quarta-feira, março 23, 2011

Debaixo da mesa.

"Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas" (Gonzaguinha)

A vida escorregou por debaixo da mesa e enroscou-se em seus tornozelos. E mesmo que eu queira me redimir dos meus pecados, não consigo confessá-los. Talvez eu fique aqui durante algumas horas mais ou até esvaziar essa garrafa de vodka. Eu já não tenho certeza de quase nada e pouca coisa me comove. Não levante a sobrancelha dessa forma em tom de reprovação. Sou apenas aquela garota do interior que você roubou a inocência. Eu não usava esse batom escarlate, minhas pálpebras jamais haviam sido pintadas dessa forma, meu rosto nunca esteve tão borrado como hoje. E o que você me diz? Nada.

Eu que não gostava de você e ainda assim permanecia. Percebi que pior que o amor é o sentimento de apego, aquele costume e a rotina diária. Eu que já não me importava em ter o seu carinho, hoje vejo que todas as portas estão trancadas e já não vejo saída. É engraçado como todos os caminhos são tortuosos e íngremes e meu salto agulha não consegue andar sobre eles sem tropeçar. O mais gozado de tudo isso é saber que a minha auto-suficiência se desintegrou, o que era de se esperar cedo ou tarde.

Não gosto dessa sua cara de piedade, dos seus sermões repetitivos e que me arrastam ao chão. O problema de tudo isso é baixar a guarda sempre, porque você nunca coube em meus excessos. O arrependimento vai queimando aqui dentro, cara. E não é a mistura de bebida que está me deixando amarga. São os sentimentos que se misturaram formando uma enorme bola de neve. Não sei o motivo de dizer todas essas besteiras aqui, nesse lugar sórdido, não sei a razão de ainda me importar com você. A única coisa que sei é que você e toda essa sua sobriedade me dá repulsa.

"Magda, uma personagem amarga e ressentida. Um novo 'estudo de caso'. Que caso."

4 comentários:

  1. Pude me sentir em suas linhas.
    Querendo ou não me encontro na mesma situação que você/personagem do texto.. Uma hora damos/darei a volta por cima.

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  2. "A única coisa que sei é que você e toda essa sua sobriedade me dá repulsa."

    Gente sóbria causa repulsa mesmo!
    Acho que você conseguiu definir um sentimento meio bem escondidinho aqui.

    Sempre maravilhosa, não é Pâmela? :)
    Vou voltar a comentar aqui com frequência, agora que estou voltando pro blogspot.

    beijo, querida. :}

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  3. Achei lindo, e pessoas sóbrias, sãs, que não se embriagam sejam do que for, causam uma ojeriza além da compreensão, compreensão essa que deveríamos ter, mas não cultivamos, por conforto, apenas.

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  4. 'O problema de tudo isso é baixar a guarda sempre, porque você nunca coube em meus excessos'

    Achei muito intenso esse trecho.

    Beijos

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