segunda-feira, agosto 31, 2015

O amor é coisa de.



O amor é coisa de cinema mudo e a gente percebe isso quando emudece na frente do outro. Quando as palavras não conseguem descrever o que pulula aqui dentro do peito, o que bate e faz barulho feito bateria de escola de samba. É quando as noites se tornam insones não por problemas a serem resolvidos, mas pelo simples fato de te olhar ressonar manso e suave sobre o meu travesseiro. Ou encontrar uma razão para estender os minutos, mesmo que em uma segunda-feira perto de ir trabalhar, só para deixar que a tua barba percorra os meus caminhos mais secretos.

O amor é coisa de mágico e a gente sabe isso quando de repente ele surge, como um coelho que é retirado da cartola e intriga todo mundo a sua volta. A gente vê surgindo, os olhos não acreditam, e ainda assim a gente fica feliz e sorri. É quando a vida vira aquarela e se pinta de diversas cores, quando o vermelho e a paixão ocupam o mesmo espaço, quando o azul se funde aos nossos sonhos de verão com céu límpido. 

O amor é coisa de colecionador e a gente sabe disso quando se vê colecionando o sorriso do outro, quando percebe que quem amamos tem um sorriso para cada situação, que ele desenha um coração nos lábios quando a saudade esteve presente por dias, que tece um sorriso em forma de constelação quando se vê caindo de paixão feito estrela cadente, que rascunha um riso de maria mole - bem docinho - quando se quer amolecer também o coração do outro.

O amor é coisa de gente corajosa e a gente sabe disso quando mergulhamos sem medo, mesmo sem saber nadar, sem enxergar a profundidade, sem conseguir tocar os pés no fundo. Quando a gente se vê dentro de uma teia sem ter vontade de sair, quando se conta o calendário não mais pelos dias normais, mas pelos dias em que nós estaremos, seremos, viveremos, para o outro. 

O amor é coisa de diabético e a gente não se incomoda mesmo sabendo que pode ser prejudicial, pode ser perigoso e, ou, quem sabe, mortal. A gente prova a boca, o beijo, o corpo, o pelo, o todo e quer mais e mais. Mesmo tendo açúcar em demasia, mesmo havendo outras bocas tão doces, tantos outros a se amar e conhecer, a única que nos apetecerá ainda será. Sim.

O amor é coisa de cinema - eu repito - e a gente sabe porque eu emudeço, você emudece, nós emudeceremos, na frente do outro quando ele sorrir.

quinta-feira, agosto 27, 2015

Depressão é doença, mas tem cura!




"Nunca despreze as pessoas deprimidas. A depressão é o último estágio da dor humana".
Augusto Cury

Aos poucos você se vê no fundo do poço, mas só consegue reconhecer que precisa de ajuda quando já está se afogando ou bebendo a sua água lamacenta. Ninguém quer admitir que precisa do outro, que tem que estender a mão a fim de ser resgatado dali, porque algumas vezes - lá em nosso íntimo - nós gostamos do sabor da água. Tem dias em que você deseja somente deitar em sua cama e permanecer com os olhos fixos no teto ou, quem sabe, direcionar o seu olhar em algum ponto fixo e esvaziar um pouco a mente. Olhar para o nada algumas vezes ajuda a amenizar o que é latente, o que nos corrói por dentro. 

Acima descrevo os sentimentos que trago comigo há anos. Muitas pessoas têm vergonha de reconhecer-se doente, porque é muito mais cômodo e fácil caminhar com suas oscilações de humor, do que correr atrás de um tratamento que muitas vezes pode ser desgastante. Falar sobre o que sentimos nem sempre é fácil, buscar a raiz da dor é muitas vezes torturante, mas carregar a depressão consigo é muito mais devastador. Acredite.

Abaixo escrevo por tópicos alguns sintomas que vejo em algumas pessoas e que, eu mesma já vivenciei. Espero poder ajudar de alguma forma. E antes de começar a enumerar tenho duas coisas a dizer: não, não é falta de Deus e não, você não está sozinho no mundo. Muitos compartilham da mesma dor.

1. Tendências ao suicídio:

A cabeça de uma pessoa com depressão é uma bomba relógio. Muitos pensamentos vêm e vão durante o dia, há muita análise sobre aquilo que fazemos e deixamos de fazer, sobre decisões que foram tomadas, questionamentos que não têm perguntas exatas. Há muito tempo atrás, uma psicóloga me disse algo que sempre me vem à mente: "o suicídio é uma solução permanente para um problema que é temporário". E venho carregando, desde então, comigo essa verdade. Todos os nossos problemas são solucionáveis e não há nada que um dia após o outro para nos provar essa verdade. Quando Robin Williams se suicidou ano passado consternada, entristecida, não somente pelo fato de ser fã de seus filmes, mas porque fiquei imaginando, tentando entendê-lo, pensando o quão deveria ser difícil a sua vida. Muitas pessoas nos veem alegres, mas nem todos conseguem captar a nossa essência, aquilo que trazemos na alma. 

2. Falta de concentração:

De repente tarefas que eram fáceis e quase automáticas tornam-se difíceis de serem concluídas. Você se perde no meio da leitura e não consegue concatenar as ideias, no meio de uma conversa não consegue se lembrar sobre o que iria falar e tem que recomeçar, busca o raciocínio desde o início. Esquecer compromissos, confundir nomes ou até mesmo esquecê-los. Há uma confusão enorme de pensamentos dentro da cabeça e uma incapacidade enorme de organizá-los.

3. Perda de interesse em coisas que gostava:

Você já não tem vontade de de fazer as coisas que antes eram essenciais, que te davam prazer. Acredito que esse sintoma seja um dos maiores indícios da doença. E não nos atenhamos apenas a eventos sociais, mas um passeio com os cachorros, estar entre amigos, programas sociais leves ou tomar conta de seus filhos. Tudo isso é deixado de lado por qualquer desculpa e, aos poucos, a pessoa vai se isolando do mundo e de todos. Há, muitas vezes, um cansaço exagerado e a pessoa demonstra-se sem energia, sem forças, enfraquecida e o resultado disso se torna visível mediante o baixo desenvolvimento das suas tarefas diárias, a improdutividade no serviço e outras atividades rotineiras. E em seu grau mais elevado, esse sintoma, pode encarcerar o deprimido em seu quarto a ponto de a pessoa não conseguir levantar da cama.

4. Você chora sem motivo:

Muitas vezes o choro é frequente e sem motivos aparentes. Você procura uma causa dentro de si, das coisas que vem enfrentando, mas não consegue encontrar um que seja plausível. Não há nada que o justifique na verdade e o choro vem "do nada" como algumas pessoas costumam dizer. Li há algum tempo que nem toda pessoa deprimida chora, muitas delas guardam dentro de si. E pude observar na convivência diária com algumas pessoas que isso é realmente verídico. Muitas vezes você descobre que alguém tem depressão e fica chocado, porque ela não demonstra - fisicamente - nenhum sinal. Chorar demais não te faz uma pessoa deprimida, contudo é importante investigar as causas do choro. É como dizem: "onde há fumaça, há fogo". Então vale a pena apurar o que há de errado.

5. Eu sou o problema no mundo:

Nós sabemos que há algo errado e abraçamos a culpa com veemência. Quando estamos afundados na depressão não conseguimos enxergar uma luz no final do túnel, encontrar uma saída ou ter pensamentos positivos. Nós ficamos amarrados em erros do passado, em decisões que errados que tomamos, remoemos tanto aquilo que vivemos e vamos vivendo, sem perceber, tudo novamente e até em uma proporção maior. Um sentimento de temor, desesperança e inutilidade nos abraça e nos tornamos inertes diante dos problemas e muitas vezes somos tomados por um baixo astral que nos impossibilita de reagirmos, tirando de nós a capacidade de expressarmos qualquer tipo de sentimento de felicidade e desencadeando, muitas vezes, o desinteresse pela vida.

Nota: Não tenho formação alguma na área médica ou de psicologia. A única ligação que tenho em relação a essa doença é o fato de carregá-la comigo há anos. Se você se viu em algum desses tópicos e tem vontade de dar a volta por cima procure um médico, um tratamento, um curandeiro, uma igreja. O que você não pode, sinceramente, é esperar essa doença te matar, assim como fiz por muitos anos. Sorte a minha dela não ter vencido.

Sorte a minha.

quarta-feira, agosto 19, 2015

Desculpa, amor.

Post coletivo do #EEC:
Não me venha com desculpas tortas.


Foi uma miragem. 
Eu repetia em minha mente. A minha memória estava congestionada demais, não conseguia concatenar bem as ideias, mas sabia que - no fundo - aquilo que havia presenciado era real. Os meus olhos te seguiam naquela avenida, naquela tarde de verão com sol a pino, e permaneceram fixos até tuas mãos se entrelaçarem às dela, e com os pés imóveis e embasbacada permaneci ali. Inerte. Esboçando uma reação absorta. Morri mil vezes naquele lugar, debaixo daquele sol de 40º C que a Fernanda Abreu tanto canta para enaltecer o Rio de Janeiro.

Derreti.

Vi meu coração se dissolver naquela praça assim como um picolé se desmancha ao cair no chão quente. E, por um instante, eu quis apenas ter demorado um pouco mais a atravessar a rua, talvez se eu tivesse aceitado a sugestão da manicure de pintar as unhas também, ou se eu tivesse comprado - como sempre faço - um sorvete em frente ao ponto de ônibus, ou, quem sabe, tivesse papeado com o seu Zé na banca de revistas. Mas nada disso eu quis fazer e o destino quis me presentear com a sua aparição dolorosa e repentina. E dentro de mim, em minha cabeça tão atordoada, eu me perguntava o porquê de tudo isso. Por que eu não podia fugir daquilo que havia presenciado? 

E enquanto eu te espero aqui, sentada nesses degraus gastos, sentindo a brisa beijar o rosto que outrora estivera quente pelo sol, elaboro julgamentos, diálogos irrefutáveis, uma forma de te encurralar e impedir que você venha, como sempre, cheio de falácias e conversas moles. E sob esse céu ainda azul eu me vejo abandonada, sem chão, acompanhada apenas de uma lágrima fugitiva, embora contida, e milhões de questionamentos. Dos mais simples aos mais estapafúrdios. 

É, amor! A vida nos presenteia, mas nem sempre o que ela tem nos é de bom grado. Mas, talvez, sem a tua ajuda, sem esse fatídico acontecimento, jamais teria reparado que o amor tem que vir de dentro para fora, que os relacionamentos devem estar embasados, ter seus pilares fixos, na confiança e diálogo. E, sabe, amor, há tempos que já não somos um para o outro. Que a intenção de dividir as vidas, separar os corpos, vem sendo instituída involuntariamente. E, acredito que isso que estamos vivenciando, esse possível fim, já estava escrito com ou sem flagrante.

Suponho que a vida que me levou a descer até à praça hoje à tarde. Creio que sim. E por mais que o sentimento de negação ainda esteja latente dentro do peito, por mais que o meu desejo de que exista explicação grite dentro de mim, eu aceito de boa vontade a sua ida, sem discussões ou conflitos. Não precisa vir até mim com discurso ensaiado, com palavras doces e cheias de amor. Não me venha, meu amor, com desculpas tortas.

sexta-feira, agosto 14, 2015

Cuidado com a carência.


Cuidado com a carência. Ela pode ser uma arma engatilhada na sua cabeça sem que você perceba. Algumas pessoas leiloam seus corações com o intuito de se livrar do rótulo de solteiro. Dê seu coração a quem você acha que merece. Àquele que faz seus olhos brilharem quando passa, à moça que com carinho te veste de gentilezas desinteressadas, ao rapaz que com um bom dia consegue acelerar o teu coração. Não entregue a qualquer um ou porque acha que ninguém jamais te amará. Não dê motivos para que os outros acreditem que seu coração é um objeto. Não dê.

O problema é que abraçamos a primeira oportunidade de abandonarmos esse título e pouco nos importamos se estamos preparados ou não. Limpe a casa. Organize todos os cômodos do seu coração e aguarde o momento certo. O ditado que diz que devemos cuidar de nosso jardim para atrairmos as borboletas é verídico. Não há como receber um visitante sem condições de recepcioná-lo, acolhê-lo. Ele sairá batendo a porta em questão de tempo apenas por causa de sua desorganização.

O amor não tem que ser desesperado. Ao contrário, devemos deixar que ele surja aos poucos. Que ele nasça insuspeitado e sem razão de ser. Assim como as lianas que aos poucos se enroscam à árvore que desejam viver, ‘namorar’. O amor deve ser aguardando, mas para que isso aconteça devemos dar espaço para que ele cresça em nós. Não há como ele sobreviver em nosso interior como se vivesse espremido em uma despensa.

Por isso eu digo: esvazie os cômodos, limpe todas as gavetas, desfaça-se daquilo que não lhe cabe. Deixe os sentimentos antigos de lado, não se atemorize com o passar do tempo, não seja afoito. O amor surgirá quando menos você esperar. Assim como uma borboleta que pousa sem prévio aviso em nossos ombros. Paciência é uma virtude. 

Se é.

quarta-feira, agosto 12, 2015

Pode ir, amor.


"O amor é nobre demais para ser mendigado".
Eu me chamo Antônio.

Eram dias insuportáveis aqueles que vivi à tua espera. Aquela sensação de que o fim estava próximo não me abandonava, mesmo que você viesse todos os dias, bater o velho e bom ponto, só para me dizer que ainda se importava. Eu te enviei o sms não mais criando expectativas, bem, na verdade, enviei enterrando essa relação falida que vínhamos mantendo há anos. O mal de quem ama, ou pensa que ama, é acreditar que as pessoas mudarão em nome de um pretenso amor. Quantas centenas de dias eu carreguei comigo a esperança de que nós vingaríamos? Que não era hora de desembarcar e que talvez eu devesse esperar mais uma estação.

Que tipo de amor é esse que se contenta com mensagens diárias, com ligações rápidas e se esquece que o contato físico é que nos tornam realmente um par. Há algum tempo venho repetindo na cabeça uma velha, sábia e até batida frase que li em um livro recém-adquirido: “o amor é nobre demais para ser mendigado”. Desde então me vejo sentada na porta da sua casa, com uma latinha esticada em sua direção aguardando suas migalhas de amor. É cômica, hilária e trágica essa constatação de que – embora esteja me relacionando com alguém – eu estou solitária, mais sozinha que um solteiro em plena segunda-feira.

Nós só aprendemos o real valor de um conselho quando temos que usá-lo a nosso favor. Às vezes me pego olhando para o espelho repetindo tudo aquilo que digo às minhas amigas. A vida é tão clichê no final das contas. É como se nossas recomendações vestissem tamanho único. Tudo aquilo que lhe digo me serve também. Então, me deparo com outro ditado popular, um provérbio, que diz: “em casa de ferreiro o espeto é de pau”. E sorrio. Sorrio de mim, para mim, para minhas colocações e meus conselhos. Eu me vejo encurralada. Como se a vida fosse um labirinto, só que ela não é.

Depois de uma reflexão sobre a vida, uma análise crítica sobre esse nós que estamos sendo, uma lida em alguns textos de autoajuda – sim, às vezes a gente precisa – eu te dou cantar branca para abrir a porta e sair por ela. Pode ir, meu amor. Mas vá embora e esvazie todas as gavetas, olhe debaixo da cama e recolha seus chinelos, pegue a sua escova de dente e seu creme de barbear, mas, por favor, não diga que não dei sinais, que não lutei pelo que poderia ser. 

E a você, leitor, finalizo esse texto fazendo uma prece: "desejo que você se encontre, antes de encontrar alguém com quem dividir a vida". 

terça-feira, agosto 11, 2015

Carta ao coração.


A gente tenta, de todas as formas, ser racional e aceitar que nem tudo na vida é como a gente quer. Mas…Então é você – eu sei que é. Que confunde tudo o que já estava resolvido. Que balança aquilo que parecia inabalável. Que estremece e faz com que os sentidos sejam perdidos. É, tudo culpa sua coração.

E não adianta, não mesmo, dizer que você é inocente. Todos nós sabemos que não é. Apesar de acreditar que você erra tentando acertar, mas seja menos audacioso. Dê um tempo para respirar, dói. Se continuar dando trabalho, seguirei o exemplo de Clarice e terei que rifá-lo.  Deixe de pregar peças em mim, de ser inconsequente, sonhador. Não desejo viver de sonhos, de ilusões e é tudo o que você pode me oferecer agora, né?
Então, aconteceu de novo. Só que dessa vez é tão diferente, ele tá tão dentro de mim. Que não sai dos meus pensamentos, que ideia foi essa de oferecer morada a ele? Agora como eu faço para pedir que ele vá embora? Não, eu não posso. Como poderei viver sem aquele que arranca suspiros, poemas e sonhos maravilhosos? É, não dá pra dizer como me sinto. A única coisa que tenho a dizer, coração. É que você está muito encrencado.

segunda-feira, agosto 10, 2015

Sagrados sejam...

Foto: Sandra Costa.

Andei por tanto tempo procurando encontrar o amor e esbarrando com você percebi que a caminhada não foi em vão. Você que me desenha estrelas nos olhos e me permite conhecer mil universos em teus lábios. Você que tece em mim emoções indecifráveis e pensamentos absurdos. Às vezes me pego pensando que todas as cicatrizes, todas as quedas e tantas lágrimas valeram a pena porque todas me conduziram até você. A gente entende o real significado da palavra espera e até agradece por ter topado com tantos transtornos. Eu ficaria a deriva por meses no mar, atravessaria o deserto e enfrentaria o frio glacial do Pólo Norte se ao final os teus braços estivessem me esperando. Sagrados sejam os meus passos e feliz seja a nossa entrega diária. 

sábado, agosto 08, 2015

Como eu deveria.


Eu estive preocupada demais em alinhar o nosso amor aos meus desejos, a adequar nossa vida ao roteiro que havia escrito na adolescência e deixei de te amar como eu deveria. Inseri você em um contexto completamente errado de amor ideal, descobrindo - da pior forma - que ao amor é necessário liberdade, dar asas, abrir as gaiolas. Hoje eu abro a porta da casa esperando você fazer suas malas, na esperança que você desista, na certeza de que em breve vislumbrarei sua silhueta ao longe. Se o relógio parasse agora, se meu café não estivesse tão fraco, se meus poemas ainda rimassem, será que a vida voltaria ao eixo?