terça-feira, agosto 29, 2017

Laço de fita.



Apaguei seu número da agenda. Apaguei mesmo sem querer apagar. É que sei que, com essa minha mania de estragar tudo, de te procurar, de querer te falar sobre o meu dia, de perguntar se melhorou da gripe, se foi bem na auto-escola, se não esqueceu de colocar seu nome na lista do ônibus da volta pra casa, de te pedir para repensar sua decisão, acabaria não resistindo e mandando um "olá". Também apaguei o histórico de mensagens do whatsapp, messenger, sms, direct do instagram... Tudo para não rever as bobagens que conversávamos tão cheios de planos e de quem não anda preocupado com o mundo lá fora. Toda noite desligo o wi fi do celular e desabilito o 3G na esperança de que, ao amanhecer, entre mensagens de bom dia nos grupos da família, gemidões e o negão da toalha nos grupos de amigos, minha mãe me cobrando uma visita, colegas chamando de sumido e o pessoal da sala perguntando se é dia de prova, apareça, sorrateiramente, meio que quase sem querer, uma mensagem sua me confessando sua saudade.

A pasta na galeria do celular que tinha o seu nome, renomeei para "não abrir". Mas funciona tipo psicologia reversa. Vira e mexe, invento uma desculpa para estar com o celular na mão e, juro que é sem querer, o dedo bate justamente em cima dessa pasta e, olha lá suas fotos deslizando de um lado a outro da tela outra vez! Fotos roubadas do seu perfil, as que você me enviou tão cheia de sorrisos e segundas intenções, até uma que tirei sua com minha velha camiseta azul quando a véia me perguntou "e cadê a moça que tu gosta?". Tá aqui, mãe, me enfeitando o dia com seus melhores sorrisos...

Eu sou mesmo um tolo, né?! Já tem alguns dias que você me disse adeus. Mesmo sem dizer, exatamente um "adeus". Foi em silêncio... Logo depois daquele meu áudio de quase 5 minutos explicando por A+B o porquê de valer a pena arriscarmos ficar juntos. Nunca antes na história desse país, alguém te fez sorrir tão escancaradamente que seus olhos chegavam a lacrimejar. Não, tá... talvez já tivesse ocorrido antes, mas, confesse... Você sempre prendia o riso que era só pra eu te dizer mais algumas bobagens até você gargalhar! E dizia que me adorava. Sempre depois de um abraço tão apertado que dava vontade de morar ali mesmo. E me olhava com tanta ternura que só faltava me fazer arrancar o coração do peito e dizer "toma que é seu!". E também não tinha medo de parecer ridícula na minha frente, falando besteiras e que eu sempre dava corda mais e mais. E falávamos sobre tudo... política, religião, esportes, história, viagens, comida, família, nós...

Mas foi justamente o medo que te fez partir... Esse meu jeito tão nem aí para as coisas... Esse emaranhado de dúvidas sobre a grande interrogação que parece a minha mente. Sempre tive dificuldade em expor o que sinto. Até sou intenso nas palavras, demonstro vontades absurdas em estar junto. Mas dizer o que sinto... não, nunca fui bom. E era justamente o que você estava esperando. Algo que transcendesse as palavras que saíam da boca, que buscasse origem nesse obscuro e desconhecido coração que tanto você tentou desvendar e não conseguiu. Agora te vi partir em busca de um coração que seja mais fácil de entender o amor. Justo agora que consegui entender o meu. Justo agora que, finalmente, entendi que sentimento não se guarda, se transborda. Embrulhei pra presente e enfeitei de laço de fita. Tá aqui guardado na gaveta da cômoda que separei para suas roupas. Vai que um dia você volta, né?! Enquanto isso, acho que renasço a cada nova manhã... é que, desde que você partiu, todos os dias eu tenho morrido de saudade de você.

Fotografia: @black.couples.