segunda-feira, maio 30, 2016

Amores não é controle



Amores não resistem a insegurança, não sobrevivem em meio ao ciúme doentio e não toleram neurose desmedida. Há quem utilize o ciúme excessivo como forma de justificar seu amor. Eu, por minha vez, discordo que o ele esteja intrínseco ao amor. O amor não pode ser controlado. Ele deve ser livre. Desprendido de qualquer tipo de amarras. Como pode um pássaro ser feliz engaiolado? Como pode alguém ser feliz tendo que medir cada passo?

Discordando de várias opiniões eu digo: se alguém gostar de você de verdade, se te amar, ela não enciumará daquele seu amigo antigo e não questionará sobre os novos. Ela não os terá como inimigos, mas potenciais amigos. Ela não implicará com as pessoas que comentam e curtem as suas fotos. Ela não irá vigiar todos os teus passos ou os teus rastros cibernéticos. Ela não irá surtar porque você demorou alguns minutos para visualizar a mensagem ou porque você demorou demais na rua.

Amar é oferecer ao outro um voto de confiança. É saber dar espaço quando necessário. Afinal, todos nós temos nossos dias ruins e ninguém é obrigado a estar bem em tempo integral. É saber dialogar quando há algo nos incomodando, e não alimentar incertezas em nós. Para toda dúvida há uma resposta, basta que façamos a pergunta. Amar é compreender que temos ideais, perspectivas e sonhos diferentes do outro. E saber, mesmo diante de conflitos de interesses, encontrar um meio termo que agrade aos dois.

Há quem romantize brigas dizendo que é amor e, que justifique descontrole com cuidado. Que queira enfiar-nos goela abaixo que isso é normal, que é aceitável, que toda pessoa que ama se comporta assim. Amor não é controle, não somos marionetes, e, dessa forma, não podemos deixar que o outro seja nosso ventríloquo. Se teu relacionamento é baseado em desconfiança, brigas violentas, pressão psicológica, ele é tudo, menos saudável. Amores sadios é o que buscamos e, como diz o velho ditado: antes só que mal (amado) acompanhado.

Fotografia: Maud Chalard.


quarta-feira, maio 25, 2016

Resenha: Por Lugares Incríveis - Jennifer Niven


O livro conta a história de Theodore Finch e Violet Markey, dois jovens completamente diferentes, que viram na morte o caminho para aliviar as dores de seus traumas. 

Violet é uma garota popular, que perdeu a irmã mais velha em um acidente de carro. Além da dor e o vazio, ela ainda carrega a culpa pelo que aconteceu. Por esta razão, abandona seus hobbies e passa a contar os dias invés de vivê-los com plenitude. Finch teve uma infância difícil no ambiente familiar, tem um comportamento atípico e, por isso, acaba sendo alvo de piadas e apelidos na escola. 

Os dois têm seus caminhos cruzados quando, na torre do sino do colégio, se encontram prestes a pular. A partir deste momento, aqueles que buscavam na morte uma solução, encontram um no outro motivos para seguirem vivendo. 

Finch e Violet iniciam uma jornada pelo estado onde moram, para fazer um trabalho de geografia. Pela aproximação acabam criando um laço de amizade muito forte, compartilhando segredos, sentimentos e medos de uma forma muito espontânea e verdadeira.

Compreender a dor de Violet e apaixonar-se por esta personagem é fácil. Mas compreender os sentimentos de Finch é um tanto complicado, embora apaixonar-se por ele seja algo inevitável. Certamente é o tipo de pessoa que eu teria gostado de encontrar.

O tema central do livro é o suicídio na adolescência, mas os outros temas que orbitam em torno deste, como bullyng e depressão me levaram a refletir na importância de enxergarmos com mais generosidade e altruísmo as necessidades daqueles que estão à nossa volta. 

Tocante e apaixonante, Por Lugares Incríveis se tornou um dos meus favoritos.

Resenha por Viviane Marinheiro.

quarta-feira, maio 11, 2016

Você merece alguém que...


Você merece alguém que seja antes de tudo o seu amigo. A amizade é a maneira mais bonita e verdadeira de se amar alguém. Quando somos amigos de quem amamos compartilhamos mais que momentos românticos. Dividimos a vida e os pequenos detalhes dela. Não precisamos manter um sorriso falso nos lábios para agradar o outro. Podemos expressar o que há em nós. Dividir a bagagem e, com ajuda do outro, nos livrarmos dos excessos. Viver ao lado de um amigo é saber que nos dias maus haverá sempre um ombro para encostarmos nossas cabeças, um cafuné enquanto soluçamos baixinho com nossas lágrimas ou, quem sabe, um chocolate quente miramos o nada.

Você merece alguém que abrace a tua história do jeito que ela foi escrita. Alguém que não queira modificar seus hábitos, que aceite que você tem defeitos e compreenda a humanidade que há em você. Que saiba ler o teu silêncio e se importe; mas que seja capaz de te dar espaço quando você precisar. Alguém que consiga preencher as lacunas de uma conversa cansativa com um simples olhar. E, que ao tocar os teus dedos te faça cócegas no coração.

Você merece alguém que te levante quando o seu desejo for mofar no sofá. Que te diga o quão você está bonita, mesmo que o espelho te prove o contrário. Que te abrace pelo meio da cintura e faça uma dancinha esquisita. Que te derrube na cama com uma guerra de travesseiros. Que te mostre que a loucura da vida de adulto pode ser amenizada com alguns goles de café, pipoca e o seriado preferido.

Você merece alguém que te presenteie com uma trilha sonora. Que te acorde de manhãzinha e te convide a assistir o nascer do sol. Que deite na grama contigo enquanto observa e tente decifrar quais constelações estão mais visíveis no céu. Alguém que te pinte mil estrelas nos olhos, que beije o Universo que há neles e te diga, te prove, te convença, que o céu que há em nós é mais belo do que aquele que nós enxergamos.

Você merece alguém...
Eu desejo que você tenha alguém...
Eu espero que você encontre alguém...

Alguém que te faça esquecer todos os outros que atravessaram o teu caminho.

Fotografia: Maud Chalard

segunda-feira, maio 02, 2016

365 dias que eu te encontro



Perdi as contas de quantas vezes iniciei este texto. E, percebi que nem sempre sou dona das palavras. Agora, por exemplo, elas me escorrem pelos dedos. Feito água que colhemos com as mãos em um rio. Há 365 dias fiz a melhor escolha da minha vida: bater na porta do seu coração. Eu me convidei, sem nenhum cerimônia, a adentrar os cômodos de sua vida. Eu não entendia o porquê daquilo. Da vida me esfregar a todo instante o teu sorriso em minha timeline. Confesso, ainda, que a insistência foi a responsável por me impulsionar a tocar a campainha. 

E eu bati.
E de repente você me abriu a porta sem questionamentos. Apenas abriu e, timidamente, eu me instalei ali. E por alguns longos meses me mantive, sem nenhuma querência, sem muitas manifestações, apenas fiquei ali: estática, imóvel e sem tanta importância. Até você me notar. Até eu te notar.

Eu que te amava por tabela, e não sabia, no sorriso de uma pequena de olhinhos puxadinhos. Hoje compreendo melhor os desígnios de Deus. Eu que te olhava vez ou outra e não entendia o porquê de sentir, em meu coração, que os lugares que você frequentava para mim eram familiares. Hoje entendo que o amor é um lugar, e que você hoje é minha casa.

A gente passa a vida inteira buscando alguém. Quando na verdade a gente é que deve se deixar encontrar. E eu te encontrei. Você me encontrou. Nós nos encontramos. Nos esbarramos nas uvas passas que as famílias colocam nas comidas natalinas, numa canção de Kid Abelha que sem habilidade eu toquei e te chamou atenção, nas fotos de pai e filha que enchiam os meus olhos de amor.

E nos encontramos, meu amor.
E hoje minha vida anda desnuda diante dos teus olhos e, acredito que a melhor forma de se amar alguém é se despindo por inteiro. Já não tenho roupas, meus chinelos estão espalhados pela casa, os meus óculos estavam na cômoda de manhã cedo e agora já não sei mais. A vida se desenha despreocupada. E os dias correm em passos miúdos e sorrateiros. 

E nos encontramos, meu bem.
Nas noites que avançam a passos largos. Nos sorrisos que você me dá e nos meus que te devolvo. Em nosso olhar fixo, e verborrágico, que nos falam mil palavras. Nos sonhos de criança que dividimos.  Na loucura quase que adolescente que compartilhamos. Nos planos de adultos que tecemos. Na vida que tão longe ainda esperamos.

São 365 dias que eu te encontro, meu amor.
E você me encontra.
E nos nós encontramos.