sexta-feira, junho 30, 2017

Meu abraço-casa. Meu amigo-irmão.


Você tem um jeito de confortar a minha alma quando me abraça e diz que a vida é bem maior do que os dias tristes. E eu me sinto privilegiada por ter você aqui sempre tão presente e vivo em meus dias. Você tem um jeito de me fazer acreditar na vida quando me diz sobre os teus dias maus e todas as coisas boas que vieram após as tribulações. Você tem um jeito de me fazer sorrir quando lembra de alguma piada idiota ou de algo embaraçoso que viveu só para me mostrar que há sempre alguém em uma situação pior.

Você tem um jeito de me acalmar quando pega o violão e toca Kelly Patrícia. Quando tenta cantar, com a voz desafinada, sobre passarinhos e a misericórdia de Deus. Você tem um jeito de me encantar quando fala sobre crianças, sobre a graça que é ter um ser tão pequenino em sua vida e saber que saiu de você. Você tem um sorriso tão acolhedor, um abraço tão preciso, que dá vontade de ficar naquele quentinho longe das ciladas e maldades da vida.

Você tem um sorriso encorajador e todas as vezes que te olho sorrir acredito que a vida foi bem generosa ao cruzar as nossas vidas. Você tem sempre os melhores conselhos, as melhores broncas – se é que isso é possível – e as melhores/piores piadas. Você sempre tem a melhor ideia. Seja ir nadar neste frio polar que está fazendo em Brasília, seja ir jogar dominó com os amigos enquanto comemos batata-frita. Você é o melhor amigo. Sempre. Será o melhor amigo até o fim dos dias.

Você tem uma forma tão bonita de me fazer ver e acreditar na vida. Que é impossível não recorrer a você nas minhas maiores tempestades. É como se eu estivesse longe de tudo e de todos. É como se os problemas não existissem. É como se você fosse o meu super-herói. Ou como se eu fosse uma criança indefesa e você um super-adulto. E parece que sempre foi assim.

Você tem um abraço-casa.

A minha casa. Por isso que sempre ando e volto pra ti.   


terça-feira, junho 27, 2017

Gosto de te ver.


Que coisa bonita a forma como você folheia seus livros e a ruguinha que faz em sua testa quando você lê algo que não lhe agrada. Passaria horas te olhando concentrado, tomando teu café descafeinado, ouvindo Creed ou Alphaville. Eu gosto da forma como você abre as cortinas e deixa o sol entrar timidamente para banhar os móveis. Gosto de como você se irrita com o escritor por ter assassinado os teus personagens preferidos. Gosto de como a vida se desenha despretensiosa e cheia de vida. 

Gosto de me ver dentro da tua retina, enquanto você tece teorias sobre Game of Thrones. Gosto do seu abraço quando me vejo derramando, morrendo junto com os médicos de Seatle Grace. Gosto de como a tua pele albina meio que se contrasta com a minha enquanto nos abraçamos na varanda de nosso apartamento. Gosto de te ver cuidar de nossas suculentas e de apelida-las com nomes de gente. Maria da Glória, Madalena, Açucena, Violeta. Gosto de ver meu nome atribuído à minha flor preferida. Gosto de como você me desenha nos lábios jardins inteiros. E me pinta nos olhos constelações diversas.

Gosto de me encontrar no teu abraço. Eu, perdida de mim. Avoada da vida. Gosto do enlaço que teus braços me fazem e da forma como 'cê sabe me embalar. Gosto do teu abraço-lar-casa. Do teu peito-cama-ninho-berço. Gosto de simplesmente te observar ler, enquanto me aninho em teu peito. Enquanto te enrosco as pernas e parte de mim. Gosto de me perder e encontrar em ti. Dos teus livros policiais, sangrentos, medievais. Gosto de ouvir você dizer que alguém foi estripado e se revoltar com aquilo. 

Gosto das tuas teorias. Dos seus pensamentos malucos e cheios de interrogações. Da veemência em dizer que Varginha tinha sim um E.T e que existiam sim chupa-cabras. Gosto da tua loucura ao me dar ouvido quando digo que quero percorrer o Brasil inteiro de bike. Da tua ousadia em dizer que atravessaríamos até de patins se eu quisesse. Gosto de me perder e encontrar em você. Gosto de saber que você é meu amor real extraindo do meu amor ideal.

Gosto de te olhar folheando o seu livro e a ruguinha que faz na tua testa. Sim, eu gosto.


segunda-feira, junho 26, 2017

Às vezes.


Acabou.
Boa sorte.


Às vezes a gente precisa se olhar com mais gentileza, se abraçar como quem consola uma criança indefesa e dizer que tudo ficará bem de ali em diante. Às vezes a gente precisar olhar como mais clareza para a vida, se atentar aos sinais e saber ler aquilo que o outro não diz. A gente diz que ama numa facilidade, porque não nos ensinaram sobre o amor. E a gente acredita que somos amados, porque desde pequenos somos ensinados a acreditar. Os adultos não mentem. E meu coração criança continua acreditando nas palavras que me dizem.

É preciso ter muita coragem para fazer as malas e sair de onde se quer permanecer. É preciso ter muita coragem para se encarar no espelho e dizer a você mesma que o amor não existe. Ou que não existiu para você. E que talvez não existirá. E tá tudo bem. Tudo bem encarar a tua história e não reconhecer ela. Tudo bem sentir esse aperto aí dentro, esse sufoco que te maltrata. A vida não é fácil mesmo. Quem é que disse que ela algum dia seria?

É preciso ter paciência para atravessar os dias. Porque nem todos são de sol. Alguns chovem. Outros são frios e trazem consigo o inverno mais cortante. E tá tudo bem. Tudo bem você perceber que o calor que te aquecia não era de um verão real. Tudo bem você perceber que as palavras não têm valor. E que alguns pensamentos, sentimentos, confissões são voláteis.

Às vezes a gente precisa se olhar com mais gentileza e se abraçar como quem consola uma criança que perdeu algo importante. Um pai. Uma mãe. Por que quem é que mede o tamanho da nossa dor? Quem é que dirá que o que sentimos tem o peso de um brinquedo perdido ou de um ente querido?

Às vezes a gente precisa enxugar as lágrimas e perceber que quem te fere sabe o que está fazendo. Que quem te magoa faz de propósito. Às vezes a gente precisa parar de colocar panos quentes, de amenizar o lado do outro, de achar que a pessoa está confusa e que ela te ama. Às vezes a gente precisa aceitar que nunca houve amor. Em nenhuma palavra. Em nenhuma frase. Às vezes a gente só precisa cair na real. Às vezes a gente precisa parar de ouvir o que os outros falam para poder observar o que eles fazem.

Às vezes.


sexta-feira, junho 23, 2017

Gosto de fechar os olhos.



Gosto de fechar os olhos e te ver caminhar em minha direção. Tu. Cheio de malícia nos olhos e de afeto nas mãos. Tu. Cheio de carinho a me dar e de cuidados a me envolver. Gosto de morder os lábios te olhando se despir em frente a mim. Olhar penetrante. Não desvia de mim. Em tua íris me vejo desconcertadamente apaixonada. Me vejo inteira. Como vim ao mundo: sabedora de pouca coisa e curiosa do mundo. 

Gosto de como a tua mão me desvenda por inteira. Como os teus dedos me fazem de piano em busca de doce sinfonia. Gosto de como o teu olhar me engole, me devora e me faz de comida. Gosto de como os teus lábios me apresentam o universo que há no céu de tua boca. Gosto como a tua barba me arrepia os pelos de todo o meu corpo. Gosto como tu me afagas o cabelo desamarrando todos os meus nós. Gosto de como você se encaixa em mim. Nada falta, nada sobra.

Gosto de fechar os olhos enquanto tu me leva ao céu. Enquanto me faço bebida. Enquanto tu mata tua sede de mim. Gosto de como os teus olhos me veem enquanto sôfrega eu digo que sou tua. Gosto de como tua boca me come quando me deixo ser alimento para ti. Gosto de como tuas pernas me laçam, de como teus braços me sustentam, de como você cresce em mim.

Gosto do teu olhar fixo no meu. Ele que me diz coisas sacanas e sem pudor. Gosto de ouvir o teu gemido, enquanto meus lábios sentem o calor dos teus. Gosto da saliva quente em meus seios e meios. Gosto da saliva a molhar e molhar. Gosto do teu olhar fixo no meu. Gosto dos teus olhos vidrados em mim. Gosto da forma como você me suspende em sua perna e de como você me desconecta daqui. Gosto da tua voz, sinfonia, ao dizer que sou eu e que sempre será.

Gosto da tua boca, dos teus braços, dos teus olhos, dos teus pelos. Gosto de tudo aquilo que te faz homem grande, menino pequeno, adolescente de quinze anos. Gosto do amante, do amigo, do cúmplice, do ladrão. Ladrão de mim. De meu coração. Das minhas vontades. Das minhas sensações. Do meu interior.

Gosto de fechar os olhos e te ver caminhar em minha direção. Tu. Cheio de malícia nos olhos e afeto nas mãos. Tu. Cheio de vontades e segredos. Tu. Cheio de mim.




quarta-feira, junho 21, 2017

Aprenda a derrotar o seu ego!



O ego é aquela parte de você que insiste em vencer sempre. Em estar com os holofotes apontados pra você o tempo todo. Querer ser sempre o vencedor, o dono do palco, é um belo convite à frustração. Por exemplo: em um relacionamento onde uma das partes quer e a outra não, é o ego que vai fazer a que quer, insistir até que a parte que não quer, mude de ideia. Péssimo negócio! Não se planta interesse onde não tem!

Enquanto a razão dirá “sai fora disso”, o ego vai dizer “continua insistindo que você leva essa também”. As pessoas mais maduras têm facilidade em compreender que o ego deve ser derrotado em muitos momentos.

Aliás, fica aqui, uma ode à maturidade! Ela é adquirida a medida em que quebramos a cara, popularmente falando. Porque é isso mesmo que acontece. Quanto mais apanhamos da vida, quanto mais passamos por situações que nunca imaginamos, mais maduros ficamos.

Maduros, fortes e experientes. Assim, podemos vencer o ego. São necessários três ingredientes para vencê-lo:

- A maturidade;
- A resiliência;
- A razão.

Esses três juntos, são capazes de vencer o ego. Existem certas guerras que são mais belas, quando perdidas. O ego não admite isso! A lei dele é “vencer sempre”. Aprender a vencê-lo é ideal para saber quando é momento de dar aquele passo pra trás.

A vida adulta exige essa avaliação. Há momentos em que perder te dá a vitória da paz. De ter a sua saúde psicológica preservada. Ninguém vai entender o porquê de você não ter por exemplo, comprado aquele carro. Afinal, você “tinha tudo” pra ir lá e comprar. Mas você já não tinha paz durante a negociação dele. Diante da dívida que iria assumir. Então você optou por dar um passo pra trás.

Isso é maturidade. Dar ouvidos a razão. Ser resiliente. Não é fácil vencer o ego. Ele existe até em ações sociais, em projetos de voluntariado. Já viu algum caso de um voluntário que queria se aparecer mais que o outro em uma ONG? Isso é o ego aflorando. É um exercício diário, tentar vencê-lo.

Quando conseguir realizar esse feito pela primeira vez, vai notar que era melhor assim. E as próximas podem ser menos pesadas. Vencer o ego é uma necessidade da vida moderna. Queremos likes, queremos parabéns, queremos curtidas em fotos, queremos ser os fodões sempre. O ego grita a todo momento pra que tomemos atitudes.

E como fica a nossa paz? A nossa saúde psicológica? Tem muita gente ganhando bem financeiramente em seus empregos, mas sendo subjugada por uma liderança que não tem o menor tato com pessoas. Ganham bem, mas estão praticamente em depressão por ter de “engolir” muita coisa diariamente. Tem status, mas não tem uma noite de sono tranquila. Tem um bom ganho mensal, mas estão descontando as frustrações em alimentos.

E assim, criando outro problema: o da baixa estima. Tudo por quê? Por dar voz ao ego. Desmotivação profissional cria pessoas insatisfeitas. E insatisfação pessoal acaba gerando outros transtornos. Tem muitas pessoas obesas no mercado de trabalho, que ganham bem. Vale à pena? Ser obesa não é um problema. O problema nasce quando você se olha no espelho e não gosta do que vê.

Como fica o salário bom? O ego nesses momentos não ajuda. Só te impulsiona a seguir no que não te faz bem. Em prol do “vencer sempre”. Há momentos em que dar um passo pra trás é o melhor a fazer.

Pense nisso! Reflita sobre onde o seu ego precisa ser vencido!




segunda-feira, junho 19, 2017

Pensando bem.



Leia ao som de Pensando Bem, 5 à seco.

Talvez essa seja a última carta que lhe escrevo. Quem dirá será a vida. Eu não quero fazer dos meus dias passados um relicário. Quero é olhar para eles com gratidão, acenar e dar adeus. O problema é que toda vez que eu tento virar a página algo me remete a você. Ontem eu passei o dia com enxaqueca e não tinha você para reclamar das minhas dores. Elas pareciam menores quando você me dizia para tomar remédio. E a impressão de ser cuidada parecia amenizar o que eu sentia. 

Talvez essa seja a última carta que lhe escrevo. Meu coração é que irá dizer. Há dias que são mais fáceis que outros, mas nem por isso são menos dolorosos. Sábado eu ouvi a gente em uma música do 5 à seco. E eu percebi o quão fácil é sonhar a vida de olhos fechados. E percebi também que assim, como você, eu sempre tenho uma música para os meus momentos. Percebi, também, que Tiago Iorc já não é tão querido. Aliás, ele esteve aqui esses dias e eu nem fiz questão de ir assisti-lo. Eu não sei você, mas me dói um bocado ele cantando a "nossa trilha".

Talvez essa seja a última carta que lhe escrevo. Ou não. Quem irá dizer? Eu sei que a vida parece um pouco mais lenta e os dias mais compridos. O primeiro e último pensamento do dia continuam iguais a única diferença é que ele carrega consigo uma interrogação. A gente não sabe um do outro. E eu já não vou atrás de meus informantes (risos). Ando tão contida que desconfio de mim. Sei que os teus dias estão correndo, assim como os meus, mas já não busco saber. Só quero que viva e viva bem. Viva feliz.

Talvez essa seja a última carta que lhe escrevo. As outras estão lá naquele velho endereço. Blog desativado. Ativado para você — Acho que você nem percebeu que sim Cheio de memórias e recordações que ficarão lá longe dos olhos alheios. Visíveis somente aos seus. Cartas cheias de súplicas e de memórias bonitas. Linhas que teciam seu amor por mim. Você me ama, eu sempre dizia.

Talvez essa seja a última carta que lhe escrevo. Talvez eu não escreva nunca mais. Há dias que não sinto vontade de redigir uma linha sequer. Tudo que penso em escrever tem um pouco de você. Não dá para falar sobre fé, coragem ou amor sem fechar os olhos e ver teus olhos miúdos sorrindo para mim. Não dá para escrever sobre o amanhã sem ouvir um beijo estalado no fone de ouvido. Não dá para escrever sobre a vida e imaginar que as nossas não mais se encontrarão.

Talvez essa seja a última carta que lhe escrevo. Ou talvez eu acorde amanhã querendo dizer a você as coisas que ainda não disse. Talvez eu diga a você que não tenho comido direito e que quase não mexo mais no meu celular. Talvez eu lhe pergunte se você anda feliz. Ou talvez eu já tenha a resposta. Talvez eu lhe diga, como sempre disse, que você me ama. Ou talvez eu apenas silencie diante disso. Talvez eu lhe diga que sinto falta dos "bom dias" e "boa noites" que nos uniram. Ou talvez eu apenas continue quieta.

Talvez essa seja a última carta que lhe escrevo. Ou talvez seja apenas uma das milhares que virão. Nem eu consigo me desvendar. Os dias não são tão mais previsíveis. Tudo parece mudar de lugar. Tenho recebido ligações, convites e solicitações de amizade. Um mundaréu de gente parece querer roubar o teu lugar. Nunca imaginei que um dia haveria a possibilidade de você deixar de ser nós. A gente vira plural e fica perdido quando volta a ser singular. 

Talvez essa seja a última carta que lhe escrevo. Talvez.


quarta-feira, junho 14, 2017

Amor 2 em 1.



►Leia ao som de Amor 2 em 1, Anavitória◄

Faz do meu corpo uma escultura a ser moldada por um oleiro. Pega meu seio, adentra os meus meios e me descobre por inteiro. Desvenda os meus caminhos com os teus lábios e faz da tua boca conhecedora de meus labirintos. Me diz que o tempo é agora e me olha nos olhos. Me faz promessas enquanto me beija, vagarosamente, o ouvido. Me tenha em teus braços enquanto me conta das tuas constelações preferidas. Me apresenta o céu que há em tua íris e o universo que se esconde dentro de ti. Me apresenta ao paraíso. 

Faz da tua mão pouso para minha. Me tira o ar, me rouba o fôlego, não desgruda de mim. Joga as roupas pelo chão, sem cerimônia e sem demora. Deixa que a vida se bagunce com as peças espalhadas na cerâmica azul anil da sua tia avó. Me tira a calma. Me leva ao céu. Me mostra que o tempo é relativo quando estamos no abraço um do outro. Me diga que os problemas da vida são irrelevantes quando a tua boca encontra a minha, quando teu corpo navega o meu.

Me faz de sete, dez, quinze mares e me desbrava. 

Me deixa confusa e me faz perder a noção de onde começa tu e termina eu. Faz de mim a tua cama, a tua comida e a tua sede. Faz de mim a tua vontade preguiçosa de levantar às dez da manhã. Me diz que ainda é cedo, mesmo o sol queimando lá fora. Me diz que ainda é cedo, mesmo o seu telefone avisando que tem reunião em uma hora. Me fiz que ainda é cedo, mesmo tudo apontando que não. Me diz que ainda é cedo, mesmo indo contra a razão.

Me diz que a vida é bonita e que vale a pena sonhar. Que sonhos se tornam tangíveis se a gente realmente, com o coração, acreditar. Me pinta nos olhos promessas, me entrega nas mãos realizações. Me leva para tua casa e diz que ela é minha. Me dá a chave da porta e me mostra a tua cozinha. Me leva embora de casa e diz que essa, em que eu vivo, já não é minha. Faz de mim tua morada, tua casa e tua vida.

Me faz de céu e me viaja. 


quinta-feira, junho 08, 2017

Chave.



Algumas coisas lindas ardem.

É aquilo que você faz com as pernas, baby. É o seu levantar da cama e o acender do olhar à beira da janela enquanto observa a cidade se esvaziar. É a calcinha branca que te veste delicadamente enquanto perambula pelo chão vermelho do quarto ao mesmo tempo em que se perde ali no canto, ao lado do abajur apagado. Eu queimo enquanto desenho tua sombra, reflexo da minha própria luz. Ao pé do ouvido, versinhos do nosso descaso.

É aquela maneira como você sobe na cama para agarrar o travesseiro, ou a mim. Ou o modo como tuas pálpebras colam minha imagem dentro em ti. É toda essa ausência de amor. Todo esse excesso de loucura. Você. Você. Você. Nossos rascunhos nas paredes daquele bar. Um sorriso, três doses.

Essa noite a cama é imensa. É necessária minha voz esbarrando em tua pele e escorrendo por todos os teus sentidos. Ou a falta deles. Você, hoje, explodiria doce em minhas mãos. Me deixaria sorrir meus terços de vantagem. Me entregaria teus lábios transbordantes de beijos e eu entenderia os caminhos. É permitido atropelar. Dissolver. Todas as tuas quedas continuam a ser em mim.

Talvez seja preciso um banho teu. Talvez teu corpo inteiro seja boca. Línguas e céus ansiosos. Meus dedos, amigos das tuas blusas. Teu hálito, meu hábito. Nenhum roteiro e belezas decoradas. É como pinto o azul-marinho do teto que se partiu. Um escândalo.

Tua pose de menina se esvai enquanto teus poros se rasgam. Um cheiro de vinho, uns passos trôpegos e uma dança no meio do tapete da sala. O próximo número deve ser em par. Fevereiro arremessado, assim, eufórico. Você com minha camisa, eu com teu gosto. Teus seios amassados no colchão enquanto os cabelos te cobriam o rosto e meus gestos soltos iam distraindo-se em carinhos impraticáveis.

É mais uma sexta-feira. Meu nariz e tua nuca. A água que ferve quando prova tuas curvas. Nenhum sossego, linhas ocupadas, teus gemidos. Minha voz já rouca emaranhada de suspiros. Essa tua coisa de me encarar entre os lençóis. Nossa delicadeza em acordar a cidade. Minha festa cabendo em você.

Te olhando daqui, crio motivos proibidos e alterno entre vertigens furtadas pela falta de ângulo. Você é linda a essa hora, e o dia ainda nem existe. Debruçada em minhas costas, me deixa descobrir tuas senhas enquanto me entrega todas as falhas, rosnando, aninhada em meus abraços. Você me bagunça em todos os cantos. Tua língua me destranca.


Urgência maior é te inaugurar.

segunda-feira, junho 05, 2017

Dia especial




►Leia ao som de Dia Especial, Tiago Iorc. ◄

A chuva de um verão caía lá fora assanhando um pouco do calor que me castigava. Não havia mais lágrimas, pois a tua voz mansinha - de quem come quieto - tratava de balbuciar algumas piadas sem graça. Em poucas horas eu soube dos teus empreendimentos, da tua mãe que mais parece dona Benta e de teus sonhos muitos que não cabem em tua cidade. A vida parecia menos dolorosa ao ouvir a tua voz me dizendo: "a vida é mesmo assim. Há dias em que a glória vem. Há dias que ela vai." De repente a gente vai percebendo o outro. E aos poucos me vi mergulhada na tua história. A tua vida para mim era mais interessante do que os episódios de investigação criminal que me rouba as tardes de domingo. 

Das lágrimas ao riso. 

Assim me vi naquele dia: chorosa e sem expectativas. É engraçado como as pessoas têm o poder de embonitar as nossas vidas mesmo sem querer. Aquele dia o meu céu cheio de nuvens e trovões fora se transformando azul brigadeiro. Tudo o que me doía já não era mais lembrado. Tudo porque tu sentou na calçada de minha vida e me ofereceu o ombro e um pouco do teu colo. Me afagou os cabelos e disse que nenhuma dor era eterna. Me fez acreditar - mesmo eu vacilando - que dias ruins também acabam e que até com a dor nós aprendemos a viver.

Tudo é ensinamento, lição. Tu me disse. 

E eu fechando os olhos e ouvidos só pensava: mais um otimista em minha vida. E tentava desvencilhar das tuas palavras precisas e, ao mesmo tempo, dolorosas. A vida havia te ensinado um bocado. Quase quatro décadas de vida. Diferença pouca em anos, diferença gritante em experiência. Tu era a vivência que, apesar de registrar em alguns textos, pouco tenho. Tu era a sabedoria que eu precisava naquele momento. Era o abraço de mãe que confortava um pequeno e o conselho de avó ao se despedir do neto que volta à casa de seus pais. Tu me foi - aquele dia - um pouco da esperança que a vida me roubara.

Do riso à gargalhada.

Sem nenhuma pretensão além de estar ali e fazer o bem. Sem nenhum outro objetivo a não ser estender a mão e me agasalhar. A vida é mesmo uma caixinha de surpresas. Neste mundo de meudeus onde todos buscam benefícios lá estava eu com milhões de questionamentos e indagações; e você cheio de paciência e conselhos a me dar. Aquele dia eu soube que, apesar de toda a dor que carregamos, há sempre uma lição a ser aprendida.

Das lágrimas ao riso. Do riso à gargalhada. Da gargalhada à mansidão. Da mansidão aos meus dias. 

Obrigada.




sexta-feira, junho 02, 2017

A felicidade é uma janela.


Os textos não se contabilizam mais. Perdi as contas de quantas vezes sentei em frente ao computador para te desenhar com os meus dedos. Escrever sempre foi a forma mais próxima e certa de te ter aqui comigo. Escrevendo não há distância. Os quilômetros não existem. Tudo é tão próximo. Escrevendo eu sinto seu cheiro, sinto o seu toque e sinto que somos casa um do outro. Escrevendo eu fecho os olhos e te vejo sorrindo com teu sorriso largo e eu vejo os teus olhos miúdos fitando os meus. Escrevendo.

“A felicidade é uma janela a espera de alguém que esteja afim.” Ecoa na cabeça. Assim como tantas outras canções que sempre foram trilha sonora. Canções que me desconcentrava enquanto conversávamos sobre os dias e sobre um futuro incerto. A vida parecia tão descomplicada ali enquanto ríamos e fitávamos um ao outro por trás da tela. Ter uma casa parecia tão fácil, ter filhos era algo tão certo e outras coisas tão comuns aos casais normais.

Será que sonhar é tão caro assim? Ou será que é somente errado? Ou será que sonhos não são para todos? Sonho é ouro de duende no final de arco-íris. É estrela brilhante no céu que nossas mãos no alcança. É tesouro de pirata escondido nos sete mares. Nunca é aquele pãozinho gostoso que fica na padaria só esperando a gente ir pegar. Sonhos são para alguns. Não para todos.

Sonhos de amor são dolorosos. E muitas vezes nós nos vestimos de contos Shakesperianos sem perceber. Somente percebemos quando a tragédia está instalada. Quando não há quem ouça a nossa voz. O amor é tão carrasco às vezes. Porque ele não nos aponta uma solução, apenas cortam as nossas cabeças. Amar é para quem não tem medo da vida. É para quem coloca a cabeça na guilhotina.

Amor é para quem tem paixão pela vida.

É para quem sabe que só se vive uma vez. Para quem não deseja sentar em uma cadeira de macarrão daqui alguns se questionando como seria. É para quem fica, enfrenta os medos e mesmo com medo tenta vencer as adversidades. Amor é para quem ousa.