terça-feira, dezembro 29, 2009

Todo azul do mar;

Há muito havia me esquecido como era ouvir o meu nome saindo de teus lábios: doce - como havia de ser. E eu não esperava você, não daquela maneira, naquela circunstância. E você me veio naquela tarde cinzenta e sentou-se ao meu lado. Ali no chão. E eu usava um jeans surrado e você disse: - esse jeans tem história. E eu ri. E os seus dedos percorriam o meu pulso brincando com a fitinha de Bom Jesus da Lapa que recém-adquiri. E eu não disse nada. Apenas assenti. Porque as tuas mãos sempre me foram refúgio e os teus abraços sempre me envolviam quando eu queria - e quando quero. Mas eu não te chamei e mesmo assim tu vieste ao meu encontro. E aquela grama parecia tão verde, assemelhava-se a cor dos teus olhos. E eu disse: - tom verde grama. E você deu de ombros: - eles mudam vezenquando. Nós rimos porque era gostoso você me ter e vice-versa sem obrigações, sem pedir nada em troca. E nós éramos um do outro - sempre fomos, afinal.

E você me cantou todo azul do mar dizendo que era por causa da fitinha. Que a sua mãe gostava e que você, mesmo achando brega, gostava da poesia da música. Eu ri novamente. Porque você sabia que eu era bem boba com essas demonstrações de afeto e então corei. E nós nos fitamos por alguns instantes a mais. E o sol escondia-se atrás dos prédios anunciando que era hora de ir, mas você continuou ali. E eu sentia que as minhas emoções sempre mudavam quando te tinha por perto, mas não compreendia. E eu ficava me perguntando se a gente se amava, sem que os meus lábios se abrissem - apenas em pensamento. E você me lia claramente. E nossos olhos confusos e tímidos avistavam o nada, só o horizonte. E não precisamos dizer nada. E então eu lembrei que não houve um adeus, um até logo ou breve e que as despedidas nunca fizeram parte de nosso cotidiano. E a gente se pertencia e ponto final. Porque não tivemos um fim de fato.

E você me veio assim manso e sem pretensão alguma. Deitando-se em minhas pernas continuou ali por várias horas, até que a Lua estivesse no alto do céu. E eu te acariciava os cabelos negros como a asa de uma graúna e te cantava More than Words e a gente sempre se amava daquela maneira. Contida. Só com palavras, porque os gestos e toques já não nos satisfaziam mais. E naquela noite eu não te beijei e pela primeira vez vimos que era melhor assim. Porque não era necessário que nossos lábios se tocassem para que soubéssemos que éramos de fato um do outro.

12 comentários:

  1. Eu quero saber como é se sentir assim.

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  2. Incrível!
    Nesta louca corrida que acelera tudo, você consegue lentificar o tempo. Parece haver uma espécie de intencionalidade tua em pausar o ritmo e prolongar o amor, intensificar os sentires...

    Bárbaro! E fico pensando que com isto que fazes, o conto, o sentimento se prolonga. Assim também, a sensação de prazer em se estar em alguém, com alguém, junto a alguém. Minutos eternos de um efêmero sempre.

    E tudo se amplia, não é?
    É como se o olhar pudesse perceber uma outra paleta de cores, as mais vivas,
    Pura vida feita de palavra e amor.
    Me impressiona a tua capacidade de tornar tangível o sentir amor - pela via da palavra.

    Beijo, boas festas e super obrigada pela leitura atenta e generosa. Tuas palavras sempre acrescentam. São um bônus, um presente.

    Carinho.
    foi muito bom te encontrar neste mundo nético.

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  3. Acho que pra sentirmos algo tão bom e acima de tudo perceber que é sincero, não precisam lábios simplesmente se tocarem. acho que isso é apenas consequencia de tanto afago!

    temos que conversar sobre esse post que tal? rs, tu sabe!
    quero uma fitinha de Bom Jesus da Lapa, como faço ? rs


    bjs meu amor, adoro você!

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  4. Perfeito!!!
    adorei!!
    feliz 2010!!
    bju
    Ps: to te seguindo!!

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  5. Eu pude perceber cada detalhe, vivenciar isso aí que você escreveu, menina. Como você consegue ser tão intensa nos sentimentos? Eu fico imaginando como você é, assim, em cores. Se for tão doce e sincera está a um passo da perfeição.

    Obrigado por ter me aceitado no Talk, adorei a conversa. Gentil você.

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  6. Que história linda, Pâmela! Parabéns..
    Eu gosto tanto de ler histórias assim. E apesar de você ter visitado o blog no qual eu colaboro, prometo voltar aqui para vistar o seu cantinho por conta própria, que delícia!

    Volte sempre no estouro.
    E se quiser conhecer minhas próprias palavras, seja bem vindo ao "Pequena" também.

    www.pequenapraquemve.blogspot.com

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  7. Até a pessoa menos sensível do mundo seria capaz de se emocionar com essas palavras.

    Só queria um dia ter 1/3 da sensibilidade e amorosidade que vc tem....Eu me encanto com vc !

    Incontáveis abraços, anjo.

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  8. Que lindo, quero um dia poder amar assim. .

    Beijos Mil.

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  9. Lindo.

    "a gente sempre se amava daquela maneira. Contida. ... E naquela noite eu não te beijei e pela primeira vez vimos que era melhor assim. Porque não era necessário que nossos lábios se tocassem para que soubéssemos que éramos de fato um do outro."

    Acho que o maior amor é este, aquele que só se sente. Porque vai ser sempre perfeito.

    Bjos

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  10. "E então eu lembrei que não houve um adeus, um até logo ou breve e que as despedidas nunca fizeram parte de nosso cotidiano. E a gente se pertencia e ponto final. Porque não tivemos um fim de fato." Me lembrou o meu ex namorado. Vivo dizendo que nunca terminamos de fato, ficaram apenas reticencias.. Lindo e encantador texto.

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  11. " não era necessário que nossos lábios se tocassem para que soubéssemos que éramos de fato um do outro.. "

    Sua doçura voltou, enfim, és doce novamente, o/

    Charlie B.

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