quinta-feira, março 30, 2017

Eu quero assim.


Quinze anos.

Cabelos longos, negros e cacheados. A timidez de quem não consegue expressar seus sentimentos sem gaguejar. O rubor nas bochechas de quem se vê encurralada – sem ação – ao ter que conversar com alguém. Ela. Dona de sonhos muitos, de pastas que iam de cifras internacionais – sonhava em ser uma rock star algum dia – a de colagens da sua boy band preferida. Ela. Menina toda. Trazia em seu coração uma paixão platônica que jamais seria correspondida: apaixonou-se por Nickolas. Ou simplesmente Nick. Ele: loiro, olhos claros, um metro e oitenta e três de puro encantamento.

Apaixonou-se como quem cai em um buraco: sem aviso prévio. Viu-se vidrada nas notícias, nas capas de revistas, nos clipes da MTV. “As long as you love me”, pedia. Sem cerimônia alguma. A moça de quinze amava alguém que jamais a conheceria. Sentia vontade de chorar todas as vezes que o via, poderia beijar a televisão enquanto ele dançava, fechava os olhos e se imaginava ao lado.

Nick jamais a conheceria. Ela, por sua vez, sabia o que ele gostava de comer, o nome de seus pais, seus irmãos, onde havia estudado, os sonhos que tivera quando criança. Sabia até o seu mapa astral, apesar de não acreditar muito em astrologia à época. Ele era de aquário. Não era o seu paraíso astral, mas ele possuía o signo de sua mãe e sua irmã. Ela as amava. Poderia – em sua cabeça – amá-lo também. Independente de.

Ele estadunidense. Ela brasileira. Ele deveria comer ovos e bacon no café da manhã. Ela comia tapioca, cuscuz ou somente pão de sal. Ele era da música. Ela sonhava em ser. Opostos não tão opostos. Possibilidade zero da vida lhes apresentarem. 2001 estivera na terra de Vera Cruz. São Paulo. Rio de Janeiro. Brasília, não. Ela não o viu.

Quinze anos depois.

Cabelos curtos, loiros e lisos. A timidez já não lhe cabe, porque ela descobriu que nasceu para o mundo. Aprendeu a expressar nas palavras, na escrita, os sentimentos que outrora só lhe cabiam no coração. As bochechas já não se envermelhecem por qualquer coisa. Ela. Ainda é dona de seus sonhos. Muitos. Tantos. Vários. Já não sonha em ser uma rock star, deseja ser uma escritora renomada e conhecida pelo mundo. Não carrega mais consigo as colagens deles, mas traz no coração a doce lembrança da moça apaixonada que foi.

Ele ainda é Nick. Dos Backstreet Boys. 
Ela ainda é a Mel. Dos livros, da poesia, da prosa, que escreve.




quarta-feira, março 29, 2017

Se valorize, moça!



Já dizia Vovó: “se valorize, pra que os outros te valorizem”. Isso serve pra tudo: estudos, trabalho, relacionamentos, vizinhos. As pessoas do nosso círculo de convivência só fazem com a gente, o que permitimos. Você tem uma “amiga” que só te procura quando briga com o namorado? Enche o seu whats de mensagens? Diz que vai seguir seus conselhos, agradece e depois some?

Sei como é: passa uns dias e tem foto dela com o namorado no instagram. Aí você se sente uma imbecil por ter perdido seu tempo. Por ter ficado nervosa com a situação que ela te explicou. Por ter se colocado no lugar dela e sofrido por ela.Ela sempre vai lembrar de você quando brigar com ele, porque quer só ser consolada. E vai sumir mesmo quando estiver tudo bem. E você vai se sentir uma idiota ao ver a foto dos dois. Se valorize, moça!

Você tem um (a) chefe que berra com você e faz grosserias, só por ser chefe? Aí você pensa em se demitir, mas tem medo da crise atual. Mas chega em casa e chora todos os dias? Ou chora no metrô, no ônibus, no carro mesmo? Vai esperar cair numa depressão, ter que gastar com terapia e remédios pra resolver isso? De fato, o País está em crise. Mas ser maltratada diariamente no trabalho por um (a) chefe que não tem tato com as pessoas, vai acabar com você. Se valorize, moça!

Seus familiares fazem chacota de você? Eles fazem com que você se sinta um peixe fora d’água? Dizem que você é uma múmia ou outros apelidinhos do tipo? Você tem aquele familiar que sempre que te vê diz que você nunca vai ser ninguém na vida? Aí você fica mal mesmo quando está entre eles. Se cala e fica remoendo tudo isso. Sua vontade é colocar um ponto final nisso, mas não sabe o que fazer. Olha, não precisa berrar nem enlouquecer. Mas falar o que eles fazem e você não gosta, faz diferença. E se você sair da presença deles sempre que começarem com essa babaquice, vai mostrar a eles o quanto são arrogantes.

Suas vizinhas tão sempre se metendo em sua vida? Dando palpites sobre suas atitudes, suas roupas? Isso é culpa da liberdade que você deu. Impor limites e colocá-las no lugar delas é uma forma de se valorizar também.Quem paga as suas contas é você. Quem acorda diariamente para trabalhar é você. Quem sabe da sua vida é você. Quem venceu tempestades e passou por coisas que não imaginava, mas venceu foi você. Se valorize, moça! Se olhe no espelho e diga a si mesma “eu posso mais”. Mude o que te incomoda. Passe a dizer mais “nãos”. Saia desse conforto de ser a “boazinha”. Quanto mais “florzinha” você for, mais vão te pisar. Você não precisa ser uma bomba atômica, mas tão pouco tapete pra ser pisado por todos.

Seja uma rosa com espinhos. Saiba impor respeito, mostrar como as pessoas devem agir com você. Se valorize, moça! Cada vez que te colocarem uma garrafa pra carregar e você disser “sim, eu levo”, mesmo não suportando mais o peso, vão pensar na próxima garrafa a te entregar. Existe uma grande diferença entre ser justa e ser boazinha. É você que mostra os limites. É a partir do momento em que você se valorizar, que será valorizada. 


terça-feira, março 28, 2017

Resenha: Eu sei o que você está pensando.



Livro: Eu sei o que você está pensando;
Autor: John Verdon;
Ano: 2011;
Editora: Arqueiro;
Páginas: 352.
SINOPSE:
“Se alguém lhe dissesse para pensar em um número, sei em que número você pensaria. Não acredita? Pense em qualquer número de um a mil. Agora veja como conheço seus segredos.”

Mark Mellerey, recebe um misterioso bilhete anônimo, onde o remetente diz conhecê-lo tão bem, que seria capaz de acertar o primeiro número que ele pensasse, entre 1 e 1000. Intrigado com o fato de seu correspondente anônimo ter acertado em cheio o número que ele pensou, aparentemente aleatório, Mark Mellerey decide procurar David Gurney, um experiente detetive, já aposentado, conhecido por participar de casos policiais famosos.

O livro prende desde o início, e ao passo que a história vai se desenrolando, a sensação que temos é que o caso não tem solução. A história é contada por David Gruney, personagem principal, que apresenta uma vida pessoal cheia de problemas, dentre eles o casamento marcado por uma tragédia, que passa por uma fase difícil e o distante relacionamento com o filho. Isso enriquece o personagem e faz com que fiquemos mais “íntimos”dele.

Para quem gosta do gênero, o livro cumpre bem o papel, pois, tem a dose certa de suspense, assassinatos, mistério, investigação, psicologia; um policial inteligente e um assassino criativo. Sem dúvidas, um livro que ao final de cada capítulo te deixa com vontade de ler o próximo.

Crédito da imagem: Prólogo da leitura.



segunda-feira, março 27, 2017

Teus dedos (me) dedilham.



Teus dedos dedilham a minha pele: sou violão. Uma sinfonia que somente teus dedos conseguem com destreza executar. Em meu ventre o Sol se faz bonito casando-se com vários acordes: somos canção. Somos “muito/tanto” da vida. Ela que se desenha preguiçosa lá fora, enquanto sôfregos nos rendemos ao que somos. Somos instinto nada extinto. Somos um misto de desejo, ternura e vontade. Somos a vida que muitos queriam ter, mas pudicos se negam. Somos a excitação de um novo amanhã. Somos o pulsar do coração que se descompassa por nossa respiração desritmada.

Tuas mãos envolvem os meus cabelos e os meus sentidos se perdem no seu entrelaçar de dedos. Não há juízo que se mantenha intacto quando você me faz tua. Quando o teu sussurrar abarca o meu coração, quando a tua respiração aquece o meu pescoço, a minha alma e o meu interior. É como se o mundo parasse por um instante. Tal qual uma brincadeira de estátua. A vida parece nos observar de forma invejosa. É como se dissesse: “olhem como se têm”.  

Nos temos. De uma maneira indescritível e inigualável. É como se fôssemos um rio a desaguar em um oceano. Metades que se completam e se têm de forma óbvia e precisa. Você me toca com a expertise de quem nascera para aquilo. Acordes, melodias, sons se perdem e se acham no eco de nosso quarto. Somos uma orquestra sinfônica. Um dedilhar de sonhos muitos, de vontades exageradas e desejos nada contidos. Somos música.

Teus dedos dedilham a minha alma e não há canção no mundo que supere em beleza, em ritmo, em harmonia, todo o amor que surge dessa nossa leveza de amar. Teus dedos dedilham a minha história e já posso ver Beethoven sendo substituído nas chamadas de espera. Já posso ver os altos falantes da cidade sintonizados em nós. Já posso visualizar, egocentricamente, a vida girando em torno de nós. Eu, canção escrita. Tu, maestro que me rege.


sexta-feira, março 24, 2017

Para não dizer adeus.



Acordei com você zelando pelo meu sono. Não tinha muita noção da hora, é que sempre que adormeço ao seu lado, os ponteiros parecem ganhar vida e bailam sobre o relógio em seu próprio espetáculo. Não sei a quanto tempo você estava ali me observando. Bukowski lhe fazia companhia em seu colo e, entre folhear de páginas, sua mão repousava em meus cabelos afagando-os entre os dedos.

Foi justamente num suspiro mais profundo que acabei por despertar. Ainda não sei se o livro ou o afago lhe arrancou esse arroubo de ar mais forte, mas sei que, ao abrir meus olhos, os seus já me fitavam com a ternura de quem encontrara ali um cais em meio ao caos mundano. Daí então, fui presenteado com seu sorriso. Acho que foi exatamente por ele que eu me apaixonei. Ou melhor, através dele que fui contaminado. Depois que seu sorriso me invadiu o peito, todo o resto era um complemento do que havia de mais perfeito diante dos meus olhos. Seus castanhos amiudavam sob as bochechas, enquanto seus lábios formavam um ângulo exato entre a pureza e a tentação, entre a beleza e a perfeição. Te ver sorrir me inebriava a alma, parecia que tudo ao redor começava a passar em câmera lenta enquanto seu riso aflorava, sabe?! E eu ria. Por dentro e por fora. Completamente extasiado tentando entender se aquilo tudo era real.

Enquanto Bukowski fechava suas páginas e se deitava sobre o criado-mudo ao lado da cama, você deslizou entre meus braços e entrelaçou suas pernas nas minhas. Acomodou-se exatamente ali, entre meu braço esquerdo e o ombro, quase fazendo morada no cangote. Sua mão acariciava minha barba, percorria meu pescoço com os dedos, descia suave sobre a barriga até repousar de volta no pulsar do peito. Fechou os olhos, me sorriu em forma de um "eu te amo", suspirou e adormeceu. Adormecemos.

Os ponteiros parecem ganhar vida e bailam sobre o relógio. Há pouco mais de um mês você adormeceu, pela última vez, ao lado meu naquela cama de hospital. Hoje anseio cada noite de sono, só para poder estar contigo alguns instantes mais. E, nesses sonhos, ainda posso acordar com teu olhar singelo, sabendo que tenho o seu amor para me zelar.




quinta-feira, março 23, 2017

Hasta la vista, Good Bye. Au revoir. Adeus.





Hasta la vista, Good Bye. Au revoir. Adeus. É impressionante como não me dói mais me despedir de você. Como a sua ausência já não me causa açoite. É como se uma pedra de uma tonelada deixasse as minhas costas. Me sinto leve. Me sinto livre. Tudo porque você para mim não significa mais nada. Tudo porque olhar para as gardênias que você me deu no meu último aniversário já não me lembram tanto você. É incrível como a vida muda em um piscar de olhos e de repente quem era o teu mundo hoje não é sequer uma cidade do interior. Um povoado. 

Em frente ao espelho vejo uma mulher com suas marcas, é claro, mas também vejo alguém que conseguir seguir em frente. Que abandonou as suas vestes de luto e conseguiu, enfim, ver a vida colorida novamente. Confesso que não foi fácil me desprender de você. Muitas vezes me senti envolvida pelas tuas teias como um inseto que por descuido se deixou pegar. Senti que a qualquer momento poderia ser engolida pela loucura dos dias, pela dor latejante que o teu adeus me causou. Senti que não havia forças. Senti que não havia mais razões. Só senti.

E hoje me pego surpresa diante de tantas recordações encaixotadas, de lembranças que outrora me enchia de alegria e que hoje já não passam de um amontoado de tralhas e viveiro para ácaro. Me pego absorta diante do tudo que se fez nada. Do amor que morreu a míngua sem restar sequer um pingo de amor. Dos abraços urgentes que foram reduzidos a acenos com a cabeça quando cruzamos o caminho um do outro.

Amar parece pouco óbvio quando nos deparamos com o desamor que fica. Quando olhamos para as cinzas que restam dos nossos dias. Eu queria te dizer que o pouco que você me deu não valeu o muito que te ofereci. Que olhar para os destroços do que fomos e não sentir pesar me traz felicidade ao coração. Me faz compreender que precisamos cair em alguns poços para darmos valor aos filetes de sol que enxergamos acima de nossas cabeças. Que precisamos beber um pouco de água lamacenta para podermos reconhecer a graça que é tomar água limpa. Que tudo na vida existe uma razão e que nenhuma dor é eterna, embora pareça.



quarta-feira, março 22, 2017

Correndo para você!


►Leia ao som de Run to you, Roxette

"Caminhe dentro do meu sonho: uma igreja, uma única estrada." Caminhe pelos meus caminhos e faça de mim a tua morada. Caminhe pelos lugares que eu percorrer, me encontre em cada passagem, esbarre em mim como um casal hollywoodiano, ajude-me a ajuntar os meus papéis e toque as minhas mãos. Caminhe pelas praças de mãos dadas, ajude-me a alimentar os pombos, ria do meu desmantelo e da minha risada escandalosa, observe as crianças e tente adivinhar seus nomes, olhe para o céu e me diga que horas são. Seja meu Crocodilo Dundee, meu MacGyver ou simplesmente meu amante. Seja quem me começa e quem me termina. Quem me encontra e que me faz perder.

Caminhe pelos estados e me leve na bagagem. Me leve no coração, na mente, nos braços. Me dê a mão quando eu atravessar a rua e me convide a atravessar junto contigo a vida. Me dê a mão e me leve a lugares desconhecidos, me faça surpresas inesperadas em uma segunda-feira qualquer. Mate a monotonia, afaste de nós a rotina, invente mil maneiras de me (re)apaixonar pelos teus olhos. Me apresente tuas constelações muitas, me convida a conhecer a via-láctea que habita em ti, me apresente o céu, o Universo, que tu carregas em teus lábios, me faz conhecer as tuas galáxias. Me faz uma desbravadora de ti.

Caminhe a vida inteira ao meu lado. Vá até a padaria e sinta saudades, assine a folha de ponto pensando na hora de me encontrar, me mande mil mensagens só para dizer que sua colega de trabalho ri escandalosamente igual a mim, me dê bom dia e me envie vídeos de bebês só porque os amo, me diga que meu sorriso é bonito e que eu deveria soltá-lo mais, me dê mil razões para eu ficar mesmo que não haja necessidade. Corra para mim. Sempre volte para mim. Fique mesmo que vá por um instante.

Caminhe dentro do meu peito. Desnude a minha alma, os meus sentidos, as minhas vestes. Percorra com teus dedos meus lugares mais recônditos e me mostre a sacralidade de tudo aquilo que os outros não veem. Me dê mil beijos, me dê mil abraços, recolha o que é teu. Ande pela minha vida. Ela que já não é tão só minha. Seja peregrino da minha alma. Me olhe nos olhos e me faça mil poemas ao beijar as minhas pálpebras. Beije os meus lábios coma devoção de Romeu. Corra para mim. Estou correndo para você.

Fotografia: Maud Chalard.


terça-feira, março 21, 2017

Cinco Minutos.


Mais cinco minutos e não me restaria nada, só o amor.  

Em cinco minutos te vi naquela fila e pensei numa música antiga de batidas leves me colocando para dormir. Na verdade a banda tocava um cover tão mais lindo e as pessoas, todas, cantarolavam muito concentradas enquanto eu segurava em alguma mão para não me perder de mim. Em cinco minutos olhei para trás, você sorriu e não houve mais nada além da vontade muito urgente que meus lábios tiveram de dançar sob os teus.

Cinco minutos. Esbarrei de leve em teu braço e quis que você fosse esperto o suficiente para segurar minhas mãos já que eu não tinha bebido o suficiente para te enrolar na barra da minha saia longa. Em cinco minutos, moço, fiz planos sobre tua barba, teus cabelos pretos e teus olhos escuros. Cinco minutos e meu coração com sono querendo entrar na roda.

Cinco minutos bastaram para que você desse risada da minha piada boba e argumentasse com palavras desimportantes, querendo prolongar o assunto. Em cinco minutos eu quis que você visse a mensagem de quem já não liga para grandes acontecimentos em meu rosto antes que fossemos interrompidos por aquela voz apressada cruzando nosso (des)encontro.

Cinco minutos foi o tempo que me fez voltar ao mesmo caminho e me perder em meio àquela gente sem nem ao menos saber a marca do teu perfume para guiar o que os olhos não viam. Em cinco minutos preparei um beijo que começaria na tua testa e se adaptaria ao que o depois pedisse. O depois e todos os cinco minutos que viessem.

Em cinco minutos, você foi sem saber das histórias que amassei no guardanapo com provocações etílicas e o sentimento mais bonito do mundo vacilando sem saber qual direção tomar. Cinco minutos para te falar dos meus erros e te levar para esticar a noite num outro bar, beliscar teus braços, mordiscar tua orelha, te mostrar meus caminhos, entrar na tua vida e mandar um postal para quem possa se interessar.

Cinco minutos e eu tiraria um livro da estante para escolher a palavra mais docemente leviana e entregá-la a você. Cinco minutos e eu estaria falando da quantidade de coisas que poderiam sair da minha caneta destinadas ao jeito como você segura o copo. Cinco minutos e eu não te disse para ficar, mesmo querendo muito que você chegasse juntinho a mim, sem parar para analisar, enquanto me pedia um cafuné.

Cinco minutos, moço, e meu corpo gemendo imensidões depois das várias cervejas compartilhadas. Em cinco minutos a madrugada trouxe uma névoa que cercou toda essa cidade fria e eu, descabelada, só pensava em aquecer minhas pernas ao redor do teu ventre. Cinco minutos, minhas unhas sem os esmaltes vermelhos de sempre para te deixar pistas de como um pouco de pimenta me levaria para mais perto de você.

Cinco minutos e eu enumerando desejos nas pontas dos pés enquanto a maioria das pessoas descolava alguém para levar pra cama. Em cinco minutos faria uma coisa terrível: me apaixonaria por você. E repetiria coisas malucas de quem se alucina com sentimentos instantâneos, só para desafiar minha própria voz anestesiada. Cinco minutos e eu me desequilibraria e deixaria cair de propósito todos os versos apaixonados que já li, só para decorar teu casaco marrom.

Cinco minutos, desnecessária eternidade. Em cinco minutos você me deixou um texto e algumas horas de poesia. Cinco minutos e o que eu mais gostei em você foi o que aconteceu em mim. Cinco minutos e não sei mais a quem escrevo.

Mais cinco minutos e não me resta nada, amor. Perdi a hora.

Fotografia: Maud Chalard.



segunda-feira, março 20, 2017

Sou tua casa.


►Leia ao som de Je t'aime moi non plus ◄

Você me olha nos olhos e eu já não sei onde começo e termino. Sei apenas que é bonito te ver assim: me olhando, me querendo, me amando. Olho para os seus olhos e não consigo distinguir o quanto de lascívia e de ternura há neles. Tudo parece tão balanceado. É como se o tesão dançasse compassadamente com o amor. Teus dedos percorrem meu corpo e já não sei se dentro de mim bate um coração ou a bateria de uma escola de samba. Você desnuda não somente as minhas vestes, mas o meu interior. Lê facilmente as minhas entrelinhas, despe o meu corpo com a destreza de quem é acostumado a ler em braile. Sou tua.

O dia mal amanheceu lá fora e eu ainda posso ver constelações em teus olhos. Teus cílios bonitos parecem dançar ao olhar para mim. Me reconheço no teu olhar, sinto meu gosto no sabor dos teus lábios, me faço tua em teus caminhos e me perco mil vezes ao te encontrar. “Como uma onda irresoluta eu vou e venho entre os teus quadris”. Dançamos sem música. O nosso amor é ritmado. Somos ali, naquele quarto, amor, felicidade, gozo e mil outras sensações que ainda desconhecemos.

A manhã vai se despedindo de nós. E a luz do sol que entra timidamente pela fresta da janela revela o teu íntimo a mim. O teu peito é a minha cama e os teus braços se fazem cobertor para me aquecer. O mundo corre veloz lá fora, a vida não para porque estamos amando, o tique-taque do relógio tenta nos lembrar que a vida nos espera, que os compromissos nos aguardam. E, ainda assim, mesmo sabendo que devemos, não damos ouvidos. O amor é a nossa única urgência. 

Tudo parece pequeno e até minha casa se torna estrangeira ao sentir que a minha morada é ali: dentro de você. Tuas mãos me descobrem. Os teus lábios me desvendam. A tua pele me encontra. E dali em diante, sôfregos e perdidos/achados, somos um. Sou teu esconderijo. Sou teu refúgio. Você adentra os meus cômodos e se instala conforme sua vontade. Já não tenho outra opção a não ser lhe entregar as chaves. A casa é toda sua. Sou a tua casa. 



sexta-feira, março 17, 2017

Ele seguiu em frente, faça o mesmo!


Você tentou, pode assumir. Acreditou que daria certo e que essa fase ruim iria passar, se fez de tonta e quis acreditar que essa ausência dele era o bendito tempo que ele precisava para entender que você estava ali. Estava torcendo para que ele voltasse logo atrás e assumisse que o término foi só um momento confuso e que ele queria - na verdade - era ficar do seu lado para sempre.

Porém, como já diria o antigo ditado: "quem procura acha", e você procurou, diariamente estava ali, dando aquela espiadinha básica nas redes sociais, constatando se não tinha nenhuma novidade e queria ter a certeza de que o status do Whatsapp não tinha sido atualizado desde a última vez que viu, tudo permanecia ali, da mesma forma que você deixou.

Até que em uma espiada qualquer você percebeu que algumas coisas tinham mudado. Que era hora de admitir que ele tinha seguido em frente. De uma maneira um pouco rápida eu entendo, porém seguiu em gente e não voltou para trás. Só para te mostrar que a confusão tinha passado e que tudo daria certo.

Segui em frente sem nem pensar que poderia te magoar, e acredite em mim, você deveria fazer o mesmo, rasgar a página, escrever uma nova história e dançar uma nova música. Siga em frente porque o passado tem o seu real motivo para estar lá, vai garota, caminha, faça isso por você.



quinta-feira, março 16, 2017

Era uma vez, um conto de amor.


Quem não conhece o casal mais apaixonado do rock brasileiro? Renato Russo já os descrevia como: Eduardo e Mônica. “Eram nada parecidos, ela era de Leão e ele tinha dezesseis [...] E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa que nem feijão com arroz.” 



E nada diferente hoje existe um amor que se faz presente e que independe de circunstâncias para se amar. Ele com suas covinhas se perde ao vê-la sorrir. Morena da cor do pecado que tem ginga no sangue e que o fascina dia a dia com seus cabelos encaracolados. Garota de personalidade única, destemida e carinhosa, de uma beleza sem igual, fez moradia no coração dele que ao sentir o tamanho do poder desse sentimento pediu permissão para no coração dela poder também habitar.

Reza a lenda que a vida costuma brincar com as pessoas, e que os anos podem ser um fardo pesado para se carregar. Mas fizeram um juramento que honram em todo o momento que um do outro haveriam de cuidar. Ele garoto tímido que não sabe o que faz para cada dia mais a ela agradar, mal sabe ele o tamanho do amor que ela carrega em seu peito e a admiração que tens por poder de namorado a ele chamar. Ele a confunde e a faz questionar coisas do tipo:

- Porque solto sorrisos somente de olhar para você?
- E toda vez que tento te espiar é exatamente o mesmo momento que você também já está a me olhar?
- Porque tenho essa certeza dentro de mim que você parece tão certo?
- E nem me ouso a questionar quaisquer que sejam as outras opções. E como poderia eu outra coisa desejar? É meu melhor amigo, tem o beijo mais gostoso e um abraço bom de se morar.

Ela ama agitação, e ele se perde na calmaria. Ela curte desde eletro, rock a um Bon Jovi e um tal de Thiaguinho. E ele já pede: - Toca aí um Henrique Juliano, ou uma moda que me faça cada dia uma nova forma de a ela me declarar. Vão do brigadeiro na colher, ou a pizza no final de semana, mas no regime ele não é parceiro porque de salada ele não gosta nem do cheiro. A juventude é algo lindo de se ver. Mas ao olhar para esse casal, tudo que tenho vontade é de em uma história de amor também me perder. Garota de fé absurda e de pureza no coração. Ele faz planos,  projetos, e sonha com ela entrando na igreja de vestido branco e dizendo sim com toda sua emoção. Por ele, ela tem o maior amor do mundo.

Se perdem na noção do tempo quando estão juntos e cada vez mais ao lado um do outro eles querem ficar. O que para muitos é perca de tempo para eles é escolha de vida, e muita devoção, respeito amizade e uma infinita paixão. Se tornam fortes para juntos uma linda história de amor a todos poderem contar. Lhes apresento um casal apaixonado, e que não possuem  clichês. Ela o ama exatamente como se é, e ele só pede para Deus os abençoar, porque no que depender desses jovens apaixonados muitos textos essa escritora que vos fala ainda há de escrever. 

Fotografia de Eduardo Viero.





quarta-feira, março 15, 2017

Você é o meu lugar favorito.



Aceita dançar comigo?

Você me chamou para dançar e naquele momento eu peguei a tua mão. Não sabia ao certo o ritmo que deveríamos dançar, mas quis – ainda assim – estar entre os teus braços. Fechei os olhos, deixei a música nos embalar e percebi ali que você era o meu lugar favorito. O coração da gente sabe, os nossos pés não se sentem estrangeiros, quando encontramos o nosso lar. Você me abraçou e fez dos teus braços a minha morada, fez do teu sorriso o meu porto seguro, fez do teu coração a minha casa.

Há quem diga que o amor é aquela borboleta que pousa em nós quando estamos distraídos. Foi preciso muita calma, bater em algumas portas fechadas, derramar algumas lágrimas, recomeçar algumas vezes, até encontrar você: meu parceiro de dança ideal. O meu amigo de fé nos momentos difíceis, o meu Norte preciso quando perco a direção. Sabemos que nossa valsa nem sempre fora ritmada. Em alguns momentos dançamos em ritmos descompassados, mudamos de música algumas vezes, pisamos no pé do outro, quase caímos. Quase.

Eu aceito dançar com você. Essa foi a resposta mais acertada da minha vida. A gente não tem noção do quanto as nossas decisões podem direcionar os nossos caminhos. Nós não temos dimensão do que encontraremos atrás das portas que decidimos abrir. Eu não tinha ideia do quanto a vida poderia mudar após uma simples dança. Não compreendia que ali, naquele momento, estaria dando a você não somente a minha mão, mas todos os meus segredos e o que há de melhor em mim.

Você é o meu lugar preferido. É o lugar que sempre volto quando estou ferida pelos dardos inflamados da vida. É o lugar que eu repouso sempre que a vida está cansativa demais. É o lugar que eu me encontro sempre que percebo que estou perdendo a direção. É o lugar que sempre me acolhe quando me sinto indefesa como uma criança recém-nascida. É o lugar que me abriga sempre que me vejo em meio às tempestades do dia a dia. É o lugar. O meu lugar.


terça-feira, março 14, 2017

Some da minha vida, por favor!



Por favor mesmo: some da minha vida! Por um instante, acreditei que você gostasse de mim. Mas você, talvez, tivesse na verdade só um carinho ou uma forte admiração. E nada mais! Nunca foi um gostar de verdade. Suas atitudes provaram isso pra mim enquanto a gente era mais que amigos. Enquanto eu sentia seu corpo pegando fogo como o meu, eu até me permitia me iludir. Isso é lamentável, sabia? Fingir que acreditava que você gostava, era horrível. E eu até consegui sofrer por isso que inventei.

Nunca tivemos nada na real. Por isso te peço, por favor, saia do meu caminho. Some da minha vida! Não tenho condições de amar pela metade, de gostar de metade, de mentir a mim mesma. E ao seu lado, eu mentia, eu vivia o que eu tinha criado. Você foi um personagem que eu criei. Seus beijos eram demais, maravilhosos, mas em boa parte delas, senti apenas obrigação. E nada além disso. Difícil demais admitir isso. Mas é a realidade.

Vou ficar bem. Aqui, dentro de mim, tem uma coisa interessante, chamada amor-próprio. E tem algo mais legal ainda: orgulho. Eles irão me ajudar a tirar você de mim. Some da minha vida! Por favor! Me deixa sair da sua. Não corra atrás de mim como fez das outras vezes. Você sabe que eu não resisto e dessa vez, estou tão cansada que tenho quase certeza de que te daria um fora. A coisa não está boa, eu fico com medo de ter tomado uma decisão errada, mas o meu amor-próprio me diz, há tempos, pra sair disso. E o orgulho, agora grita: “sai disso”. Não dá pra continuar me enganando.

Eu tinha prendido minha sanidade mental na gaveta. Com cadeado e tudo. Mas felizmente, de algum jeito eu recobrei a consciência. Me lembrei que quem ama dá valor. Me lembrei que quem ama prefere ficar junto. Me lembrei que quem quer faz. E somei todas essas lembranças às suas desculpas. A conta ficou pesada demais. Você não vai mais me iludir. Não vou permitir que me magoe.

Ferida como estou agora, já é o suficiente pra seguir a vida sem você. Não preciso me humilhar para ter alguém do lado. Afinal, quem me quiser, vai se esforçar pra me ver feliz. Você faz o contrário. Me oferece o resto de você, o resto do seu tempo, o resto da sua atenção. Nunca mais quero me apaixonar cegamente como permiti que acontecesse com você.

Você tem atitudes que eu abomino em um cara. Me anulei para estar ao seu lado. E você sempre com desculpas. Agora, chega! Some da minha vida! Desaparece! Não envie mensagens, nem emails. Me cansei desse joguinho de gato e rato. Se você quisesse, já teria acontecido. Se você também gostasse de mim, como gosto de você, já seríamos um casal. Sou madura o suficiente pra te tirar de mim. Vou sofrer mais agora, vou ficar mal, querer passar uns dias no quarto, sozinha. Mas isso passa!


Some da minha vida, é o último pedido que te faço. Eu vou sobreviver a você.


segunda-feira, março 13, 2017

O amor não dá margem para dúvidas.


Leia ao som de Peito Aberto, Kid Abelha.

A vida é realmente uma caixinha de surpresa. De repente você está caminhando na rua, resolve ir à padaria e esbarra com o amor da sua vida. A gente não tem muita noção do que nos aguarda a cada manhã, a cada nascer do sol, só sabemos que a vida se desenha como tem que ser. Quilômetros de distância não são capazes de separar uma história que já está escrita, porque quando é para ser até as adversidades e os obstáculos dão um jeito de unir.

Amar é uma experiência única e transformadora. De repente você se vê dentro da vida do outro e não consegue mais pensar ou planejar momentos em que o outro não esteja. De repente você se vê projetando uma vida daqui cinco anos, imaginando quais serão os traços mais forte no filho que planejam ter, pensando na decoração da casa e tentando convencer - inutilmente - que branco é a nova moda.

Ser de alguém e ser livre é a forma mais autêntica de amor. As relações devem nos permitir ser quem somos. Sem máscaras, sem pisar de ovos ou medo de mostrar o nosso íntimo. Só saberemos o que é amor quando a relação extrair de nós o nosso melhor. Quando estivermos ao lado de alguém que se alegra com as nossas vitórias e divide conosco seus sonhos e medos. Amar e ser amado é conhecer o âmago do outro. É olhar para os olhos e de tão cristalinos compreender o que se passa em seu interior.

O amor não dá margem para dúvidas. Amar é olhar para a história com olhar de gratidão, é tomar decisões com cautela, é dividir não somente os bons momentos, mas os maus. É compreender que o amanhã poderá ser difícil e cheios de dificuldades e ainda assim não desistir. Quem ama sabe que apesar de existir dias tempestuosos, dias iluminados sempre hão de vir. Toda história é feita de bons e maus momentos. Cabe a nós escolhermos qual dos dois devemos dar mais importância. Amar é nunca saber e ainda assim insistir. O amor é para os fortes. 

sexta-feira, março 10, 2017

Eu te amo, mas não gosto mais de você.



É duro olhar para a nossa história e constatar que já não somos mais aquelas duas pessoas apaixonadas que moveriam céus e terras para ficar juntos. Que os nossos sonhos já não são os mesmos e que o certo seria seguirmos em direções opostas. É horrível amanhecer, olhar para os seus olhos e não me reconhecer mais em seu olhar. É triste sentir vontade de fugir dos seus abraços e me sentir constrangida, um peixe fora d'água, no lugar que antigamente era o meu refúgio, o meu abrigo. 

As coisas não têm andado como eu gostaria. Há dias que venho reparando que deixamos de ser um e voltamos a ser dois. Cada um com a sua vida, seus medos, suas opiniões e, infelizmente, seus caminhos. Não há como não olhar para a nossa história com um pesar. Ou aguentar o peso de meus olhos todas as vezes que sinto que a solução é te deixar. Onde foram parar aqueles dias felizes ou as promessas que fizemos um ao outro? Será que o meu erro é pintar uma história de contos de fadas ou de filmes hollywoodianos? Será que a rotina é realmente capaz de matar tudo aquilo que outrora sentimos? Questões sem respostas. Perguntas que sufocam. Apenas indagações.

Dia desses vi nossa história no trecho de um livro. A moça desolada, aos prantos, dizia: "eu te amo, Dexter. Amo muito. Só não gosto mais de você". Não pude conter as lágrimas que escorriam pela face copiosamente. Reli a frase e substitui pelo seu nome. Eu não imaginava jamais me ver nessa situação, me sentir uma intrusa em seus braços ou desejar que você não investisse mais em mim. Às vezes tenho dúvida se desejo voltar a ser desejada por você. Se desejo voltar ao que éramos, porque olho para o que vamos vivendo, para os dias que empurramos com a barriga e sinto, cada vez mais, que não há conserto. Eu te amo, Dom. Mas esse amor não é capaz de manter a nossa relação.

E hoje estou aqui sentada em frente ao computador – enquanto você está aí zapeando a TV à procura de um programa bacana  pensando em que momento deixamos de ser quem éramos. Mais um dia vai se passando, mais um mês se inicia, será que mais um ano terminará e nós permaneceremos iguais? Será que os nossos sonhos morreram a míngua, afogados na praia? Eu te amo, Dom. Mas não gosto da pessoa que você se tornou, dos seus reclames e a sua insatisfação com a vida. Não gosto da forma como você me deixou livre demais para viver os meus sonhos.

Desculpe despejar sobre os seus ombros a responsabilidade do nosso quase fim. Talvez você esteja certo quando diz que tudo para mim é prioridade e que assim vou vivendo uma vida faz de conta. Talvez eu erre muito com você, mais até do que eu realmente confesso. Desculpe por ser assim tão sonhadora e desejar sempre o fogo dos apaixonados. O problema é que eu não consigo ficar indiferente às nossas fotos, aos e-mails que ainda guardo e às recordações do início que ainda mantenho guardadas em um relicário.

Eu te amo, Dom. 
Mas nem sempre o amor é capaz de manter uma relação.


terça-feira, março 07, 2017

Apesar de você.



É, apesar de você, do que fez comigo e deixou de fazer. Outros dias vieram. O choro deu lugar à paz. E notei que você nunca foi aquilo tudo. Na realidade, eu estava bem carente. Projetei em você o que você nunca foi. Apesar de ser legal, às vezes, você não era um cara que merecia nem a metade da água no balaio que eu carregava pra você. Aquela tonta que estava sempre disposta percebeu o quanto colocou um babaca como você no pedestal.

Colocou o bloco do amor-próprio pra desfilar e apesar de às vezes lembrar de você, segue como se suas vidas nunca tivessem se cruzado. Você me ignorou tanto que hoje, ao menor sinal de frieza, eu corro. É, foi sofrido, mas depois de você amadureci. Aprendi a ficar bem com a minha companhia. Notei que gostar a gente colore da cor que quiser. Você sempre foi preto e branco. E eu insistia em colorir a sua vida. Você nunca quis. Eu que fiz de você uma guerra interna de ego.

A maluquice de ter a todo custo era tamanha, que eu acabei cometendo a burrice de colocar minha sanidade no bolso. As migalhas, humilhações e todo o pouco que me dava, eu via com bons olhos. Mas aquilo era uma enxurrada de sinais de que eu estava indo por um caminho que não teria outro fim: decepção. Ganhei, digamos algumas coisas. Mas a guerra era perdida e apesar dos sinais, insisti em não enxergar. Era mais fácil me enganar. Felizmente o amor-próprio trancafiado na gaveta gritou e voltou ao devido lugar. A sanidade mental também foi recuperada. Chorei muito. Me desgastei ainda mais. Tirar você da minha vida não foi fácil, mas como sequer devia ter entrado, foi o melhor a fazer.

Dias coloridos vieram. E um cara tão colorido quanto eu, também surgiu. Ele veio de mansinho. Não procurava ninguém. Nem eu. O nível de amor-próprio dele estava alto. O meu também. Não precisávamos de ter alguém pra ser feliz. Éramos felizes sozinhos. Decidimos então caminhar lado a lado. Depois dele, tive a certeza de que o amor existe. De tanto sofrer, eu já tinha deixado isso de amor de lado. Estava bem sozinha. Tinha toda a vida estruturada. Não precisava de ninguém pra seguir meu caminho. Aliás, muitos vieram, tentaram. Ninguém me servia. Eu dava fora em um por um.

Além da certeza que ele me trouxe de que o amor existe, veio também a certeza ainda de que você ofereceu o tempo todo só migalhas. E a confirmação de que nunca foi falta de tempo. Era desinteresse. Nunca mais vou me permitir me enganar tanto com alguém. Nunca mais vou projetar tanto uma pessoa como fiz com você. Bastava me dar um fora. Dizer “não”. Mas você jogava a isca e eu mordia. Era uma brincadeira de cão e gato. Desgastante! Assim foi até eu achar que tinha vencido a guerra de ego e você me magoar e me humilhar. Foi bom.

Apesar de você, esses têm sido outros dias. Maravilhosos por sinal. 



segunda-feira, março 06, 2017

Foi por causa de você.



►Leia ao som de Because Of You, Kelly Clarkson

Já passada as festividades carnavalescas estou aqui, e não é a minha quarta-feira que é de cinzas, mas sim a tão temida segunda-feira. Estou enrolada em uma toalha de banho segurando uma xícara de café ao som de Kelly Clarkson. Sinto que a chuva que derrama lá fora é pequena perto as lágrimas que brotam de meus olhos negros de luar.

A música ecoa em todo o meu apartamento, ainda me encontro de luzes apagadas, resta unicamente a fresta que vem do banheiro o qual deixei a porta entre aberta. A cada nota musical sinto em minha pele ainda o toque de suas mãos, a textura de seus lábios e o cheiro de sua essência. Sinto vontade de abrir os olhos, abrir as cortinas, permitir que a chuva adentre e venha também lavar todas as lembranças que ainda me resta de você.

“I will not make, the same mistakes that you did. I will not let myself, 'cause my heart so much misery” (Eu não cometerei os mesmos erros que você, eu não me permitirei causar tanto sofrimento ao meu coração.) A  música continua a vir invadir a minha alma e me abraça com a sua letra como se fosse o consolo que necessito para aquele momento, mas o bálsamo dura cerca de segundos, porque a realidade é que a decisão já foi tomada. E, ao escolher seguir em frente os nossos caminhos se tornaram opostos, tu ficou com o que restou de nós dois, e eu escolhi a incerteza do futuro, o medo de sobreviver em dias que tu não fosse mais o meu caos ao meio dia. Ou a minha bússola a me orientar para qual seja o caminho que eu devesse continuar.

Erros meus, erros seus, seja de quem foi a culpa, decidi deixar tudo pra lá, prometi a mim mesma fazer tudo diferente, mesmo que os desejos que ardem em meu corpo sejam unicamente aqueles que me levam até você. A crueldade de seu olhar ao me dizer:

- Se é o que desejas, então siga com a sua vida, eu não irei lhe impedir.

Fora o ponto crucial para me libertar das garras que ainda me mantinham presa a ti, a entrega era mútua, mas durava somente enquanto as garrafas de vinhos não se esvaziassem, depois eram dois corpos extasiados pelo prazer, a luxúria cedia lugar ao descaso então tu acendias mais um cigarro e abandonava o meu quarto e também todas as promessas de um amor ardente.

Because of you, I never stray too far from the sidewalk, Because of you, I learned to play on the safe side, So I don't get hurt.” (Por sua causa, eu nunca ando muito longe da calçada, por causa de você eu aprendi a jogar do lado seguro, assim eu não me machuco. ”

Dizem que devemos nos arriscar, jogar mesmo sem a garantia do acerto ou independentemente de placar, mas acabei de sobreviver ao naufrágio de uma relação submetida ao fracasso, me deixei levar por momentos, e não notei que pra ti fui unicamente um capricho, que seu corpo era meu em alguns momentos, mas que jamais teria acesso ao seu coração. E, de tantas migalhas que tu me jogastes decidi optar pelo fim dessa relação.

Um final que não me deixas sequer um sinal de recomeço, e graças a ti, hoje tenho medo de me olhar no espelho, quem sabe o que irei encontrar ao contemplar a minha própria imagem? O escuro do meu quarto e uma melodia triste é muito mais seguro do que andar pela chuva e quem sabe finalmente aprender a dançar, assim como dizem os mais sábios anciões. Mas foi graças a você que aprendi o lado mais dolorido do amor, e é nisso que tenho me agarrado para completar a minha lição e nunca mais provar o sabor que possuí a dor.

Hoje vivo presa em uma realidade submersa a fragmentos de uma história a qual já não vivo mais, mas levo como experiência, porque em meu coração, ninguém mais irá fazer morada. I was so young, you should have known, better than to lean on me, you never thought, of anyone else, you just saw your pain, and now I cry, in the middle of the night, for the same damn thing.” (Eu era tão jovem, você deveria saber, melhor do que se apoiar em mim, você nunca pensou, de qualquer outra pessoa, você só viu sua dor, e agora eu choro, no meio da noite, por causa da mesma maldita coisa.)

Graças a você criei a resistência necessária para amores fugazes, hoje eu me retiro antes mesmo de me doar, eu já provei da dor, e não espero nunca mais esse mesmo cálice degustar, e foi tudo por causa de você.

Because Of You... 


sexta-feira, março 03, 2017

Quando você vem.


Quando você vem o coração já acompanha – compassadamente – os ponteiros do relógio. Saber que os meus braços te encontrarão, que nossos corações baterão em uníssono, faz com que os meus dias sejam azuis mesmo que o mau tempo insista em pintar o céu o nublado. Saber que os teus olhos pousarão sobre os meus transforma a minha vida em uma doce espera e a minha mente em um relicário onde mantenho você vivo – em cada detalhe, em cada toque, em cada lembrança – até a próxima vinda.

O amor é um grande milagre. E chegamos a essa conclusão ao observar a forma como nossas vidas são modificadas. Amar é não ter certeza de muita coisa, mas ainda assim insistir e acreditar no sentimento. É abraçar com o coração as manifestações de afeto e se abobalhar diante de pequenas situações. Ser amado é algo tão surreal que imergimos no sentimento de cabeça. Mergulhamos sem medo de suas águas. Amar é ter sede e ainda assim não se sentir saciado.

Quando você vem meu coração já conta as horas e meu pensamento corre apressadamente de encontro a você. Os meses que nos separam parecem pequenos diante dos dias que nos unem. Amar é acreditar na espera, é ser paciente e, sobretudo, entender a máxima bíblica que diz: “há um momento para cada coisa debaixo dos céus”. Amar é perseverar. Amar é nunca ir, é sempre ficar.