quarta-feira, agosto 12, 2015

Pode ir, amor.


"O amor é nobre demais para ser mendigado".
Eu me chamo Antônio.

Eram dias insuportáveis aqueles que vivi à tua espera. Aquela sensação de que o fim estava próximo não me abandonava, mesmo que você viesse todos os dias, bater o velho e bom ponto, só para me dizer que ainda se importava. Eu te enviei o sms não mais criando expectativas, bem, na verdade, enviei enterrando essa relação falida que vínhamos mantendo há anos. O mal de quem ama, ou pensa que ama, é acreditar que as pessoas mudarão em nome de um pretenso amor. Quantas centenas de dias eu carreguei comigo a esperança de que nós vingaríamos? Que não era hora de desembarcar e que talvez eu devesse esperar mais uma estação.

Que tipo de amor é esse que se contenta com mensagens diárias, com ligações rápidas e se esquece que o contato físico é que nos tornam realmente um par. Há algum tempo venho repetindo na cabeça uma velha, sábia e até batida frase que li em um livro recém-adquirido: “o amor é nobre demais para ser mendigado”. Desde então me vejo sentada na porta da sua casa, com uma latinha esticada em sua direção aguardando suas migalhas de amor. É cômica, hilária e trágica essa constatação de que – embora esteja me relacionando com alguém – eu estou solitária, mais sozinha que um solteiro em plena segunda-feira.

Nós só aprendemos o real valor de um conselho quando temos que usá-lo a nosso favor. Às vezes me pego olhando para o espelho repetindo tudo aquilo que digo às minhas amigas. A vida é tão clichê no final das contas. É como se nossas recomendações vestissem tamanho único. Tudo aquilo que lhe digo me serve também. Então, me deparo com outro ditado popular, um provérbio, que diz: “em casa de ferreiro o espeto é de pau”. E sorrio. Sorrio de mim, para mim, para minhas colocações e meus conselhos. Eu me vejo encurralada. Como se a vida fosse um labirinto, só que ela não é.

Depois de uma reflexão sobre a vida, uma análise crítica sobre esse nós que estamos sendo, uma lida em alguns textos de autoajuda – sim, às vezes a gente precisa – eu te dou cantar branca para abrir a porta e sair por ela. Pode ir, meu amor. Mas vá embora e esvazie todas as gavetas, olhe debaixo da cama e recolha seus chinelos, pegue a sua escova de dente e seu creme de barbear, mas, por favor, não diga que não dei sinais, que não lutei pelo que poderia ser. 

E a você, leitor, finalizo esse texto fazendo uma prece: "desejo que você se encontre, antes de encontrar alguém com quem dividir a vida". 

8 comentários:

  1. A vida é tão clichê no final das contas.

    Aprendi na marra que para encontrar o amor que merecemos, precisamos nos amar primeiro. O dia que parei de mendigar amores, o amor veio em proporções gigantes. Que o mesmo aconteça contigo.

    Beijo imenso.

    PS: lindo o texto.
    PPS: invejinha literária.
    PPPS: fã ♥

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    1. Eu queria só que a vida me presenteasse, sabe? Com uma história que desse certo. Obrigada por tudo, amiga. E eu que sou sua fã! <3

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  2. Teu texto tem tamanho único também!
    Mesmo que hoje eu não mais viva aceitando menos do que acredito que mereço, nunca me esquecerei dos dias em que essas palavras couberam em mim, na minha vida e no meu peito esburacado.
    Quem nunca aceitou migalhas que atire a primeira latinha.

    Arrasou, Pam!

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    1. É, minha amiga! Acho que a gente sempre acaba aceitando, mesmo que diga que não.

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  3. Ei Pam, como sempre as palavras jorram dos teus dedos com uma sutileza e uma força inexplicáveis, lindíssimo amiga!
    Que você encontrem quem partilhará contigo desse amor sem tamanho!

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    1. Ô, Jane! Você não imagina como é bom ler isso. Eu faço isso de uma prece também. Espero que Deus tenha um José pra mim.

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  4. Lindo! Você tem o dom de colocar em palavras os sentimentos da gente de uma forma incomum e grandemente especial. Gratidão!

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    1. Obrigada, Keyla. Fico muito feliz que você tenha gosta. E eu quem fico grata por isso!

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