quinta-feira, abril 27, 2017

Erros e enganos.



Tantos erros e enganos somos nós. Somos a despedida de olhos marejados em uma quarta-feira fria. A vida se desenhou muito desde então. Deixamos de ser quem éramos. Passamos a ser quem hoje somos. Quando abrimos a porta de nossos corações não imaginamos ter que fechá-la algum dia. Você veio, se instalou de mansinho e aos poucos fui vendo os teus vestígios por toda a casa. Já não era apenas eu. Minha escova estava ao lado da sua. Minha gaveta comportou as tuas cuecas. O meu chão virou depósito de roupas embriagadas de amor. Nenhum cômodo era só meu. Nem mesmo a minha mente era só minha. Tudo exalava você. Tudo tinha um pouco de ti.

Tantas idas e vindas somos nós. Somos as ligações perdidas em madrugadas insones. O café que esfria, enquanto miramos a porta. A comida requentada que já não satisfaz o paladar. Somos um ontem sem tantas pretensões. E um amanhã que não tem ideia de como será. Somos um amontoado de e-mails não-lidos na caixa e milhares de mensagens sms não respondidas. Somos o sobejo de um amor que não vingou ou somos a felicidade de algo que teve fim?

A vida se desenhou da forma que quis. Deixamos de ser plural e voltamos a ser singular. Aprendemos a andar com nossos próprios pés. Descobrimos que havia vida após o término e refizemos as nossas vidas. Encontrei um, dois, três novos amores. Você encontrou dezenas mais. Me descobri menina na íris de um poeta e me enxerguei mulher nos braços de um pintor. A vida nem sempre é como imaginamos ou queremos. Às vezes ela pede um pouco de atitude, outras serenidade e, em outros momentos ela requer de nós apenas um pouco de paciência.

Paciência. 

Paciência para entender que pessoas vêm e vão como pássaros de verão. Compreensão para entender que algumas pessoas apenas nos ajudam a escrever nossas histórias. Hoje a minha vida é uma bossa antiga que fala de amores que se foram. Hoje a tua vida é uma vida boêmia de portas abertas a quem desejar aquecer a tua cama. Somos um amontoado de erros e enganos. E só compreendemos isso quando a vida nos cobra. Quando as portas se fecham e não mais encontramos suas chaves.




terça-feira, abril 25, 2017

No jogo da vida não perdemos nada daquilo que não era pra ser nosso.

Ela conta o tempo com as marcas que carrega no sorriso. Uma forma que encontrou de, apesar de tudo, expressar alegria cativante sem esquecer do gosto salobro das lágrimas que lavou a sua alma. Seu coração, massacrado, ainda bate. E isso, pra ela, é uma virtude e foi um sinal. Sinal de que se ele, que tanto doeu, continuou batendo, porque ela haveria de parar?
E aquele sorriso atraente seguiu à risca a ordem. Brilhando.
Por onde ela anda, explodem rastros de superação que inspiram outras dezenas dela.
Meninas, mulheres.
Que se espelham tentando sobreviver a essa onda de desilusões sistemáticas. As marcas do seu sorriso é o recado para quem hoje chora o desespero do livramento daquilo que tortura o peito, nos trilhos pavorosos que carregam vagões cheios solidão.
Sua resiliência ensina que ser feliz é a única e mais inteligente forma de seguir em frente. Por mais que as dores sejam intensas a ponto de fazer curvar o corpo.
Entendê-la é compreender que dançar na balada ao som de modões e copos cheios de álcool não é o suficiente. Que beijar bocas anônimas e declamar poemas de desapego em legendas de selfies só causam ruídos na comunicação entre o que você é e aquilo que você quer acreditar que seja. Entendê-la, é perceber que o verdadeiro sorriso de felicidade vem após a exata compreensão da vida. E que, assim como ela, as que admiram ela também irão carregar em seus sorrisos abertos um livro de experiências, saudades e amores que não deram certo.
No jogo da vida, ela diz, não perdemos nada daquilo que não era pra ser nosso.
Entendê-la é saber que um dia ela, e as que admiram ela passando, irão se olhar no espelho, respirar fundo e pensar: Ainda bem que não deu certo.
Mas, um dia, dará. Segue em frente. O jogo continua.
Texto originalmente postado em: Fotocitando.

segunda-feira, abril 24, 2017

Deixa eu bagunçar você!



►Leia ao som de Zero, Liniker◄

Deixa eu ser um pouco de caos nesta calmaria que é a tua vida. Tirar a tua vida do marasmo e te fazer conhecer os cantos mais sórdidos desta grande Capital. Deixa eu te apresentar o mundo e te mostrar que a vida é maior do que os teus olhos podem ver. Deixa eu andar de mãos dadas como namorados, mas deixa eu te enroscar nas minhas pernas como amantes. Deixa eu te fazer peregrino em meus caminhos. Deixa eu te olhar nos olhos e te fazer mil juras em minha íris. Deixa eu desvendar a constelação que habita em teus olhos. O universo que se esconde em teus lábios.

“Dente, lábio, teu jeito de olhar. Deixa eu me aprofundar em você. Nos teus pelos, nos teus cheiros e nos lugares que eu desconheço. Deixa eu olhar a vida através dos teus olhos. Deixa eu ser o motivo das tuas noites insones e, me chama a viver contigo todas elas. Deixa eu ser o que motiva a ser alguém melhor e a razão pela qual você ainda acredita em um mundo melhor. Deixa eu te conhecer a fundo. Deixa eu explorar o teu íntimo, teu âmago, teu mundo.

Deixa eu me perder em teu corpo. Como alguém que não sabe onde deixou a sua “caneta bic”. Deixa eu fazer as analogias mais absurdas para te fazer parte da minha rotina. Deixa eu te amar em meus pensamentos enquanto ouço o professor dissertar sobre física quântica. Deixa eu te ter em meus braços, enquanto meu chefe me demanda. Deixa eu ser a tua comida, o pão que te alimenta, a água que mata a tua sede.

Deixa eu ser. Deixa eu ter. Deixa.

Deixa eu caminhar pela tua história como quem deseja encontrar um tesouro perdido. Deixa eu ser a mocinha do teu filme preferido de faroeste. Ou a princesa que espera na torre para ser resgatada. Deixa eu ser de contos de fadas. Mas deixa eu ser, também, uma história bandida. Deixa eu ser quem eu quiser e me dê condições para isso. Abra a porta sempre que eu pedir e só a feche para que o frio não nos alcance. Deixa eu ser quem sempre fui.


Deixa eu bagunçar você.
Deixa?

Fotografia: Maud Chalard.

quinta-feira, abril 20, 2017

Moça, não permita que a carência te governe.



É moça, a carência é a pior parceira que você pode ter. Ela faz você enxergar o boy que só lembra de você quando não tem nada melhor pra fazer, como o príncipe encantado da sua vida. Ela faz você perceber amor onde só tem interesse. Ela te ludibria de maneira tão sorrateira que você enxerga o crush que só te usa como o cara que te faz feliz.

Sabe aquele relacionamento que você aceitou logo depois de um que te fez mal e hoje você se questiona “onde eu estava com a cabeça”? Foi a carência que te fez enxergar flores onde só tinha pedras. Ele te fazia mais mal que bem e você pensava que não vivia sem ele.

Ele tinha você, outra na rua de baixo, uma no trabalho e outra sei lá onde. E você jurava que ele era a pessoa certa. Ele não falava o seu nome. Ele esquecia as datas. Pra ele era coisa passageira. Pra você era namoro. Isso é culpa da carência. Não permita que ela te governe!

Ela te cega. Estando carente, você fica vulnerável. Qualquer educação, olhar, pouquinho de atenção, você vê como amor. É perigoso entrar em uma relação estando carente. Você acaba se doando demais. Esperando isso de volta. Não vai vir nem metade do que você entrega a ele, moça.

Ao notar que está carente, não se envolva com ninguém. Dentro de poucos dias, ele vai soltar o pedido de sempre “não gruda porque não gosto”. Não é que ele não goste de grude. É que ele não quer nada sério. E não tem a capacidade pra te dizer isso. Então, eu estou dizendo.

Você só está com ele, lendo essas coisas, por carência. Não tem reciprocidade no relacionamento de vocês. Você só está com ele pra não ficar sozinha. E ele só está com você por não conseguir te falar a verdade. Ele foi gentil. Você se entregou. Ele não fala a verdade. Você acha que é amor.

Viu a merda em que a carência te joga? Vale à pena sofrer em relacionamentos rasos, querendo coisa séria? Tem cabimento estar com alguém que passa o dia todo sem te mandar um whats e só te responde o que você envia? Ou nem responde à mensagem? Só responde quando você pergunta algo? Faz mal ser ignorada. Faz mal isso de estar carente, apostando muito em um cara que não está nem aí.
É sério. Você está só carente. Isso é passageiro. E ele não quer nada sério com você. Não é fácil se desligar querendo estar junto. Mas quando a gente está sozinha e carente, as chances de algum novo relacionamento dar certo, são baixas. Quase nulas. É mais prudente sair disso antes que se magoe, moça.

O que você sente por ele é fruto da carência. Você projetou nele um cara que ele não é. Você mal o conhece e já fez mil planos. Ele não vai te dizer com todas as letras que não quer nada sério. Então cabe a você sair disso. Seja forte e saia. Dê tchau, agradeça por tudo e fique sozinha por uns tempos. Enquanto estiver carente, será melhor assim.




quarta-feira, abril 19, 2017

A vida tem pressa.


Nove e meia.

As roupas sobre o chão demonstram que há amor aqui. São nove e meia e desde às dezoito que me permito ser tua. Vorazmente a tua boca me descobre sem cerimônia. Ela percorre meus caminhos recônditos desbravando meu jardim secreto. Perco-me em você e me encontro em teus meios, teus pelos, teus seios. Entre suspiros e abraços me descubro tua e minha. Minhas vontades se misturam com o teu desejo. Fundimo-nos.

Dez e meia.

Somos roupas, suor e gozo. A vontade de parar o relógio, pedir tempo ao tempo e se demorar um pouquinho mais. Somos a vida que se apequena e cabe dentro de um quarto. Somos o amor que Caetano e Chico cantam em suas canções. Somos feras famintas. Somos felinos que procuram carinho. Somos síntese. Somos paradoxo. Somos um amontoado de adjetivos que se fundem como nossos corpos. Somos lascívia. Somos paixão. Somos, por fim, amor.

Onze e quinze.

Somos beijos de boa noite. Somos olho no olho e um dorme bem. Somos cobertor caído no chão, cheiro no cangote e uma prece de que a noite se demore um pouco mais. Somos a felicidade que se desenha em nossos lábios. Somos o calor que nos esquenta em um abraço. Somos mais que pele, carne e suor. Somos nossos corações despidos um ao outro. Somos mais que roupas jogadas no cão.
Meia-noite.

E compreendemos que o amor é muito mais que o toque, o sexo e o prazer. É olhar o outro dormindo e agradecer por ter a sorte de assisti-lo. É beijar a fronte, tocar a face e perceber que o nosso mundo cabe dentro de um abraço. Amor é não saber e ainda saber. É olhar e não acreditar. É perceber que a vida tem pressa e ainda assim pedir que ela espere um pouco mais.

Fotografia: Maud Chalard.





terça-feira, abril 18, 2017

Os dias são sombrios, então que espalhemos fé!



Mensagem de reflexão para todos aqueles que precisam de um minuto de intercessão e não sabem por onde começar. Nem tudo é pedido, muitas vezes é agradecimento. Ou pelo fato de termos superado o caos, ou apenas por mais uma vez estarmos vivos.

Não sou sua filha mais obediente, e nem tão pouco a mais fiel. Minha fé oscila e muitas vezes me deixo invadir por sentimentos impuros e atitudes que Te fazem chorar. Necessito de Ti para viver, quem não acredita em Ti que me perdoe, mas sou alguém completamente dependente do amor de Deus. Não sou de estar na igreja dia sim e outro também, sou um pouco desbocada, e na maioria das vezes falha, mas não existe um dia que não acordo e olho para os céus e agradeço pela vida maravilhosa que eu possuo.

E não há uma noite que não agradeço pelo meu dia, independente de qual for a provação Tu sempre me estendes Sua mão. Ultimamente o fardo está pesado, as lutas intensas, não sei por qual caminho devo seguir, estou me sentindo fraca, assustada, ferida e só queria um colo para poder deitar. Só Tu sabes as dores que tenho na alma e os sonhos do meu coração. Papai do céu, me perdoa por todas as vezes que proferi seu nome em vão, ou por todas as vezes que pequei em atos ou pensamentos, e que de alguma forma desonrei seu amor.

Se meus sonhos não forem o que Tu queres para mim, que Sua vontade prevaleça hoje e sempre. Que o passar dos dias eu tenha ombros mais fortes, pessoas mais verdadeiras, e que minha família seja sempre abençoada. Que eu seja sempre humilde e que jamais deixe a soberba, luxúria ou frivolidades determinar minhas ações. Que a paz sempre aconteça, que a felicidade permaneça e que o amor regue sempre o coração de quem me quer o mal.

Que todos meus amigos sejam imensamente protegidos e os que não forem verdadeiros que se vão. Te entrego o maior desejo do meu coração e Tu sabes o que é, não sou digna, mas confio em Ti como o filho confia no pai. E se algum dia eu perder a esperança, me ajude a lembrar que seus planos são melhores do que os meus. Me dá Seu colo e Seu amor, como já disse sou completamente dependente de Ti, Senhor. Amém! 




segunda-feira, abril 17, 2017

E se.


Leia ao som de Fast Car, Tracy Chapman

E se nós esquecêssemos todas as desavenças e voltássemos à estaca zero? Você não precisaria se preocupar com os meus desmandes ou a minha falta de segurança. E eu não precisaria relembrar os sábados que você me deixou sozinha a sua espera. E se, por um segundo, nós nos permitíssemos viver uma nova história sem tantas dores e desencontros. Se optássemos em apagar da memória tudo aquilo que, por um instante, nos fez mudar os nossos caminhos.

E se pegássemos a estrada e resolvêssemos viver nossas vidas em um outro lugar? Um lugar onde os olhos tortos não nos alcançariam. Que a nossa história não seria conhecida e não teria ninguém a apontar os nossos erros e desenganos. E se nós finalmente decidíssemos um pelo outro. Se olhássemos para dentro de nós e compreendêssemos que o amor é capaz de vencer batalhas. E se?

“Você tem um carro veloz” e eu só quero que você me leve para onde quiser. Não importa se iremos às muralhas da China ou a Nova York do Maranhão. Não importa se teremos uma casinha pintada de branco com um jardim na frente ou se moraremos em um trailer em um povoadozinho de interior. “Você tem um carro veloz” e eu tenho vontade de conhecer o mundo ao seu lado.

E se o amor realmente fosse capaz de transformar o mundo? E se você fosse louco o bastante para seguir meu plano sem pestanejar. Nós venderíamos bugiganga de porta em porta ou faríamos artesanato e venderíamos em alguma praia. Ou quem sabe trabalharíamos em alguma conveniência ou se tivéssemos um pouco mais de sorte seríamos os donos dela.

E se por um instante você girasse a chave do carro e dissesse: “o mundo é nosso, meu mundo é você”. E partíssemos sem destino certo pelas estradas da vida. E se por um instante você me olhasse nos olhos e percebesse que embora viajemos, andemos em alta velocidade, nosso lar sempre será onde estivermos. E se por um instante você aceitasse minhas investidas.


E se.

quinta-feira, abril 13, 2017

Quando eu deixar de te amar.



Você deixará de ser parte do meu dia, da rotina cansada, dos dias ensolarados e cheios de vida. Apenas deixará de ser. As tuas lembranças ficarão amarelecidas como as cartas antigas que os meus avós trocavam no início do namoro, será uma película cinematográfica em preto e branco, sem voz, e pouca vida. As minhas pálpebras já não serão mais o esconderijo da tua imagem e a constelação que tu me desenhavas nos olhos, com teus doces beijos, será engolida por um buraco negro qualquer. As estrelas deixarão de (nos) existir.

Quando eu deixar de te amar o meu desejo de compartilhar contigo minhas pequenas vitórias será transferido a outro alguém, dividirei o meu pote de Nutella com outra colherinha, chorarei no ombro de outra pessoa as minhas perdas e desenharei, ainda, os meus melhores sorrisos, com os meus braços envoltos no pescoço dela, enquanto dançamos uma música qualquer de Ed Sheeran. E por falar em música, algumas delas, aquelas que embalaram os nossos melhores momentos, deixarão de contar nossa história, nossos momentos. Passarão a ser um hit qualquer ou, quem sabe, uma playlist excluída da memória do meu celular.

Sempre acreditei que amar era uma espécie de queda em um bueiro. Anda-se distraído por aí, sem olhar para o chão ou para os lados, e de repente você cai. Vê-se dentro daquele emaranhado de sentimentos, se vê preso em sensações indefiníveis e percebe, aos poucos, que eles vão se tatuando na pele, no coração, na alma. O amor é indelével. Nós caímos, vocês cairão – sorte a sua se um dia tiver um arranhão – porque daí saberá que o amor mesmo sendo um tombo, mesmo arranhando as tuas partes, permanece em nós através das pequenas cicatrizes.

Quando eu deixar te amar haverá, ainda assim, mesmo em meio a tantas negações e vontade de não mais ser, uma arranhadura em meu coração. Porque amores vêm e vão – a gente sempre soube e sabe – mas eles nunca vão de fato. Por inteiro. Sempre há uma cor, um sabor, um gesto, um perfume, a nos teletransportar para a vida do outro. E dói. Mesmo a ferida com casca, dormente e sarada. Porque doer sempre foi, e será, a forma de o coração mostrar que um pouco de nós foi embora. Que partiu nas roupas jogadas na mala, nos pertences recolhidos do banheiro, nas anotações diárias e conjuntas da agenda, no coração que nos coube por tanto tempo.

Quando eu deixar de te amar a ferida que ardia, feito merthiolate recém colocado, será aliviada por um sopro de uma brisa leve. Os nossos caminhos seguirão direções opostas, um novo eixo será apresentado a nós, a vida seguirá calma, mansa e reta. Sem curvas, sem maiores embates. Os dias se desenharão sem a necessidade da tua presença, aos poucos você deixará de ser assunto em minhas queixas, o sentimento se esvairá. Quando eu deixar de te amar você se tornará apenas uma breve lembrança, poeira no meu filtro de memória. Um acontecimento preso ao meu passado, que não mais será reportado em minha história.

Texto originalmente postado em Superela.
Fotografia: Maud Chalard.


segunda-feira, abril 10, 2017

Ela só quer ser amada.


►Leia ao som de She will be loved.◄

Ela veste o seu melhor vestido, usa seu perfume caríssimo e sai à procura de alguém para conversar. Senta sozinha no bar de sempre, pede seu drink preferido enquanto conta como foi a semana para o barman. Toda semana é sempre igual. A moça de cabelos vermelhos e olhos de tigre fez daquela sua rotina. Ela só quer ser amada. É o que sempre diz aos que se aproximam. A vida parece ser muito ingrata e os amores apenas versos de tolas canções. Ela se embriaga mais uma vez à espera de alguém que lhe estenda a mão.

Dois, três, quatro, oito drinks já se foram. Suas roupas estão jogadas, mais uma vez, em um motel da cidade. Ela as recolhe com a dor de quem recolhe seus cacos. Mais uma vez se entregou aos seus desejos e fez de seu corpo morada para um desconhecido. Mais uma vez despiu a sua alma a quem desejava somente seu corpo. Ela só quer ser amada.

Eu só quero ser amada.

É o que ela fala para si mesma, sussurrando baixinho para o reflexo do espelho daquele motel de quinta. Olhando para a boca já sem batom e para os olhos negros de rímel escorrido. Olhando para a sua alma desnuda na frente do espelho suado da água quente do chuveiro. Olhando para a moça afoita que se tornou. A forasteira que se aventura em corpos desconhecidos. A corajosa que desbrava céus e terras a procura do amor. A iludida que ainda acredita em amores de contos de fadas, mas que põe o pé pelas mãos em busca deles.

Ela veste o seu melhor vestido agora amarrotado e já não há que se note a essência de seu perfume. Mais uma vez os seus sonhos de encontrar alguém para vida toda são destruídos por alguém que quer apenas seu corpo. Alguém que lhe oferece uma bebida imaginando o que há por baixo de suas roupas, a alguém que no primeiro olá já imagina coisas sórdidas. Amores de bar não vingam, pensou ela. Só findam.

Eu só quero ser amada.
Diz a moça de olhos de tigres cheios de lágrimas, girando a maçaneta da porta de casa, caminhando em direção a sua cama.
Ela só quer ser amada, penso eu. Enquanto observo e compreendo que muitas mulheres vestem seus vestidos, na inocência, de encontrar algum príncipe ou apenas alguém que esteja disposto a caminhar ao lado de uma moça que conhecera em uma mesa de bar.


quinta-feira, abril 06, 2017

A nobreza de O’Malley.



O’Malley é aquele exemplo clássico de que a bondade e a generosidade nos assustam. Algumas vezes olho para determinadas ações, para algumas cenas e me pergunto até onde vai a ingenuidade dele. Ser bom, ter o coração cheio de bons sentimentos, seguir em linha reta nos impressiona, porque, infelizmente, isso se tornou exceção. O mundo anda cruel demais. Ninguém estende a mão sem esperar nada em troca. As pessoas têm se relacionado cada vez mais através de trocas. Eu te amarei se você corresponder na mesma proporção. Eu serei seu amigo se dessa amizade eu conseguir usufruir algum bem dela. Só farei favores se eu vir que isso de alguma forma me beneficiará.

Tenho aprendido a amar O’Malley pela sua nobreza. Tenho olhado para as minhas ações, tenho observado melhor o mundo ao meu redor, tenho reparado melhor as pessoas à minha volta. O’Malley lembra a mim quando mais jovem. Eu não tinha malícia alguma sobre a vida e para mim todos que me abraçavam ou que diziam me amar eram verdadeiros. A vida nos ensina demais. Ela nem sempre é aquela professora feliz que acabou de receber uma maçã suculenta de um aluno. Muitas vezes ela é aquele professor carrasco com palmatória na mão.

O’Malley vem me ensinar que a gente precisa fazer o certo, mesmo que isso nos custe caro. Ele nos mostra que nem sempre sair por cima é sair por cima – se é que vocês me entendem. Ele tem me ensinado a ser mais humana e a reconhecer as minhas fraquezas e limites. Nós não podemos nos exigir demais. Não podemos apontar o dedo para o reflexo do espelho e nos cobrar como se estivéssemos em um quartel. Ele me ensina que gentilezas salvam vidas e que abraços podem restaurar almas. Que quando cuidamos de alguém que amamos cuidamos de nós mesmos. É um bem que nos volta como um bumerangue. 

Ser mais humano, ter ações mais justas, ser honesto são questões que jamais deveriam ser vistas como exceções. Olho para esse rapaz, me emociono em determinados momentos e penso que a ingenuidade não é algo tão ruim assim. Olho para ele e penso em resgatar a inocência que havia em mim. Só que não posso, porque o mundo é impiedoso e tende a espancar os o’ malleys da vida. Entretanto, mesmo diante dessa verdade, eu continuo a acreditar que a nobreza de O’Malley e o seu coração justo e honesto deveria ser regra e nunca exceção. A vida deveria ser mais justa. E nós também deveríamos ser mais nobres.


quarta-feira, abril 05, 2017

Quem me roubou de mim?



Essa é a quinta xícara de café e a manhã ainda nem foi embora. Dizem que café não é bom para a saúde, mas às vezes ele me parece uma válvula de escape. É o meu cigarro. É aquilo que me satisfaz e me dá um pouco de paz. Os dias estão estranhos. Os anos parecem correr velozmente. Eu me olho no espelho e não me reconheço mais. Há quinze anos eu era uma moça que colecionava recortes dos Backstreet Boys, desenhava e passava a tarde assistindo os clipes da MTV. A vida parecia ser tão mais leve e sem preocupações. Os dias eram mais lentos. Eu vivia mais?

Há dias que a minha ansiedade me abraça de uma forma absurda. O meu estômago parece aquele vulcão enfurecido do inferno de Dante. A minha visão se turva, meus pensamentos ficam descoordenados e eu não consigo lidar com as minhas emoções. Sofro demasiadamente por coisas que em sã consciência eu não daria a mínima. Um pingo realmente vira uma tempestade. Eu me sinto uma formiga diante do que sinto. Tudo se torna absurdamente grande. Tudo tem parece gigante. A vida parece se tornar um lutador de sumô e eu me vejo como um peso pena deitado no ringue.

Queria conseguir controlar esse monstro que habita em mim. Mas o meu cérebro parece incapaz de conseguir, as minhas forças parecem insuficientes. É como se eu estivesse com as mãos atadas. Isso! É como se eu estivesse vestindo uma camisa de força sem poder me mexer. Às vezes eu penso que respirar um pouco mais resolveria, mas parece que o ar nunca é o suficiente. Sinto como se estivesse me afogando. Como se a água enchesse os meus pulmões impiedosamente.

Alguns dias são mais difíceis que outros, eu confesso. Hoje eu demorei um pouco mais para levantar da cama. A vontade de permanecer ali era enorme, mas quem disse que posso me dar ao luxo disso? A vida não espera a gente se recompor para continuar. Meu trabalho não irá esperar, os processos continuarão a chegar e minha caixa para análise continuará lotada. A vida não espera. A vida não espera. A vida não espera.

A vida não espera. E isso martela na minha cabeça insistentemente. E talvez essa seja uma das causas que têm me deixado tão fora de mim. Eu olho para a pessoa que eu era há alguns anos e sinto saudades dela. Tenho orgulho de quem sou hoje, mas parece que falta algo. Minha insegurança me atropela como um canhão em uma guerra declarada, meus medos me assombram como um fantasma que não arreda do meu pé. E nesses momentos eu me pergunto: quem sou eu? Quem eu deveria ser? Por quais caminhos eu deveria seguir?

Quem me roubou de mim? É uma pergunta que me faço constantemente. Será que foram todas as situações desagradáveis que passei nessa vida ou será que é a soma de todos os afetos que tive, perdi e que ainda busco? A vida tem dessas perguntas que a maioria das vezes são retóricas. Estão ali debaixo dos nossos narizes. Esses dias têm sido difíceis. E não tem ninguém para eu culpar a não ser eu mesma. É estranho olhar para toda essa confusão que há em mim e saber que tudo vem de dentro. Que é tudo interno. É duro olhar para a minha ansiedade e perceber que ela tá me derrubando no chão, que está arrastando minha cara na pirraça, que está bebendo todo o meu sangue.

Hoje é eu amanheci doendo um pouco por ser quem sou. Hoje eu fui atrás de resolver minhas questões existenciais e tratar da minha saúde. Hoje fiquei um pouco mais orgulhosa de mim ao compreender que não dá mais para brigar de cabo de guerra com a minha ansiedade. Fiquei feliz por dar o primeiro passo em busca da cura. Porque se ela existir, ah! Eu vou encontra-la sem dúvida.



terça-feira, abril 04, 2017

Deixa ir, moça!


A nossa vida é uma longa estrada. Muitas pessoas passarão por ela e se instalarão ali para sempre, outras apenas passarão. Sem tantas demoras. Sem tanta cerimônia. Devemos ter em mente que algumas pessoas são nômades, forasteiras, elas são do mundo ou vivem à procura de alguém que as complete. Experimentamos o amor em seus braços, planejamos uma vida baseada em filmes hollywoodianos ou em comerciais de margarina sem perceber que sonhos e planos devem ser feitos a dois para darem certo.

Deixa ir, moça. Desata esse nó que te prende ao passado, viva os dias que batem em sua porta implorando para que você os viva. A vida está correndo apressadamente lá fora, os relógios não se demorarão porque você insiste em abraçar aquele que não é mais teu. O tempo não congelará nos momentos que vocês estiveram juntos não. Para de sofrer, menina. Olhe para a frente e veja um tanto de possibilidades que te aguardam. Olhe para o lado e veja que muitos desejam o teu coração. Siga em frente.

Às vezes deixamos grandes oportunidades passarem porque ficamos presos às lembranças, aos momentos bons. Dê a você mesma a chance de escrever uma história nova, sem dor, sem mácula, sem remendos. A gente tem que parar com essa fixação de que só seremos felizes se estivermos ao lado de uma certa pessoa. O mundo tem 7 bilhões de oportunidades e você se atém apenas a uma.

Não se submeta às sobras, não se vista de formiga, anseie por um banquete. Não se sujeite a ser segunda opção de ninguém. Viva a sua vida, moça. Desligue-se do mundo em que o outro está inserido, deixe que ele vá embora, solte a mão, deixe-o ir. Ele não foi? Quem quer permanecer não vai embora nem até na esquina. Quem quer ficar não dá adeus.

Chegou a hora de você se olhar com gentileza e se amar um pouco mais. Quando alguém abre mão de nós, quando batem a porta de nossos corações, eles já sabem o que ganham e o que perdem nisso. Não aposte em arrependimentos, não torça para que a pessoa se dê mal e volte aos seus braços. Não se diminua. Quem foi embora sabia que não te encontraria na mesma casa, na mesma estrada, no mesmo local. E você deveria entender que por mais que amemos, alguns amores não são para ser. Se ame, menina. Vá viver.



segunda-feira, abril 03, 2017

Dormindo no meu carro.



►Leia ao som de Sleeping in my car, Roxette◄

Desconecte-se do mundo e sintonize-se apenas na rádio deste carro. Não há compromissos nos esperando, não há urgência que nos busque, não há nada além de nós. Deixe que a vida se faça lá fora, longe de nós. Hoje não precisamos cumprir agendas ou fazer sala às visitas. Continue dirigindo por esta estrada. Não se preocupe com o que há no final dela. Por ora somos somente nós: eu, você e essa vasta rodovia.

Deixe a vida de lado por um instante. Observe somente a lua bonita lá fora e as estrelas que se formam no céu. Elas que se apequenam diante das constelações que habitam em teus olhos. Elas que se tornam medíocres perante o Universo que existe em você. Deixe que tudo tome o curso natural. Que o sol se ponha e que ele nasça assim como tem que ser. Que você se encontre e se reencontre dentro de mim.

“Dormindo no meu carro vou te despir, dormindo no meu carro irei te acariciar” e quando não houver mais som lá fora todos ouvirão nós dois a nos amar. O nosso canto libertador. O amor que se faz em nós. Em minha pele, em teus lábios, em nossos meios, em nossos finais. A paixão que de sôfrega se confunde com uivos. Há uma lua cheia lá fora a nós enamorar. Há uma luz brilhante a nos banhar.

Desconecte-se do mundo e sintonize-se em minha voz. Ouça o meu som/nosso som que cresce a medida que deixamos ser dois e nos tornamos um. Escute o silêncio pairar no ar como que todo o mundo virasse expectador de nós dois. Atente-se somente às nossas vontades, aos nossos desejos muitos, ao nosso entregar.  Sinta apenas o que nasce e morre em nós. "A noite é tão bonita e tão jovem".

Dormindo no meu carro vou te despir...