quinta-feira, junho 08, 2017

Chave.



Algumas coisas lindas ardem.

É aquilo que você faz com as pernas, baby. É o seu levantar da cama e o acender do olhar à beira da janela enquanto observa a cidade se esvaziar. É a calcinha branca que te veste delicadamente enquanto perambula pelo chão vermelho do quarto ao mesmo tempo em que se perde ali no canto, ao lado do abajur apagado. Eu queimo enquanto desenho tua sombra, reflexo da minha própria luz. Ao pé do ouvido, versinhos do nosso descaso.

É aquela maneira como você sobe na cama para agarrar o travesseiro, ou a mim. Ou o modo como tuas pálpebras colam minha imagem dentro em ti. É toda essa ausência de amor. Todo esse excesso de loucura. Você. Você. Você. Nossos rascunhos nas paredes daquele bar. Um sorriso, três doses.

Essa noite a cama é imensa. É necessária minha voz esbarrando em tua pele e escorrendo por todos os teus sentidos. Ou a falta deles. Você, hoje, explodiria doce em minhas mãos. Me deixaria sorrir meus terços de vantagem. Me entregaria teus lábios transbordantes de beijos e eu entenderia os caminhos. É permitido atropelar. Dissolver. Todas as tuas quedas continuam a ser em mim.

Talvez seja preciso um banho teu. Talvez teu corpo inteiro seja boca. Línguas e céus ansiosos. Meus dedos, amigos das tuas blusas. Teu hálito, meu hábito. Nenhum roteiro e belezas decoradas. É como pinto o azul-marinho do teto que se partiu. Um escândalo.

Tua pose de menina se esvai enquanto teus poros se rasgam. Um cheiro de vinho, uns passos trôpegos e uma dança no meio do tapete da sala. O próximo número deve ser em par. Fevereiro arremessado, assim, eufórico. Você com minha camisa, eu com teu gosto. Teus seios amassados no colchão enquanto os cabelos te cobriam o rosto e meus gestos soltos iam distraindo-se em carinhos impraticáveis.

É mais uma sexta-feira. Meu nariz e tua nuca. A água que ferve quando prova tuas curvas. Nenhum sossego, linhas ocupadas, teus gemidos. Minha voz já rouca emaranhada de suspiros. Essa tua coisa de me encarar entre os lençóis. Nossa delicadeza em acordar a cidade. Minha festa cabendo em você.

Te olhando daqui, crio motivos proibidos e alterno entre vertigens furtadas pela falta de ângulo. Você é linda a essa hora, e o dia ainda nem existe. Debruçada em minhas costas, me deixa descobrir tuas senhas enquanto me entrega todas as falhas, rosnando, aninhada em meus abraços. Você me bagunça em todos os cantos. Tua língua me destranca.


Urgência maior é te inaugurar.

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