segunda-feira, fevereiro 23, 2015

Decida-se viver.

"Todos os dias antes de dormir
Lembro e esqueço como foi o dia
Sempre em frente
Não temos tempo a perder (...)"

(URBANA, Legião).


Acredito que um dos sintomas de envelhecer é ter vontade de agarrar os dias que vão se passando. Todos as noites deitada em minha cama os meus olhos fixam o teto e, diversas vezes, eu me pergunto se estou no caminho certo. Algumas vezes a pergunta vem acompanhada de um suspiro doloroso. É como se ele respondesse: "você perdeu mais um dia de vida". Planejo em minha cabeça várias decisões para o dia seguinte, no intuito de diminuir os erros, de alcançar os meus objetivos e no outro dia, na reflexão noturna, vejo que mais uma vez fracassei.

Algumas decisões que eu julgavam certas à época trazem ao meu coração uma tristeza sem explicação. É como se as minhas escolhas tivessem em suas mãos açoites. E eu apanho sem poder questionar, sem margem para explicar as razões e porquês de tê-las escolhido. É como dizem por aí: "suas escolhas fazem você". Acho tão complicado o convívio humano e as relações. Algumas pessoas entram e saem das nossas vidas como se fossem, realmente, a casa da mãe Joana. Não encaro a vida dessa forma. Se abro a porta para alguém é porque espero, ou acredito, que ela venha de mala e cuia. Que permaneça.

Talvez a minha visão sobre relacionamentos seja tão antiquada quanto as canções que Roberto Carlos outrora cantava. Ele que é o amante à moda antiga, que manda flores e quem sabe até cartões. Aquele que namora no portão, que dá valor à presença do outro, que sente saudades com uma intensidade tremenda. Meu coração não tem a porta escancarada, ele tem chave e sabe que há um tempo certo para visitas. Talvez eu não compreenda ainda o tempo das coisas, talvez eu confunda a vida, o momento, as pessoas. E deixe as oportunidades passarem.

Acontece que há alguns dias meu coração se afogou no remorso por não me permitir, por podar a árvore antes que desse os frutos, por fechar as cortinas antes que o sol adentrasse o interior da casa. Mas ao mesmo tempo eu percebo e me convenço que não se pode convidar alguém para morar 'dentro' de nós antes de esvaziar os cômodos, de limpar as poeiras dos cantos. E penso que a vontade de Deus prevalece todos os nãos que uma vez dissemos ao outro. Um sim na hora errada pode ter um efeito avassalador. E é isso que me consola.

quinta-feira, fevereiro 12, 2015

Perco.

Tenho a memória fraca demais e pouco tato para as coisas. Eu as perco. Perco as chaves de casa por onde ando, os meus óculos nos lugares mais improváveis e algumas pessoas, por aí, nesta longa estrada. Talvez por não estar suficientemente pronta para recebê-las. Meu coração é casa, mas esteve desarrumada por um tempo. Havia móveis demais. Entulho demais. E eu só percebi a desordem quando me vi diante de alguém, de uma lembrança. Uma pequena recordação que me fez pensar que posso até perder objetos, mas não pessoas.

Não esse alguém.

E hoje eu vejo o quão ‘errada’estive. Não em manter a porta trancada, mas por não me permitir abrir uma janela. Deixar que a luz entrasse pela fresta e beijasse o meu rosto, me convencesse que era ele. Talvez não seja. A gente nunca tem certeza de nada. Acontece, porém, que os olhos dele ou, talvez, a voz mansa me convenceu que eu estivesse completamente errada.

Convenceu.

terça-feira, fevereiro 10, 2015

Sobre fases

Eu tenho medo de dizer que estou apaixonada, mas eu cai em um abismo quando me vi dentro dos teus olhos. Queria não rotular os sentimentos que invadem o meu peito neste momento, mas eu aprendi a dar nome às coisas desde muito pequena. Como eu poderia dizer: "bate aqui dentro por ele um - que não sei o que é". Eu tenho medo de embonitar, medo - principalmente -, desse fogo que arde em mim. Eu só queria dizer eu me vi caindo em um abismo e dessa vez eu não morri.