quarta-feira, setembro 09, 2015

HORTÊNSIAS.


Lilás era a nova cor do pecado porque eu mergulhava nos olhos dela todas as noites. E sim, não eram azuis, eram lilases. Bionda tinha os cabelos loiros, quase brancos como uma folha de papel e os lábios em formato de coração com pigmentação vermelho escarlate. Suponho que descrevê-la é impossível, porque não há como mensurar tamanha beleza, talvez ela seja uma deusa, dessas que dizem serem existentes em mitologia grega ou talvez seja um anjo tão doce e perfeito são suas feições. Contudo, não me atrevo a descrever minuciosamente os seus traços, porque pecaria com a minha visão grosseira e nada poética. Mas, digo-te, Bionda tem o cheiro mais doce e convidativo que meu olfato já experimentou sentir.

Eu estava distraído não esperando absolutamente nada quando ela me veio. O céu pintava-se de pontinhos brilhantes que facilmente podiam ser ligados, tornando-se animais, objetos ou simplesmente palavras. Céu de estrelas muitas e luar minguante. A lua não era cheia, igual aquelas que poetas costumam descrever em seus poemas, era imperfeita. E por trazer a imperfeição aos meus olhos foi bem quista. Dizem que quando a esmola é demais o santo desconfia então me alegrei por tê-la conhecido em uma noite minguante. E lá estava eu andando de bicicleta naquela cidade provinciana, que me acostumara a gostar. Andando de um lado para outro quando eis que ela me surge do nada. Tão rapidamente que não houve tempo de desviar. Acidente. Alguns arranhões, pouco sangue e um sorriso ao invés de choro, de palavrões. Ela deixou-me mergulhar pela primeira vez em seu doce olhar. Entreguei-me.

Ela falava sobre astronomia, dizia que desejava viajar a via-láctea e que conseguia enxergar estrelas em meus olhos. Soou-me poético. E ela disse realmente que era poesia, que eu era todo. E eu a beijei. E os olhos dela permaneciam abertos enquanto me beijava e os meus encontravam hortênsias ali. Ela dizia que olhava meus cabelos desgrenhados e que desejava saber se eu gostava de seus beijos. Não era falsidade. E ela me beijava sempre assim e eu adorava. Porque ela me lia com os olhos lilases dela, parecia ler com seus olhos abertos o que eu desejaria que ela me fizesse. E sabe, que todos os dias quando encontro aqueles olhos de hortênsias desejo piedosamente que continuem sempre abertos.

4 comentários:

  1. aaaaaaaaaai esses olhos de cor *-*
    achei tão doce esse final :)

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  2. Oii Mel. Parabens pelo texto. Achei que pela primeira vez ovuri sobre um beijo com olhos abertos que me pareceu natural.. HAHAHAA Muito bom o texto. Beijinhos

    http://www.verdadeescrita.com/procura-se-um-pa/

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