? Quem é que preferiu jogatina ao invés do xadrez? Brada um resquício de consciência e que me bota para refletir.

Foram tantas as companhias, mas continuo me sentindo só, não sei de quem é a culpa, mas quem arca com as consequências unicamente sou eu, e não há quem possa de mim ter dó. Eu que me prendo em um olhar, me rendo por um sorriso e até juro que vou casar por causa do sabor de um beijo, eu que me deleito em alguns corpos, sacio o desejo do momento e digo que depois eu vejo o que irei fazer.

É desejos, luxúria, corpos que se entregam, mas sem nenhum afeto. Eu quero me apaixonar, mas me proíbo antes mesmo do sol raiar, um beijo daqui um nome trocado dali, onde é que tudo isso irá me levar? Eu nunca sei, mas no final sinto uma vontade louca de pedir ajuda, mas quem é que vai mesmo me ouvir? Eu me fechei e mandei o amor ir parar em outra freguesia, porque aqui pra ele não tinha lugar. Então o que fazer quando a única vontade é de se apaixonar?

Eu devo estar ficando louco, mas pera, é apenas essa maldita data, sempre nessa época do ano fico nessa onda da casa de cerquinha branca, os filhos e o cachorro, mas logo o tempo voa e já voltamos para o carnaval, e de boca em boca eu vou calando as minhas intensões, o bom da vida é ser solteiro e ser o único dono de minhas emoções.

— Será? Me pergunta novamente a minha consciência gritante.

— Se tu estás tão feliz em ser da liberdade por que cogitas no amor pensar? Bom, guarde para si próprio suas justificativas, eu só sei que o mundo está aí, e você que finge estar vivo, está perdendo a essência do que realmente é viver.

Sabe aquela sensação que nos deixa com respiração ofegante, a ansiedade domina até acontecer o próximo encontro, e de repente nos vemos tão ligados a uma pessoa que o fato dela nos abandonar chega a doer? Ah é, tinha me esquecido, tu não conheces esse sentimento. Mas de dor tu entendes né? Dela tu se cerca toda vez que o amor te ronda e dele você jura não precisar. Então fiques nessa realidade alternativa que tu mesmo escolheste, e deixe a data 12 de junho para quem realmente não tem medo de ser romeu.

Nota de rodapé em adendo: “Tu escolheste a vida que estás vivendo, então não reclame da solidão, se ela é a única que tu permites ser permanente em sua vida”. 


segunda-feira, maio 15, 2017

Largo tudo se a gente se casar domingo.


 
 
Sábado.
 
Fecho os olhos e consigo lembrar teu primeiro sorriso: largo e acolhedor. A vida é mesmo muito maluca. De repente estou ali, cortando alguns papéis e em poucos segundos estou mergulhada no olhar de um desconhecido. Poucos metros nos separavam. O teu olhar me fitava curioso como quem desvenda um mistério. Sorri de volta, timidamente. Sem perceber que dentro de mim algo novo nascia. Aproximei para recepcioná-lo e teu abraço pareceu um moletom a me envolver. Eu não parecia estrangeira entre os teus braços. Parece que fui feita para estar ali.
 
A gente tem uma mania de embonitar a vida. De esperar por encontros hollywoodianos ou cenas cinematográficas. Quando na verdade as melhores histórias acontecem assim, ao acaso, em um sábado à tarde, num lugar improvável e cheio de pessoas. A gente espera tanto aquela clássica derrubada de papéis, ou encontros em aeroportos, mas nunca espera um sorriso convidativo ou um abraço que parece casa.
 
Você me veio aquela tarde para mostrar o quão bonita é a vida. Para despertar em meu coração emoções desconhecidas e me fazer acreditar que sentimentos bons nascem em quaisquer circunstâncias. Você nasceu ali, como um feijãozinho enterrado em um pedaço de algodão, nasceu timidamente, sem muitas perspectivas e de repente suas raízes se alastraram por todos os meus cômodos. Tive que abrir janelas e escancarar as portas. Tudo por conta do teu sorriso-casa. Teu sorriso-lar. Teu sorriso-vem-morar-em-mim. Fui.
 
A gente sabe que é casa de alguém. Dá pra sentir quando se acomodam dentro de nós. Quando desfazem as malas e arrumam suas coisas. As roupas se misturam, as escovas se beijam, as peças íntimas dividem a mesma gaveta. A gente sabe que é a casa de alguém quando abrem as nossas janelas para o sol entrar, quando têm zelo por nossos quartos, e amor por nossas paredes. Somos casa de alguém quando no mundo há mil lugares a ir, mas nenhum se compara a nós. Quando fechamos a porta de casa e colocamos a chave no bolso. Vou só até a padaria, amor. Eu já volto.
 
E você me volta sempre. Volta com o mesmo sorriso-casa, sorriso-lar, sorriso-vem-morar-em-mim, e eu sempre vou morar em ti. Porque "quando eu te vi fiquei paralisado". E sim, eu largo tudo se a gente se casar domingo, segunda ou qualquer dia que tu desejares.
 
 
 

quarta-feira, maio 10, 2017

O meu amor é uma luta que eu perdi.


O meu amor é um galeguinho carregando uma mochila de rodinha para a escola. Um menino que somente nasceu no coração. É uma casa com um jardim cheio de rosas e flores silvestres. E, um canteiro cheio de cheiro-verde e manjericão. O meu amor é um mapa mundi emoldurado em um escritório cheio de móveis rústicos. São facas artesanais que ganham vida na garagem da casa. O meu amor é um porta-retratos com a foto de uma moça de lábios vermelhos, olhar distante e apaixonado. O meu amor são várias cartas postadas, em diversas épocas, são declarações de amor feitas às escondidas em blogs secretos.

O meu amor é a admiração de meu pai e o respeito por alguém que acabara de conhecer. É um até breve sincero de quem realmente esperava um retorno. O meu amor é um almoço em família com vinagrete azedinha e o olhar dele me acompanhando pela cozinha. O meu amor é o sorriso dele ao me fitar, o abraço dele ao me agarras na sala, na cozinha, na área e no sofá. O meu amor é uma filmagem no carro deixando quem dirigia afobado. É um entrelaçar de dedos enquanto a noite vai banhando o Lago Paranoá.

O meu amor é um cafuné gostoso deitado no colo de quem se ama. É a volta da casa com forró no carro, é um caldo apimentado à noite e beijos que pareciam não ter fim. O meu amor é um começo que não tem fim. É um perder e encontrar-se ali. São os olhos miúdos a decifrar meu coração, meus olhos. São mãos a ler em braile o meu corpo. O meu amor é uma história que nasceu para morrer. Que trouxe vida até onde pôde.

O meu amor é a insistência de que é para ser. É o coração tentando, inutilmente, confrontar a razão. O meu amor é a fé de que podemos tudo aquilo que desejarmos. É uma casinha que não chegou a ser planta. O meu amor é o desejo que ninguém mais me toque. Que não haja outro alguém, que não seja outro alguém. O meu amor é a vontade de ver teus olhos em um galeguinho e a vontade de dizer – mesmo contrariamente – que realmente só parece com você. O meu amor é uma luta que eu perdi. 



terça-feira, maio 09, 2017

Mais de mil quilômetros.



Dois mil e quinze.

Havia um rapaz que não sabia se ficava ou se ia embora.  Que não sabia se abraçava ou se soltava. Que não sabia se amava ou se estava ali somente. Havia um rapaz até um outro rapaz chegar. Eu achava que amava até esse rapaz chegar. A gente confunde muito o amor. Acreditamos que o amor é o desejo, a pele e sempre estar perto. Amor não é físico. Não somente. Amor é aquele bom dia com desejo de boa sorte em um encontro de escritores, é vibrar e ouvir atentamente cada palavra do final de semana, é sentir uma pitadinha de ciúme mesmo sem conhecer a pessoa direito. É dar conselhos sem esperar nada em troca. Sem desejar ganhar vantagem com aquilo. Só pra tirar um pouco da angústia do coração do outro.

Amor é Kid Abelha cantando ao fundo e virando legenda de foto. É dormir e acordar com o pensamento naquela pessoa. É dar bom dia ansioso e sorrir do outro lado da tela. É se ver mergulhando em um sentimento sem saber onde ele irá nos levar. Ninguém escolhe por quem se apaixonar. Se pudéssemos escolheríamos o mais fácil. O que é mais palpável. O que não requer muito esforço. Mas o amor não é assim. Ele escolhe alguém que está há mais de mil quilômetros de nós. Ele não entende as dificuldades, não entende os malabarismos e tampouco se importa com o amanhã. O amor não é cego. Ele enxerga além. Ele cria possibilidades. Ele transforma pequenos empecilhos em grandes oportunidades. Ele apresenta um horizonte azul e cheio de esperança.

Amor é fotografia com os olhos sonhadores. É sentir o amor na voz do outro. É dizer aos amigos: “eu me casarei com ela”. É não ter certeza do amanhã e ainda assim ter esperança. É perceber que encontramos o amor de nossas vidas, a alma gêmea separada, e saber que nem mesmo a distância fora capaz de escondê-la de nossos olhos. O amor é coisa mágica e a gente só percebe isso quando vê na íris do outro, pela primeira vez, o quanto se é amado e querido. É cantar: “não me mate dentro de ti”, como oração para que ela permaneça. É desligar às 3 da manhã ansiando pelo outro dia. É fazer carinho na tela do telefone e perceber que realmente há sentimento.

Amor é distância que maltrata. É sentimento que parece impossível às vezes. É olhar para as impossibilidades e chorar, sofrer e se ver perdido. É dar adeus uma, duas, três vezes e sempre voltar atrás. É abraçar quem amamos e se perder dentro dos braços. É beijar o outro e se transformar em um. É sorrir das mesmas piadas, é cafuné em um dia de domingo, é calor dos corpos em uma manhã ensolarada, é olho no olho quando se diz: “eu te amo”, é a gargalhada quando se descobre a inocência do outro, e a surpresa que se tem diante da falta de mácula.

Amor é cafuné de novo no lago, é andar de mãos dadas mesmo desengonçada, é dar palmada, é fotografia, é passeio na cidade ou simplesmente um domingo no shopping da cidade. Amor é estar dentro da vida do outro e não se sentir estrangeiro. É olhar para a vida de quem amamos e se sentir confortável ali. É uma promessa ao pai de quem amamos de que voltará em breve. É perceber que a vida já preparou tudo até ali. Ao amor não cabe a facilidade, infelizmente, mas cabe a batalha e a esperança. O amor não nos promete céus e terras. Mas nos promete condições para voar e caminhar. Só quem se dispõe a olhar para a vida com coragem é que saberá superar todos os obstáculos que ela nos impõe.


O amor não nos promete nunca facilidade, mas nos assegura – ao final da luta – a felicidade.


segunda-feira, maio 08, 2017

A vida requer movimento.


►Leia ao som de November Rain, Guns N' Roses◄

A vida não é um caminho reto e nós percebemos isso quando vemos os nossos sonhos saindo da linha. Ninguém é tão dono de sua vida e muito menos capaz de controlar o tempo. Nossos planos às vezes sairão fora do planejado, mas isso não é motivo para se desesperar ou desistir. Alguns caminhos parecem longos demais, desastrosos demais e complicados demais, mas tudo isso porque não conseguimos extrair dos erros, dos baques, o essencial à caminhada. Ter fé é combustível suficiente para realizar os nossos sonhos. Acreditar é necessário. 

A casa que você sonhou, o carro que você desde criança sempre quis, os filhos que vivem em sua mente, nada deles são realmente seus até que você os queira e batalhe por eles. Casas não caem dos céus, carros não encontrados na rua com a chave na ignição, filhos não são bonecos que se compram em lojas de brinquedos. Tudo isso e, muito mais, requer esforço, planejamento e, acima de tudo, esperança. Esperança em nós. Fé que conseguiremos. Força de vontade para buscá-los. 

A vida requer movimento. Ela pede que nós caminhemos, mesmo que estejamos desacreditados e feridos. Ela pede que olhemos com mais generosidade para nós mesmos, com mais complacência aos nossos medos e com mais mansidão para os nossos objetivos. Nada daquilo que surge em nossos coração é em vão. Toda semente que cai sobre o seu solo é capaz de germinar desde que a reguemos. Nenhum sonho é irrealizável. A própria palavra diz que nada é impossível àquele que crê.

Por isso eu digo: creia.

E apesar de saber que há dias que precisemos do silêncio, rever os nossos conceitos e olhar para dentro de nós, eu lhe digo: não é possível atravessar a vida com medo do amanhã. Não é possível agarrar nossos sonhos se não quisermos de fato. A vida corre depressa e se não corrermos atrás, andarmos lado a lado, veremos mais adiante que ela escorregou por entre nossos dedos. Que ela se apagou igual uma vela em uma noite fria de novembro.


quinta-feira, maio 04, 2017

Amor-próprio, menina!




Ela ainda guarda as recordações do relacionamento que acabou. Caixas estão guardadas em seu guarda-roupa com as lembranças de dias vividos. São fotografias, pelúcias e até papéis de balinha. Ela ainda os guarda na esperança de tê-lo de volta. Não há espaço em seu coração para o fim. Não há como acreditar que um “amor para sempre” tenha chegado ao fim. Ela olha para as lembranças do Facebook e as lágrimas escorrem copiosamente por sua fase. Ela olha para o canhoto do último show que estiveram e suspira com força. Tudo parece lembrá-lo: desde a fresta que entra pela janela, até o ar-condicionado super gelado. Ali, diante daquelas lembranças, a vida parece não ter sentido, o ar não parece respirável.

Tudo dói. Viver dói. Ser quem é, dói.

Ela ainda guarda em seu coração muito dele. E apesar de ouvir de todos que a vida segue, ela permanece ali: estática e sem vida. Tudo gira em torno dele. A música que toca no IPOD a transporta para dias mais felizes, a poesia que aparece em sua timeline a lembra que ele já não está mais lá. A vida a todo instante lhe diz que não, mas a sua consciência e o seu coração dizem que sim. Não há mais briga entre razão e emoção. Tudo é um emaranhado só. Tudo se tornou uma única coisa.

“Amor-próprio, menina.” Todos dizem. Mas ela insiste que já se ama o bastante e que as pessoas é que não veem os sinais. Ele a ama e só está desnorteado. Só precisa de um tempo para reconhecer que sempre a amou. Só precisa de um reencontro para perceber que ela é a mulher da vida dele. Só precisa que lhe caia a venda dos olhos. Só precisa que a vida lhe prove que ele estava errado quanto aos dois. Só precisa que ele assista um filme e que os personagens relembre a ele o amor dos dois. Só precisa.

A moça, colecionadora de lembranças, guarda consigo a certeza de um amanhã que não condiz com a realidade. Vive em um calendário passado. Sobrevive aos dias se alimentando de uma história que há tempos fora pontuada com ponto final. Ela vive de reticências. Vive de “talvezes”, de uma fé assombrosa e de um amor doentio. “Amor-próprio, moça.” Todos dizem. Mas quem vê de fora não consegue compreender o turbilhão que há dentro dela. Não consegue entender que tinha uma casa, tinha filhos, um casamento e uma vida feliz planejada em sua cabeça. Quem vê de fora só enxerga a casca.


Só que quem vê de fora, moça bonita, também vê que algumas histórias têm seu fim.


quarta-feira, maio 03, 2017

Não rola viver de talvez!



Quem me dera se quando eu fechasse meus olhos, todos os meus sonhos se tornassem realidade. Acho que já idealizei a pessoa na minha mente quinhentas vezes ou talvez mais. Essa coisa de ficar esperando, remoendo se a bendita pessoa não chega cria em nós uma danada de uma cobrança diária. Até chegar o momento que achamos que vamos pirar.
O cara do ônibus que não reparou como eu o olhava, o caixa do banco que não notou que eu faço hora só para que ele me atenda, aquele carinha que passou por mim na rua e era extremamente cheiroso, o carinha que eu beijei na balada e que nem se quer pegou meu telefone, tantos talvez, tantos que poderiam ter sido, que chega uma hora que a gente pira.
Temos a mania de depositar tanta fé nesse “ter alguém”, que em um determinando momento da vida, esquecemos de nós, de nos amar, e de ser quem somos. Não dá para viver esperando o outro chegar, porque aqui - na sinceridade - não sabemos o momento exato que ele chegará, E, pode ser que ele não chegue.
E, algumas vezes, depositamos tanto a nossa esperança em alguém que passa na nossa vida, que quando essa pessoa vai embora, nos fechamos novamente no nosso mundo. E ficamos ali, naquele casulo só nosso, numerando os nossos defeitos e rezando para quem quer que seja ou a hora que seja, que a próxima pessoa seja a certa.
Por isso, viva, sorria, chore e se permita, a vida é curta demais para viver no que não aconteceu, quando o “alguém chegar”, você vai ser capaz de entender, que simplesmente não era pra ter acontecido antes.


terça-feira, maio 02, 2017

A vida é trem-bala, parceiro.


 ►Leia ao som de Trem Bala, Ana Vilela◄

A vida passa depressa demais. Nascemos e antes que nossos pais curtam os nossos primeiros meses, lá estamos nós no jardim de infância. A vida corre depressa demais. De massinhas de modelar passamos a modelar com os vestidos de nossas mães. Trocamos as nossas bonecas e bolas pelas contas quilométricas de matemática. Deixamos para trás a meninice de dias regados de brincadeiras para abraçarmos – mesmo a contragosto – a responsabilidade de estudar rumo a um futuro desconhecido.

A vida caminha na velocidade da luz. E só percebemos isso quando nos vemos eufóricos pelo baile de formatura do ensino médio. O vestido vermelho não casou com os acessórios, o sapato não é confortável para a noite de dança e a insegurança da valsa salta à goela. A gente só percebe que o tempo passa depressa quando nos vemos nesses momentos decisivos. Quando nos deparamos com questões que decidirão o nosso futuro.

A vida é fugaz demais. E a gente só percebe quando do primeiro beijo nós pulamos para o beijo no altar. Quando de todos os “sims” que demos nos deparamos com o maior de todos. Quando olhamos para trás e percebemos que todas as desilusões, todas as vezes que colamos os nossos corações, fora necessário para chegar até onde chegamos. Ninguém chega à maioridade sem um arranhão. E, é nessa hora que a gente bendiz as cicatrizes e agradecemos a Deus por todas as quedas.

A vida é veloz demais e você só percebe isso quando entende que deveria ter amado mais quem estava ao seu redor. Que deveria ter ouvido os causos de seu avô e os conselhos de sua avó. Que poderia ter sido mais paciente e compreensiva com seus pais. Que deveria ter aproveitado mais os almoços de família e teria rido – mesmo sem achar graça – da piada do pavê que o tio faz todo fim de ano. Que você deveria ser mais parceiro e amigo dos seus irmãos.


A gente só percebe que a vida passa depressa, quando não há mais vida para viver.