sexta-feira, novembro 13, 2020

Não deixe o seu passado sabotar o seu futuro.


Um dia me disseram que os nossos vícios podiam nos destruir. À época não entendia bem. Fumava pouco, bebia muito menos e nada parecia consumir meus dias e vontades. Até que você se foi e passei a te visitar em silêncio, em segredo. Era muito difícil dizer não às minhas vontades, à saudade latente que pulsava em meu peito e as suas investidas que sempre vinham acompanhadas de esperança.

Sei que deveria ter me curado. Afinal, já faz tanto tempo que deixamos de ser um do outro. Só que ainda te visito e percebo que a porta sempre está aberta. Queria não pensar em você, mas já não mando em meus pensamentos. Minha mente é um grande hospício e todos os pacientes gritam seu nome.

Tenho fumado cigarros demais. Meus cinzeiros estão transbordando. Acho que vício é isso: a gente vai submergindo em algo e de repente não consegue mais sair. Tem sido assim com os cigarros e com os meus pensamentos. O engraçado é que todos me alertam. Alguns até disseram: agora é a sua vez de viver. Não deixe o seu passado sabotar o seu futuro.

Acho que no fundo todos têm razão. Eu que quis ver reticências onde havia um ponto final. Já não somos há tanto tempo e talvez esse meu vício, isso que vez ou outra me leva até você, é só o meu ego me afrontando. Dizendo que o fim não deveria ter partido de você.

quarta-feira, agosto 05, 2020

Teu primeiro beijo.


Algumas lembranças adoçam a nossa vida. Outras dão sentido à vida. Somos um apanhado de memórias e algumas delas mais tocantes que outras. KLB me traz à memória quem éramos. A nossa inocência quase que tangível. Lembro-me do beijo roubado e cheio de carinho. Uma cerca e nós de cada lado. Tínhamos medo de sermos pegos. Ninguém soube.

No dia seguinte recebi uma cartinha dobradinha. Você colocou na palma da minha mão e disse: leia no caminho. Coloquei-a dentro da blusa, escondida no sutiã e fiquei esperando a próxima parada. Ouvíamos o cd do KLB e eu só conseguia lembrar não somente do beijo, mas de como a lua estava bonita. E de todas as vezes que ela nos iluminou.

Tantas lembranças carregamos um do outro. O pique-esconde e pique-cola, brincar de jogar bola ou até mesmo andar descalço. Lembro que depois de um tempo não queria mais aparecer suja na sua frente (já não queria mais brincar com os outros). Acho que já te amava ali, na minha inocência e pequenice. Um amor puro e ingênuo. E agora ouvindo, as mesmas canções que espantavam as borboletas do estômago à época, queria que soubesse que andei muito por aí e até achei amar outras pessoas, mas a verdade é que sempre foi você.

Desde o primeiro esconde-esconde até ter você fechando a minha mão para guardar sua carta. Queria ter voltado no ano seguinte, mas a vida não quis assim. Ela quis o hoje, sobre condições não muito satisfatórias. Independente de qualquer coisa quero que saiba que para caminhar na vida eu escolheria mil vezes você. O menino que me entregou uma cartinha escondido dos pais, que me roubou beijos e que se sujava de terra comigo. Escolheria sempre o seu coração. Porque é como diz a minha canção preferida: eu acredito na igreja do seu coração.

Sim.
Eu acredito em você.
E acredito em um amanhã ao seu lado.

 

sexta-feira, maio 01, 2020

Cápsula do tempo: carta aberta à minha filha.




Em um futuro, espero que não distante, talvez você leia esse texto e compreenda que o meu amor por você é antigo. Antes mesmo que você nascesse ou tivesse sido gerada eu já te amava com o meu coração. Lembro das muitas vezes que pedi em meus sonhos para que sonhasse contigo. De quantas vezes, em minhas orações, questionei a Deus se nosso encontro demoraria ou não. E do silêncio que se fazia a cada questionamento.

Houve um tempo em que me desesperei por achar que nunca teríamos a chance de nos encontrar. Só que um anjo veio até mim em sonho e me disse que havia um tempo para cada coisa sob os céus. Desde então, passei a acreditar que a vida estava nos preparando. Às vezes eu me pego pensando em todas as aventuras que iremos viver, em todas as bagunças que iremos aprontar no tapete da sala e do seu cheirinho espalhado pela casa. Das nossas aventuras na cozinha, das nossas leituras noturnas enquanto te coloco para dormir, dos nossos pés descalços na areia e de cada descoberta sua enquanto seus olhinhos curiosos passeiam por estrelas muitas. 

Penso em tanta coisa, minha menina.
Imagino a cor dos teus olhos, dos teus cabelos e o formato dos seus lábios. Será que ele formará um coração? Penso e tenho medo também. Medo de não ser uma boa mãe ou de ser atrapalhada demais. Medo de não te apresentar o mundo da maneira correta, de ser super protetora, de ser muito ciumenta e te sufocar. Sei que você pode ler esse texto daqui alguns anos e dizer: a mamãe parecia que estava prevendo o futuro. 

Escrevo mamãe e me dá um frio no estômago. O mesmo frio que eu sentia quando era criança e ficava esperando o Papai Noel chegar. Você é um presentinho tão amado e sonhado. E antes mesmo de conhecer os seus traços sei que já os amo com todo o meu ser. A tua mãozinha que afaga o meu coração, as tuas perninhas que sinto vontade de morder e tudo aquilo que somente nós duas conheceremos nessa aventura mágica e bonita que é (será) a maternidade.

Tenho pouca ideia de quando nós estaremos juntas pela primeira vez (embora sinta que estamos caminhando para este grande dia). A única coisa que tenho certeza é que quando este dia chegar todos os títulos, todas as formações e tudo o que fiz serão pequenos diante da grandiosidade que é a honra de ser a sua mãe. De ver em teus olhos um pouco de mim. Eu te amo muito antes de saber que um dia poderíamos ser. 

Com amor,
sua mãe. 

segunda-feira, abril 27, 2020

Amamos como pudemos.


Quando você partiu pensei que eu não fosse suportar. A verdade é que a sua presença era tão certa em minha vida como o nascer do sol todas as manhãs. Eu realmente não estava pronta para lidar com a sua ausência e a falta das suas mensagens matinais me desejando um bom dia. Só que esse dia chegou e eu suportei. Doeu demais ver você caminhando em direção oposta a mim, mas aos poucos fui entendendo que não éramos para ser. Criamos um mundo em nossas mentes, possível somente aos nossos sonhos. Ansiávamos pelo dia em que ficaríamos juntos, mas nos contentávamos com aquilo que era possível a nós. Amamos como pudemos. Fomos como poderíamos ser.

Desfizemos o laço quando já não era mais possível manter qualquer tipo de contato. Rompemos abruptamente. Sem olhar para trás nós recolhemos nossas memórias e, sem nenhum cuidado, as jogamos debaixo de um móvel qualquer. Nossas músicas nos doíam demais e apesar de irmos, voltávamos com frequência - na pontinha dos pés, na calada da noite, como quem só quer olhar de longe e saber que o outro está bem (ou se sente a nossa falta). Deixamos de ser há alguns anos e hoje estava pensando que após a sua partida eu consigo superar qualquer outra. Nenhum amor é eterno.  O amor é até onde permitimos que ele seja, até onde oferecemos terreno para que ele germine e floresça. Até onde nós nos dispomos a regá-lo.

A nossa relação me machucou ao ponto de eu acreditar que não era boa o suficiente para ser amada. Mas, ainda assim, eu me permiti ser de outro alguém. O problema é que venho repetindo padrões desde que você se foi. Venho abraçando amores impossíveis e difíceis demais de resolver. Meus relacionamentos não têm vingado, porque tenho buscado ser a salvadora da pátria de quem tenho estendido a mão. Depois de você pensei em amar um velho amigo. Tínhamos tudo para sermos um bom casal, mas não fomos. Amei errado demais, de maneira unilateral, então acabou. Antes mesmo de se fazer real.

Abri meu coração e resolvi dar uma segunda chance a quem soltou a minha mão. Não havia amor, mas havia carinho. E naquele momento eu só precisava curar um pouco a minha carência e me sentir desejada. Acontece que não sei brincar de amores e me magoei profundamente. Achei que poderia sair daquela quase-relação sem me magoar, mas não consegui e ao ser rejeitada confundi despeito com amor. Diante disso, tentei caber em um lugar que não me cabia somente para alimentar o meu ego. Não é novidade nenhuma que mais uma vez eu sofri.

Então cruzei o caminho com alguém que aprendi a amar ainda na infância e novamente eu me vi protagonizar uma história impossível. E mais uma vez, como minha psicóloga sempre diz, eu voltei a repetir padrões. Acho que me permito amar à distância, porque é seguro para mim. Porque não me exige esforços e nem me põe em conflito com traumas e medos que carrego dentro de mim. Hoje estou aqui, mais uma vez, me perguntando se o amor é tão difícil assim ou se algumas pessoas são sorteadas. Sei lá! A carta nem era sobre você, mas é que tudo é tão igual e dolorido que eu queria que você entendesse que não foi o único partir o meu coração (sempre haverá alguém que irá te superar).

terça-feira, março 24, 2020

Eu preciso ir embora.


Eu preciso ir embora.
Não porque não exista amor da minha parte ou porque não receba o mesmo afeto de você. Preciso ir embora, porque não consigo enxergar um amanhã em que não soframos por alguma razão. Porque não consigo admitir que você abra mão de tudo o que conquistou até aqui. Porque a minha insegurança (ou a segurança de ser quem sou) não me permite dizer adeus às coisas que a vida me concedeu até aqui.

Eu preciso ir embora.

Porque não dá para viver mergulhado em devaneios. Porque dentro de mim pulsa a urgência de viver um amor real, em sua totalidade, um amor pertinho, mansinho e bem facinho de viver. Preciso ir embora antes que seja tarde demais, antes que eu me perca no labirinto que há em teus braços. Preciso partir enquanto a raiz não está tão profunda (acredito eu).

Sei que não é a primeira vez que parto por medo. Mas é a primeira vez que vou embora querendo ficar. É a primeira vez que faço as malas chorando por saber que é real, recíproco e, ainda assim, impossível de acontecer. Quisera esbarrar no amor que Cazuza cantava: “um amor tranquilo com sabor de fruta mordida”. Só que meus pés parecem caminharem sempre no sentido oposto. Tropeço nos próprios pés emaranhados de sonhos impossíveis.

Sei lá.

Acho que preciso ir embora logo. Abrir mão de você, do que sonhamos, para – quem sabe, algum dia abraçar algo concreto. Desculpe. É que infelizmente, os sonhos que sonhamos até aqui são tão intangíveis e surreais que consigo vê-los dobrando a esquina do meu coração sem dizer adeus. Mais uma vez.

Eu preciso ir embora porque não suporto mais essa minha obsessão por amores platônicos e porque percebi que por mais que eu queira que você me resgate da torre; não devo mais me comportar como uma princesa à espera de um príncipe e um cavalo alado. Porque, no final das contas, eu sei e você sabe que finais felizes exigem de nós uma coragem que não temos.

Nem eu.
Nem você.