sábado, dezembro 19, 2009

Caro 'Anônimo',

Entendo perfeitamente como é fantasiar e devanear pessoas, sentimentos e possíveis acontecimentos. Eu, por minha vez, sempre crio situações das quais queria viver. Então, eu te li hoje pela manhã tão logo o sol apareceu em minha janela e tive raiva de ti. Desculpe, não sei quem é você, mas você acabou com o meu dia. Fato isso. Eu não queria ouvir que você tem amor platônico por mim, que te sou o sol, tampouco que pessoas como eu devem se idealizadas, admiradas por pessoas como você. Isso está errado, completamente.

Enquanto eu tomava banho um grito instalou-se em minha garganta, um nó tão grande que ainda me sufoca. Estou aqui inchando. Como se a qualquer momento eu pudesse explodir. Desculpe-me por não compreender o teu sentimento e sei que estou sendo egoísta, mas eu não sei – e nunca soube receber amor de ninguém. E isso me apavora.

E eu fico olhando para o meu celular pensando se eu apago ou não. E me dói. Dói porque eu já disse tantas coisas parecidas assim, já pintei sol e estrelas em luzinhas, vaga-lumes e adjetivei tantos outros objetos a fim de criar poesias e agora te condeno. Mas compreenda o que te digo: eu não sou apaixonável, baby. E eu não quero te magoar. E isso é aviso.

Definitivamente eu fui feita apenas para escrever de amor, vivê-lo me repele, me assusta. Perdoe-me, caro – seria fácil se você tivesse se identificado -, mas eu sou assim. Se te dei alguma esperança, mesmo que mínima peço-te perdão. Eu não nasci para amar. E a cada dia que passa me convenço mais disso. Sei sim falar de amor, talvez você tenha se encantado com isso, confundido. Só que o meu amor se restringe a páginas de cadernos e documentos do Word.

Atenciosamente,

Pâmela Marques.

23 comentários:

  1. Despedaçou-se o coração! Senti como se eu te tivesse mandando o tal torpedo, poxa. Acho que nós escrevemos em nossas histórias coisas bonitas que queríamos que acontecessem conosco, essa é a sina do escritor, do poeta, amar um amor escrito, desiludido fora dele.

    Fique bem Pam!

    Charlie B.

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  2. Que pancada!
    Está doendo até em mim!
    No final, acho que a grande maioria tem medo de amar...
    Porque o amor dói. Pode até não doer sempre, mas uma hora ou outra ele vai te dar uma alfinetada. Vai te sangrar por dentro, chegando a te sangrar em lágrimas...

    Desculpe-me o drama... acho que o amor só me quem letras também.

    Se cuida, boneca!

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  3. Caramba!
    Primeira vez que te leio moça e me surpreendi. Devo confessar que depois de texto tive que ler todos os outros, alguns eu diria. E vi o quão doce você é, assustei com esse. Mas te entendo perfeitamente, nós costumamos ter medo de sentimentos, isso vai passar tenho certeza. Não se culpe por despertar sentimentos em outra pessoa e não corresponder. Você é apaixonante sim. E pelo pouco que te li soube de cara isso, normal é alguém se apaixonar por você. Não se sinta triste por isso.

    Fica bem moça bonita.

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  4. Amor platônico de anônimo, é tão torpedo como este teu texto, só que este, repleto de verdade.

    Agora mais leitora que sempre eu reafirmo que você é uma baita escritora.

    Abraços e bom final de semana.
    Fica bem, Pâmela.

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  5. Tenho a teoria que nós precisamos da dor para continuar a escrever sobre o amor.
    Pode ser doidera, ou não.

    Mas hoje tenho tanto medo do amor, que tem horas que prefiro nem escrever...

    Vai passar.

    Beijo moça

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  6. Não sei não, heim Pamela? É impossível escrever sobre amor e não vive-lo. Viva os seus poemas, como falava o meu querido Drummond!!!

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  7. que belo texto, palavras encantadoras, me deixa com uma questão em mente... não acredito que alguém que fale tão bem sobre ele, nunca tenha vivido ao menos um poquinho de uma paixão, um amor...
    beijos!

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  8. Olá Pâmela!

    Acho que dá para entender e compreender estes sentimentos. Nata fácil, eu diria e concordo que é mais fácil escrever do que viver.

    Muito boa esta carta!

    Rafael

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  9. Mais uma vez a postagem coletiva foi um sucesso. E gostaria de parabenizar a todos que participaram, os textos ficaram maravilhosos. Algumas pessoas estavam me perguntando da próxima. Então será na quarta-feira e o tema será: PRIMEIRO BEIJO e funcionará da seguinte maneira, você pode narrar seu primeiro beijo, de alguém ou como você gostaria que tivesse sido.

    "Meu primeiro beijo foi doce a atrapalhado. Meu primeiro beijo foi mágico, mas rápido." The Happy Losers.

    Lembrando que a postagem é livre. Quem quiser pode participar.

    PS: AS PESSOAS QUE VÃO SAIR ANTES DE RECESSO PODEM DEIXAR PROGRAMADO A POSTAGEM, TEM UMA OPÇÃO NO BLOG E VOCÊ PROGRAMA PARA POSTAR NA QUARTA. VAMOS TODOS PARTICIPAR E AUMENTAR OS NOSSOS LAÇOS VIRTUAIS, RS.

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  10. Que texto avassalador.
    É cordial, mas ao mesmo tempo despedaça.
    Tentei me imaginar no lugar da pessoa a quem ele foi direcionado.
    Se vc é assim, a verdade precisava ser dita, por mais dura que fosse.
    Mas concordo em partes com a Erica também, acho que essa descrição que faz de vc mesma pode ser apenas uma fase.

    Abraços.

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  11. Bem sincera. Quanto a só saber amar nas páginas de caderno e documentos do word, sei bem como é isso. Depois que se tem uma baita ilusão, ou não consegue ter aquilo que realmente se deseja, é mais fácil trancar o coração e apenas viver de amores pefeitos e irreais.

    Já fiz muito isso, e às vezes ainda faço.

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  12. Isso Lara. Tu me leu direitinho. Acho que ando bem amarga, azeda esses dias. Se eu pudesse me esconder, sumir do mapa faria isso. Já que não posso estou me distanciando de tudo. Ilusão é uma droga. E por viver isso não quero fazer com os outros, não quero doer ninguém. Eu não senti raiva da pessoa, sim da mensagem, e até descobri quem é. Triste demais.

    Mas é a vida. Não sei o que acontecerá comigo, meu sentimentos. Sei que eu estou muito confusa, deprimida.

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  13. Nossa...
    Sei bem como é isso de não corresponder às expectativas de alguém no que diz respeito ao amor. Dói de ambos os lados, isso é fato.

    Tu agiu como eu acho que agiria, sendo sincera logo de cara.

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  14. mas quando a gente escreve transfere o sentimento pro papel. como consegues, então, escrever tão bem sobre o amor, se o que sentes não o é, de fato?

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  15. "Só que o meu amor se restringe a páginas de cadernos e documentos do Word."

    exatamente.

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  16. Hum, sou a prova viva de que ela ficou extremamente irritada, rs.

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  17. Por que é tão assim? Por que escrevo tanto de amor, mas não sei senti-lo?
    Coitado do anonimo, mas eu te compreendo completamente.

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  18. Como diz o meu outro eu, Caio Fernando Abreu! hahaha (nem me senti agora)...enfim: eu sou a favor de qualquer coisa que soe a: uma tentativa.

    Sabe,nesse mundo tao enclausurado em si mesmo; quando uma pessoa se declara pra gente, deveriamos ter uma consideração maior, uma reavaliação, uma busca de tentativa mesmo.

    O amor vem de repente. Loucura não aproveitar, pam!

    Enfim, perfeita. Pensa direitinho ai.

    beijos, os doces.

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  19. É, eu não sei por qual motivo exatamente, mas recados anônimos nos quebram.Parecem que eles colocam uma verdade, como se te conhecesse, e te irrita o fato de te conhecer e você não saber quem é;
    O amor é complicado, entender o amor então mais ainda, imagine entender o amor de um anônimo, não da né?

    obs:Obrigada pelos parabéns *-*

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  20. Minha cara, fiquei surpreso ao vir até o seu blog...uma lenidade misturada com uma franqueza. Um sentimentalismo com um intenso realismo. Muito boooooooom!!!

    Estou lhe seguindo tb, ok?
    Se puder, pf, entre na nossa comunidade - sim, esta tb é sua já que escreves.

    http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=96229629

    abraços.

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  21. Nossa, fiquei extasiado com seu comentário (nem sei escrever extasiado) agradeço, pois ele me fez tão bem, obrigado!

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  22. Sim. Este é o preço por idealizar.
    Por outro lado, as palavras são a fonte de tal amor: Idealização.
    Gostei do texto e do blog como um todo.
    Beijos.

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