terça-feira, setembro 29, 2015

Traição é traição




"Traição é traição.
Romance é romance".
Os Hawaianos

Poucos são os casos, digo até que raríssimos se houver, de pessoas que passaram por esta vida e não traíram ou foram traídas. Inicio este texto com a seguinte afirmativa: nada justifica uma traição. Poderia até escrever em caixa alta de forma a reafirmar, a expressar veementemente a minha opinião. Acredito que quando duas pessoas resolvem se relacionar é porque têm em mente que dali em diante passarão a pertencer - relativamente - uma a outra. Não digo no sentido literal da palavra, pois todos somos livres e ninguém é objeto de ninguém. Contudo, observo as relações ao meu redor e analiso as que tive e chego a seguinte conclusão: algumas pessoas não nasceram para ser monogâmicas. 

Desse modo entramos em uma outra vertente: a traição é um desvio de conduta? A priori a minha resposta, como pessoa traída, é que sim. Uma pessoa que deseja levar a vida ao estilo Tribalista "eu sou de ninguém, eu sou te todo mundo", deve no mínimo jogar as cartas na mesa para o parceiro e revelar o desejo de viver poliamores¹ e esperar a anuência ou não do seu companheiro, deixar o parceiro livre para decidir se deseja ou não continuar ao lado dele. Entretanto, a vida não funciona dessa forma. Quem gostaria de dividir a pessoa que, supostamente, se ama? Há casos? Sim. Mas deixando de lado as exceções e voltando o olhar somente para a regra: traições são inadmissíveis. 

O relacionamento é uma espécie de contrato firmado entre duas partes onde elas têm direitos e deveres. Soa até meio jurídico tal afirmação, mas é dessa forma que devemos enxergar as relações humanas. As traições são motivadas por diversos fatores que somados tornam-se condições suficientes e necessárias para a quebra de contrato, no entanto preferimos - a maioria das vezes - empurrar o namoro com a barriga porque é muito mais cômodo conviver com uma mentira, do que largar tudo por alto e voltar à estaca zero. 
Agora a pergunta que não quer calar: a traição é perdoável? Essa é uma pergunta bem individual. Há aqueles que se permitem dar uma segunda chance e outros, como eu, que preferem seguir suas vidas sem olhar para trás. Dizer que o relacionamento não está bom, que o sexo já não é como antes, que a rotina está matando o namoro, que os amigos o pressionaram a mostrar a sua "macheza" diante de uma situação não é aceitável. Inúmeras vezes eu me mantive insatisfeita com uma relação, tantas vezes me deparei com pessoas incríveis, esbarrei com homens lindíssimos e interessantes, e nem por isso me dei o direito de enganar uma pessoa.
Eu jamais perdoaria uma traição pelo simples fato de saber que conscientemente a pessoa me traiu. A própria física diz que para toda ação existe uma reação. Sempre acreditei que acima da fidelidade deveríamos ser leais aos nossos cônjuges. Quem é leal sabe honrar a palavra, sabe ser honesto consigo mesmo, não dá margem ao erro, assume com dignidade a fidelidade aos compromissos que aceitou assumir. Ninguém prende ninguém. Relacionamentos assim como os contratos também podem ser quebrados, terminar a relação é a forma mais digna de se respeitar alguém com quem se manteve de início um laço de confiança. E para mim, respondendo ao questionamento, traições são imperdoáveis.
¹ Poliamor (do grego πολύ - poli, que significa muitos ou vários, e do Latim amor, significando amor) é a prática, o desejo, ou a aceitação de ter mais de um relacionamento íntimo simultaneamente com o conhecimento e consentimento de todos os envolvidos.

segunda-feira, setembro 28, 2015

Do amor que ficou!



Depois de mais uma noite de insônia Clara apreciava o nascer do sol da sacada do seu apartamento. Essa era uma rotina bem conhecida no último mês, depois que Victor fechou aquela porta tudo virou bagunça na vida dela. E ela repassava constantemente aquele último diálogo em sua cabeça:

- Clara estou indo embora! - disse Victor quando ela entrou no apartamento

- Embora? Como assim? Vai visitar seus pais?

- Não! Estou indo embora para sempre. Estou terminando com você...

Paralisada Clara não sabia o que dizer, nem o que fazer. E Victor continuou:

- Você é uma pessoa ímpar, tudo que vivemos foi muito bom, mas já tem um tempo que sinto que aqui não é meu lugar. Como você bem sabe eu sou do mundo, não consigo me entregar por completo e você precisa de uma pessoa que se entregue, que te cuide e que faça você muito feliz. Não posso ser essa pessoa! Me perdoe

- Eu não entendo, até ontem estávamos fazendo planos. Planejávamos a nossa vida, como um casal comum, achei que você já tinha perdido esse medo de se entregar para o amor.

- Já te expliquei que não é medo, eu só não consigo me prender a uma pessoa e a um lugar. Eu preciso de gente nova, eu preciso de lugares novos, eu nasci para desbravar o mundo.

- Ok! Victor, você sabe que não vou pedir para você ficar, se você vai ser feliz dessa forma só me resta lhe desejar boa sorte! Se cuida!

Sem olhar para Clara, Victor pega sua mochila e vai embora.

Assim que fecha a porta atras de si, Clara cai no choro! Abrindo a bolsa tira um envelope e uma caixa, no papel dentro do envelope um teste de gravidez, com o resultado: POSITIVO e dentro da caixa um macacão escrito: SUPER PAPAI!

- Mesmo que o papai tenha ido embora, ele me deixou o melhor e maior amor, você é fruto de um amor verdadeiro que nem ele sabe que sente! Iremos ser muito felizes meu filho!


quinta-feira, setembro 24, 2015

A gente descobre o amor.



Não nos apaixonamos pela formação acadêmica do outro, pelos diplomas que a mãe dele ostenta na parede da sala, nós nos atraímos é pelo sorriso tímido que ele nos dá ou o olhar faceiro que tem o poder de despir o nosso interior. O amor vem nos ensinar - sem cartilha - que ele é apenas uma consequência da nossa vida, nossos destinos predestinam-se a encontrá-lo desde a nossa concepção. Nós nos apaixonamos pelos olhos do outro que é uma cacimba profunda e misteriosa. Um portal que nos transporta a lugares indefiníveis. 

Eu aprendi - e aprendo diariamente - os significados do amor e a forma que ele modifica as nossas vidas, através dos inúmeros exemplos que observo por aí, quando eu esbarro por aí com casais visivelmente apaixonados, aqueles que não precisam de status no facebook, porque eles vivem o amor em sua literalidade, de forma real e palpável. Eu aprendo cada dia sobre o amor quando ele me vem visitar, todas as manhãs antes de irmos trabalhar e algumas noites após um dia cansativo de trabalho. 

A gente descobre o amor é no dia-a-dia, na rotina cansada, nas horas em que desejamos fugir do mundo, se esconder e o lugar mais calmo que e seguro que encontramos ainda é os braços de quem amamos. Tenho descoberto o amor em suas inúmeras faces e todas elas tem uma característica tua. Tua pele, teu sorriso e teu olhar.

terça-feira, setembro 22, 2015

Vamos ter um bebê.



Eu presenciei várias mulheres descobrirem que seriam mães, moça. Algumas sonhavam ardentemente com isso e outras não imaginavam, não esperavam, e hoje são mães incríveis. Não tenha medo de abraçar seu destino, de acolher em teus braços essa dádiva que virá. Aproveite cada chegada de mês, sinta cada batidinha do coração, deixe o amor pulsar dentro de ti. É uma transição mágica o de ser filha e, de repente, se ver no corpo de uma mãe. Aos poucos a gente vê a menina que brincava no balanço de sua casa ceder espaço a uma nova criança.

Os seus jeans não mais caberão, moça. Mas não se apoquente, porque você descobrirá uma nova forma de enxergar as suas medidas. A vida se expandirá. Tudo se agigantará. E não me refiro somente ao corpo, digo isso quanto aos sentimentos que crescerão, que os espaços (todos eles) se transformarão para receber aquele que personificará a palavra amor. A gente acha, sempre acha, que sentimentos são intangíveis - em sua literalidade realmente são - mas vemos ao tocar na pele, aninhar no colo, que a física sempre estivera errada. Sentimentos podem ser tocados. Amados. Vividos.

É, moça. Seus jeans passarão a não caber mais. Eu repito. Mas não somente eles que não caberão. Faltará espaço para tanto sentimento e você se sentirá transbordando. A vida é realmente fantástica. A gente de repente ama na velocidade da luz. Ama eternamente alguém que ainda não conhecemos, mas  que sabemos que trará consigo alguns traços nossos. Que levará por onde for os nossos olhos, ou quem sabe os nossos lábios, ou quem sabe. Quem sabe, né? 

A vida se faz dentro de você, ocupa os espaços que antes eram vazios e não se trata de uma metáfora. Olhe-se diante do espelho e saiba que hoje o amor tem uma maneira nova de te despertar todas as manhãs, os chutes em sua barriga é apenas uma forma nova de se ouvir 'eu te amo'. E ame.

E ame como se fosse a (única) primeira vez.
E será.

quarta-feira, setembro 09, 2015

HORTÊNSIAS.


Lilás era a nova cor do pecado porque eu mergulhava nos olhos dela todas as noites. E sim, não eram azuis, eram lilases. Bionda tinha os cabelos loiros, quase brancos como uma folha de papel e os lábios em formato de coração com pigmentação vermelho escarlate. Suponho que descrevê-la é impossível, porque não há como mensurar tamanha beleza, talvez ela seja uma deusa, dessas que dizem serem existentes em mitologia grega ou talvez seja um anjo tão doce e perfeito são suas feições. Contudo, não me atrevo a descrever minuciosamente os seus traços, porque pecaria com a minha visão grosseira e nada poética. Mas, digo-te, Bionda tem o cheiro mais doce e convidativo que meu olfato já experimentou sentir.

Eu estava distraído não esperando absolutamente nada quando ela me veio. O céu pintava-se de pontinhos brilhantes que facilmente podiam ser ligados, tornando-se animais, objetos ou simplesmente palavras. Céu de estrelas muitas e luar minguante. A lua não era cheia, igual aquelas que poetas costumam descrever em seus poemas, era imperfeita. E por trazer a imperfeição aos meus olhos foi bem quista. Dizem que quando a esmola é demais o santo desconfia então me alegrei por tê-la conhecido em uma noite minguante. E lá estava eu andando de bicicleta naquela cidade provinciana, que me acostumara a gostar. Andando de um lado para outro quando eis que ela me surge do nada. Tão rapidamente que não houve tempo de desviar. Acidente. Alguns arranhões, pouco sangue e um sorriso ao invés de choro, de palavrões. Ela deixou-me mergulhar pela primeira vez em seu doce olhar. Entreguei-me.

Ela falava sobre astronomia, dizia que desejava viajar a via-láctea e que conseguia enxergar estrelas em meus olhos. Soou-me poético. E ela disse realmente que era poesia, que eu era todo. E eu a beijei. E os olhos dela permaneciam abertos enquanto me beijava e os meus encontravam hortênsias ali. Ela dizia que olhava meus cabelos desgrenhados e que desejava saber se eu gostava de seus beijos. Não era falsidade. E ela me beijava sempre assim e eu adorava. Porque ela me lia com os olhos lilases dela, parecia ler com seus olhos abertos o que eu desejaria que ela me fizesse. E sabe, que todos os dias quando encontro aqueles olhos de hortênsias desejo piedosamente que continuem sempre abertos.

quarta-feira, setembro 02, 2015

Traduzo a saudade em forma de você.


Traduzo a saudade em forma de imagem e eis que me surge você. E, de repente, me vejo dentro dos seus olhos, embriagada com o teu gosto, abarcada em tuas mãos e pernas. A saudade tem um sorriso sapeca, daquelas crianças levadas que quebram o vaso de flores da mãe e esconde os cacos debaixo da cama, tem os lábios que se tornam porto - aqueles que os navios ancoram após dias de viagem - ao receber os meus cansados.

A saudade tem endereço fixo, mas não me refiro a casa de alvenaria, com telhado e diversos cômodos. Seu domicílio é feito de gozo, de pulsação, de sangue e algumas teias. É feita de nó que me amarra e que me faz uma refém declarada (sem precisar carregar ou trancar a cela com chaves e ferrolhos).

A minha saudade tem o coração sofrido pelas decepções da vida, mas tem o sorriso mais largo que muita gente eufórica. Ela tem a barba espessa que me faz cócegas quando insisto em me desenhar nervosa, enquanto meus lábios se afinam em um traço de aborrecimento. Tem o olhar cálido ao pousar seus olhos sobre o meu rosto que envergonhado desvia.

Ela tem a compaixão de alguém que ajuda um refugiado de uma guerra, tem a calma de uma mãe que ensina seu filho andar de bicicleta, tem a paciência que muitos invejariam - talvez até Jó - ao abraçar as minhas dificuldades, dúvidas e traumas, tem a paixão que somente um atleta teria ao mover céus e terras em busca de seu troféu, tem as marcas da vida tatuada em braile sobre a pele.

Essa saudade tem endereço fixo - eu repito - e ela sabe bem onde é.


Segundo post do grupo Escritores na Era do Compartilhamento. Leia também: Tati ArgentaLeca LichacovskiSâmela FariaJô LimaJoany TalonNathalia Moraes;  Ju Rodrigues TamyheTaciana Gaideski; Fernanda Probst; Cristina SouzaValter JuniorTayane S.; Layna Dias