domingo, março 24, 2013

Das vontades.


Em parceria com a bonita da MF.



Entoava Cazuza na voz rouca da magnífica Cássia Eller em minha mente “eu quero a sorte de um amor tranquilo, com saber de fruta mordida...”. Botei o pensamento no repeat e cantei em silêncio esta mesma música quase a transformando num mantra. Minha testa gelava a medida em que ficava com ela apoiada no vidro da janela. Eu observava a quietude da rua, a noite alaranjada, os pontinhos de luz nos prédios como vaga-lumes que não piscam, a chuva que lavava o asfalto e esfriava gradativamente o mormaço da vida.
Eu desejava viver a música em sua integralidade. Sonhava em ter realmente um amor quase que sobrenatural, algo como Eduardo e Mônica ou até mesmo Romeu e Julieta, e a cada palavra cantada eu juro que rezava para que algum milagre acontecesse e a minha mente divagava em possíveis situações que me faria conhecer alguém. Confesso até que imaginei na clássica esbarrada derrubando livros e a fatídica troca de olhares e de tanto imaginar me doeu um bocado, porque eu via que sonhara demais e que histórias assim são muito hollywoodianas para uma vida normal.
Qual era o problema comigo, afinal? Ou melhor, qual era o problema do mundo? Que mal há em se querer um amor doce, um felizes para sempre bordadinho de clichês? Ando cansada dos quereres e chateada pelas recriminações silenciosas que recebo dos olhares de outrem, só por eu ser sonhadora e amar de mais. E eu amo. Eu amo aquele que não conheço, eu amo aquele que ainda não me descobriu e eu amo o amor que posso inventar para “nós dois”, esse nós que sequer existe.

quarta-feira, março 20, 2013

Alguém que eu costumava conhecer.


Now and then I think of when we were together
Like when you said you felt so happy you could die
Told myself that you were right for me ♫♪♪
Gotye.



Estava sentada  na calçada tentando lembrar quantas vezes quis te dar o céu, quis ouvir a sua voz do outro lado da linha e dizer:"oi, vem me ver". Acontece que as ligações não foram feitas e as tentativas de reaproximação foram todas desastrosas. Lembro também de todas as vezes que ensaiei versos para te apaixonar, mas descobri que só os poetas é que entendem a sutileza dos versos. Lembrei também de quantas vezes eu quis uma conversa clara e sincera, mas hoje compreendi que o ditado:"quando um não quer, dois não fazem" não foi escrito por qualquer motivo. 

Eu estava aqui com meus fones de ouvido olhando para o céu nublado e percebi que o meu coração esteve por um tempo assim, com nuvens cinzas, pesadas e que a qualquer momento eu poderia "chover". Eu me vi mergulhada, por um tempo, em um mar de tristeza e compreendi que ela pode ser viciosa e se não tomarmos cuidado aos poucos ela se alastra pelo corpo como uma trepadeira em busca de apoio. E, ainda inerte, nos pensamentos, um lapso de lucidez me abraçou e entendi que não fazemos sentido algum e, eu admito, estou feliz por ter acabado. 

Eu não preciso mais saber dos seus dias e você me deu isso sem pedir. Eu suporto os dias sem saber se você está feliz ou não, eu caminho bem sem ter você "ao meu lado", é fácil agir como se nada houvesse acontecido e pensar que tudo o que passou não foi nada. Eu nem sequer preciso saber se você almoçou, se foi ao trabalho ou se ficou irritado com alguém, eu nem sequer preciso do seu amor. De vez em quando eu penso em todas as vezes que você me magoou, e em todas as vezes que eu quis enxergar somente o bom em você, mas a gente cansa de ficar interpretando a pessoa o tempo todo. A gente cansa de amar sozinho e não ter a mão do outro para amparar. E hoje, diante de toda essa idiotice que vivi só me resta a dizer: "agora você será apenas alguém que eu costumava conhecer". De volta a realidade, beibe. De volta.

segunda-feira, março 11, 2013

Fé no amor.



"Never had much faith in love or miracles 
Never wanna put my heart on the line 
But swimming in your world is something spiritual 
I'm gonna get every time you spank the night"
— Bruno Mars.



É a cara de chateação quando a "mizinha" do seu violão quebra, é a sua voz embromando -, mas ainda sim perfeita -, em inglês britânico, é o seu coração que bate compassadamente com o meu quando estamos abraçados, é o teu cabelo despenteado ao acordar, é a tua mão pousando sobre o meu ombro de leve ao pôr-do-sol, é a tua voz baixa ao cantar "more than words" para me apaixonar, é o teu amor enroscando-se ao meu em cada sonhar.

Eu que  não rezava há tempos e, tampouco, acreditava no amor descobri que ainda era possível. Porque você veio plantar flores dentro de mim e, dessa forma, zilhões de borboletas foram atraídas até mim. Eu que não entendia sobre galáxias, hoje consigo enxergar milhares dentro dos teus olhos, eu que não me enamorava das estrelas, trago-as aos meus lábios cada vez que beijo os seus cílios, experimentando um céu inteiro em um ósculo quase santo.

Nós que não éramos e hoje somos, nós que deixamos de ser dois e tornamos um, nós que aprendemos a amar até mesmo a indelicadeza do outro, nós que não tínhamos pretensão alguma de ser, nós que andamos por aí de mãos dadas e com um sorriso nos lábios, nós que compreendemos que a felicidade está em ser e não em ter, nós que entendemos que a poesia é a vida que ninguém vê, nós que decidimos ter fé e acreditar. Acreditar que o amor é só isso: esse ser e estar.