quarta-feira, janeiro 11, 2017

Mais de 1000 km


Ouça enquanto lê: Photograph, Ed Sheeran.

Amar é tarefa diária. Você não acorda e diz: “hoje te amarei menos”. Mas você pode acordar hoje e dizer: “posso ficar um pouco sozinho?”. Quem ama compreende que haverá dias em que o Sol surgirá e nos alimentará com sua Vitamina D, e que em outros dias a chuva virá e nos molhará a alma. Amar não é ter certeza de tudo. Ninguém inicia uma história imaginando, quantificando, o que acontecerá dali a três anos. O tempo é o seu próprio dono e não cabe a nós domá-lo.

Amar é tarefa árdua. Você olha para o outro e quer abraçar suas dores, mas compreende que nem sempre será possível fazê-lo. A vida não é uma prova de matemática que dá pra se colar. Não há como passar a perna em nosso destino. Não há como dizer à vida: “fique parada, não se mova, espere eu ter a solução de tudo”. A vida passa. Cruel e implacavelmente. E ela bate. De uma forma em que nos desmonta. Não é apenas o coração que dói, mas a mente. Nos falta força. Nos sobra descontentamento.

Amar é olhar para o outro. Olhar não é enxergar. Enxergar requer minucia. Quem olha apenas observa a superfície. Não adentra. Não se aprofunda. Amar requer mirar o coração do outro e entender que haverá dias difíceis e ter paciência, perseverança, para ajudar o outro a atravessar essa fase da vida. Amar é dar a mão, mesmo que não se saiba o motivo. É dizer: “eu estou aqui mesmo que você não queira dizer nada”.

Amar é doído. Amor não é jardim sempre florido. Nele, vez ou outra, também nascerão algumas ervas daninhas e lagartas impedirão suas flores de se mostrarem majestosas. Mas amor é, acima de tudo, cuidado. É ser jardineiro e cuidar das plantinhas ressequidas. É olhar para elas e dizer: “não se preocupe com as dores (ervas daninhas) que te cercam. Eu cuidarei delas”.

Amar é dar espaço. Mesmo que esse hiato nos cause estranheza ou nos amedronte. Ninguém pode amar alguém sufocando. Nós não podemos transformar o nosso amor em carcereiro daquele que deve estar e ficar por livre espontânea vontade. Amor deixa livre. O que nos poda as asas ou nos impede de transitarmos livremente é tudo, menos amor.

Alguns quilômetros me fizeram descobrir o que é realmente amar. Amar é não ter certeza de muita coisa. É vacilar vez ou outra. É dizer que não está preparado, mas ainda assim pagar para ver. A gente sabe que ama quando diante dos problemas a gente não desiste. Se não há solução agora, oras! A solução surgirá mais adiante. Amar é pagar pra ver. É ver que não se tem um centavo no bolso, é compreender que o caminho é longo, mas ainda assim caminhar.

Amar é experimentar a felicidade, tê-la em braços, provar em seus lábios e dizer: “valeu a pena até aqui e valerá muito mais”. É olhar com gratidão para quem não desistiu e reconhecer que cada palavra, cada incentivo, cada gesto, foi necessário e se alegrar com isso. É pensar que a vida não teria muito sentido sem. É acreditar que a vida tem muito sentido agora que somos.

São mais de 1000km que me separam do meu amor e da minha dor. Amor é tudo isso aí acima e um pouco mais. Não há como se amar sem experimentar um “tico” de angústia. Quem ama padece. Mas quem não ama, meus amigos, padece muito mais. Amar é experienciar o céu na terra. Tolo é aquele que após encontra-lo o deixa ir. 


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