quarta-feira, maio 24, 2017

Já podemos ir.



— Já podemos ir.

Disse por um instante. Mas o teu beijo me roubou os sentidos e me fez demorar um pouco mais. A vida parecia não existir lá fora. O que me importava era o seu olhar sobre o meu e a forma como me sentia tua na sua íris. Nada de mim era meu. Nem minha pernas. Nem meus seios. Nem meus meios. Tudo era teu. Do início ao fim. Me perdi em seus olhos para me encontrar em teus braços. Me perdi em teus lábios para me encontrar no céu. O relógio havia parado. Não havia vida além de nós. Não havia nada a se preocupar. Não havia o mundo a nos esperar.

Entre erros e acertos. Entre risos e olhares. Eu fui tua até onde a minha capacidade permitia. Da inocência à malícia. No vai e vem de tuas pernas eu me descobri dona de mim mesma. Compreendi que meu coração sabia ancorar no porto certo. Você me era porto seguro. Eu te era um navio desconhecido que piratas cruzam os mares atrás de encontrar. Tesouro seu são meus olhos. Riqueza minha teus lábios. Lábios que me leem com voracidade e percorrem meus caminhos com sede.

Tua água fui.

Pouco a pouco saciei tua sede de mim. Entre sussurros e gemidos abandonei um pouco da minha inocência. Inocência essa que trouxe gargalhada aos teus lábios. Tão boba, menina. Tão linda ao mesmo tempo. Ser teu pão, tua comida, nem parecia tão Cazuza. Parecia canção feita em nossa pele. Som que surgiu de nosso gozo. Melodia que cresceu de nós. Da canção aos urros. Da excitação ao prazer pleno. Fomos.

— Já podemos ir.

Disse por um instante. Não antes de olhar o meu reflexo em teus olhos e me ver inteira ali.



Um comentário:

  1. Você cresce a cada novo dia. A cada novo texto. A cada nova vivência que te permite derramar coisas tão suaves, mesmo quando as palavras vêm tão beijadas por malícia.

    É lindo sim, mais uma vez.

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