quarta-feira, fevereiro 10, 2016

Meus dias são sempre como uma véspera de partida.


Meus dias são sempre como uma véspera de partida.
Caio Fernando Abreu

Tenho aprendido a silenciar as minhas vontades para dar espaço aos planos que Deus tem para mim. É doloroso ter que pegar pela mão a criança birrenta que há em nós e sentá-la, quase de castigo, para que ela possa escutar e ser educada. Os dias seguem opacos e desprovidos de luz. É como se alguém houvesse coberto o sol com uma malha grossa e preta. Ou, até mesmo, aprisionado dentro de uma solitária impedindo-o de brilhar até mesmo pelas frestas.

Meu coração está adormecido e, infelizmente, não consigo diagnosticar se isso é bom ou ruim. Eu nunca fui dada à ciência do corpo humano, sempre tive vertigem ao pensar em órgãos, mas queria entender um pouco de medicina para compreender o que há dentro de mim agora. Ou quem sabe psicologia. Ou quem sabe curandeirismo. Os dias seguem normais, mas não uma normalidade boa – é algo preocupante. Às vezes me pego pensando que há calmaria demais, mas, em alguns momentos, eu me vejo como um prisioneiro de guerra sob tortura. Meus pensamentos me maltratam, vez ou outra, como uma gota de água que insiste em pingar de uma torneira. É um barulho/silêncio que ensurdece.

Tenho aprendido a confiar nos desígnios de Deus, mas assim como Tomé eu tenho vacilado. Fraquejado demais. A minha mente diz que está tudo certo, que a vida tem que seguir seu caminho natural, que o percurso e as rédeas são d’Ele, mas – ao mesmo tempo, ele tem pedido para que eu lute, de alguma forma, e tente agarrar aquilo que por um minuto acreditei ser meu. Há um embaraço tão grande dentro de mim, de meus pensamentos, de minhas quase ações. Tão confusa é essa dormência que existe aqui dentro e tão assustadora – ao mesmo tempo – é esse desejo de sair gritando as minhas emoções aos quatro ventos.


O coração da gente tem que entender que a vida é passagem para algumas pessoas e morada para outras. E saber aceitar esse ir e vir de passos, mesmo que seja doloroso.

Imagem: Théo Gosselin.

Um comentário:

  1. Essa aceitação nunca é fácil, né?
    Espero que reconhecer que é necessário torne o processo menos doloroso.

    te amo :*

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