segunda-feira, novembro 23, 2015

O amor é para os raros


"O amor é para os raros".
Maria Fernanda Probst

Meus braços envolvem as tuas pernas enquanto olhamos as corredeiras tão bonitas e gélidas. Elas insistem em lamber os nossos pés dando a nós uma sensação de abrigo. De casa! Casa é a tua vida. A minha moradia, desde que tu viestes embonitar os meus dias com a tua voz mansa, com o teu sorriso largo e a maneira simples de observar a vida. Tenho amado - cada vez mais - os dias que se seguem. As segundas-feiras já não me incomodam desde que tu estejas aqui. A paixão é um é uma liana que encontra sua árvore preferida. Ela abraça e aos poucos vai se moldando à sua superfície. E, aos poucos, as lacunas vão desaparecendo. Dão espaço às suas raízes. Enraizamo-nos. 

Minhas pernas se enroscam nos teus lençóis, enquanto meus olhos desvendam as galáxias que existem nos teus. Há mais estrelas dentro de ti do que contabilizam o universo e todos os mares. Surpreendo-me ao constatar que o céu cabe ali - perfeitamente - dentro da tua íris, na tua retina que é uma cacimba profunda que me convida a adentrar. Adentro. Sem receio do que posso encontrar. Sem medir as quantidades de "ses" e "porquês", apenas entro e me deixo banhar nas tuas águas. 

Tuas mãos entrelaçam a minha cintura e ao som de uma música qualquer dançamos debaixo da chuva. A vida parece tão pequena e ao mesmo tempo tão grandiosa diante desses episódios. Eu me vejo, mais uma vez, em teus olhos amendoados e, em uma pequena prece, eu agradeço ao destino. Agradeço pelos teus pés andarem sempre em direção aos meus, por tuas mãos sempre afagarem os meus cabelos como uma promessa de sempre estar, pelos teus lábios que sempre me cantam - beijando a face - uma canção bonita de se viver.

São raros os amores que nascem com destino certo. Mais raros, ainda, são aqueles que em vida o experimentam em sua integralidade. Meu coração é pousada que te acolhe, é sua residência fixa e precisa. Aqui te recebo e espero. As chaves, ah! Não há o que se falar de chaves quando se tem a chave-mestra.

Imagem: Théo Gosselin.

quarta-feira, novembro 18, 2015

O tempo (não) cura tudo




Por muito tempo eu acreditei na premissa de que o tempo curava tudo. Hoje, depois de tanto tempo, eu reconheço que ele apenas adormece aquilo que antigamente era latente. Nós deixamos de ser um do outro há mais de 3 primaveras e ainda assim, decorridas tantas estações, me sinto presa a ti. Eu queria aprender a pontuar a minha história, abolir as reticências desse livro inacabado que resolvi escrever, dar vida a outro personagem principal, mas sinto que ainda há algo que nos liga. 


Talvez seja a minha incapacidade de aceitar finais tristes, de querer entender o destino e suas surpresas. O tempo deveria curar. É o que me dizem, é também o que desejo, mas tenho perdido as esperanças e caminhado cada vez mais lentamente. Os dias parecem, também, acompanhar os meus passos. Andam tão velozes quanto as tartarugas que vimos outra vez no jardim zoológico. É, tudo o que me cerca, que me rodeia, me leva de certa forma até você. Até os transeuntes que andam apressadamente na rodoviária às 19h, após um dia cansativo de trabalho.

O tempo deveria curar - eu repito a mim mesma. E sei que cedo ou tarde ele tratará de cuidar dessas cicatrizes que ganhei de bônus com a tua passagem pela minha vida. Sei que as marcas que deixamos na alma dos outros são indeléveis. E, embora o tempo cuide, medique, ele jamais trará de volta à integridade completa aquilo que um dia fora machucado. A carne é rasgada, cortes não saram por completo, a vida não se regenera em sua totalidade.


Eu sei que o tempo deveria curar tudo. Mas sei, ainda, que vez ou outra ele me levará novamente até aquele quarto, me sentará naquela cama mais uma vez, e me fará implorar que você me deixe ficar. Ele me levará a experimentar de novo o penoso sabor dos teus lábios e me lembrará, tristemente, que a partida nem sempre é uma opção. A minha, por exemplo, fora uma imposição.

¹ imagem: Théo Gosselin.