segunda-feira, abril 11, 2016

Meu melhor amigo é o meu amor


"Eu gosto de você, e gosto de ficar com você.
Meu riso é tão feliz contigo,
Meu melhor amigo é o meu amor."
Os Tribalhistas


Não me recordo muito bem como era vida antes de você existir na minha, e pouco me interessa lembrar que essa época existiu. Os dias correm despreocupados desde que você adentrou, sem cerimônia, em meus dias cinzentos. É como se a vida não tivesse pressa, é como se os dias não fossem mais contados. A única urgência que nos cabe, desde então, é a de nos encontrarmos, de nos amarmos dentro da íris do outro, de nos abraçarmos com o coração, de nos cuidarmos como os pais cuidam de seus filhos, como os avós dengam os seus netos.

A gente sempre espera que o amor seja um conto de fadas, daqueles que príncipes nos aparecem em cavalos brancos, que protegem donzelas indefesas, quando na verdade o amor é bem mais simples do que imaginamos. É um cuidado sem importância aparente, um beijo na testa na despedida para o trabalho, um desejo de bom dia, um recado de: "vê se come direitinho", é o olhar do outro invadindo os lugares mais recônditos do nosso ser.

E eu vejo, meu amor/amigo, que a gente se tem nessas pequenas coisas, naquilo que ninguém dá muita importância, no fixar de olhos que dizem mais que mil palavras, no cafuné gostoso que você me faz todas as noites, no canto de sua boca enquanto você me olha sorrir de suas piadas bobas, nas canções que Tiago Iorc toca como nossa trilha sonora. Eu te tenho, nós nos temos, nesses momentos que - aparentemente - são banais aos olhos dos outros, mas que, para nós, constroem as nossas vidas.

Fotografia: Maud Chalard.

sexta-feira, abril 08, 2016

Resenha: Proibido - Tabitha Suzuma



Avassalador. Nenhuma outra palavra pode definir essa leitura.

Lochan é um adolescente de 17 anos, inteligente, sensível, introspectivo e que tem problemas de relacionamento com qualquer pessoa que não seja da sua família. Em contrapartida, assume o papel de homem da casa, com a ajuda de Maya, sua irmã, uma jovem de 16 anos, extremamente madura, doce e delicada. Juntos, Lochan e Maya assumem o papel de pais dos três irmãos mais novos: Willa, Tiffin e Kit. Encobrindo o abandono da mãe para o serviço social, a fim de permaneceram juntos.

Dois jovens, marcados desde a infância pelo peso de responsabilidades competentes aos adultos. Encontram um no outro o apoio para encarar a realidade e dificuldades tão precoces para suas idades. Se tornando os únicos e melhores amigos um do outro, e despertando um sentimento que ultrapassa a cumplicidade comuns aos irmãos.

Comecei a leitura com certo receio, pois já conhecia o tema que seria abordado. Mas não foi somente o proibido relacionamento incestuoso que fez deste livro um dos mais tocantes que já li. A autora traz questões sociais muito fortes, contadas com muita sensibilidade e emoção, e te leva a pensar e repensar o conceito de certo e errado ao passo que as coisas vão acontecendo e, principalmente, que não é possível escolher a quem amamos. Embora culturalmente seja um erro, uma abominação, judicialmente um crime, o fato é que o amor está ali e precisa ser sentido e vivido na sua forma mais pura e generosa...

Apesar de ter sido devastada por este livro, foi maravilhoso ver a evolução dos personagens, o modo como o amor de Maya consegue tornar Lochan mais confiante e forte. O empenho dos dois para que os irmãos estejam juntos e felizes, apesar de tudo.

Proibido me tirou da zona de conforto literário, me tocando do início ao fim de uma forma muito intensa e especial. Sugiro àqueles que pretendem ler este livro, que o faça sem preconceitos e de coração aberto.

Resenha por Viviane Marinheiro.

segunda-feira, abril 04, 2016

Dissertando sobre o amor


Dissertamos sobre o amor com a facilidade de quem abre um miojo e após três minutos o tem preparado. A vida é um pouco mais complexa. Ela vai além das instruções que vêm no verso das embalagens, que encontramos nas gôndolas de supermercados. Ela não vem empacotada esperando apenas a nossa disposição em untar uma forma, despejar o conteúdo e desenformar o bolo. Seria maravilhoso, também, se a vida viesse em frascos de remédios com uma bula indicando a posologia, mas, mais uma vez, ela não vem assim de mão beijada.

Nós descobrimos a vida é no dia a dia, nas quedas diárias que levamos, no esfolar de joelhos, nas topadas que nossos “mindinhos” do pé dão nas cômodas de nossas casas. A vida é ardilosa demais, cansativa demais, dolorosa demais, misteriosa demais. E, ainda assim, é uma das maiores, melhores e fantásticas aventuras que nós somos presenteados todos os dias. Muita gente existe, pouca gente realmente vive.

Viver é um grande desafio. Todos os dias somos enviados às jaulas de leões. Nos tornamos protagonistas de séries policiais, dos filmes de Crocodilo Dundee, procuramos o amor – buscamos com tanto ardor – como quem busca o elixir da vida. Todos somos um pouco guerreiros, todos temos um quê de soldado. E, no final das contas, a busca pelo amor é isso mesmo: um campo de guerra. Você se vê, diariamente, exposto a vários situações difíceis, mas ao final da jornada, quando a bandeira branca é estendida, quando vemos o amor se rendendo a nós, percebemos  que correr com o peito nu em frente aos canhões não é loucura. Porque amar vale até a última gota de suor e loucura.

Fotografia: Maud Chalard.