quinta-feira, setembro 13, 2012

Para um amor que morreu


É duro você encarar uma decepção, ou melhor, conseguir enxergar uma situação como ela realmente é: nua e crua. Então, desde o início eu tentei deixar lá. Sozinho. Esquecido. Mas uma hora tudo o que a gente sente ou mantém, de alguma forma, vivo dentro de nós vem à tona. E venho sentindo, precisamente, na pele que esse dia chegou. Não seria exagero dizer que é necessário fazer uma faxina, de vez em quando dentro de nós, também confesso que tal decisão é excruciante. Será que excruciante é a palavra exata para medir a dor que estou sentindo? Sinto que há algo me consumindo, sabe? Dilacerando o que há de melhor em mim. E quando fecho os olhos a frase de Shakespeare: Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente.” , parece tomar vida própria, quase se personificando.
E por que eu estou escrevendo? Porque eu preciso me esvaziar de tudo. Preciso pôr em ordem a casa, meu coração, limpar as gavetas com recordações e simplesmente jogar fora. Cansei de ser refém do meu próprio coração. Cansei de fingir indiferença diante daquilo que me doía de verdade. Cansei, sabe? Cansei de toda essa minha educação e reverência diante de um amor que na verdade nunca existiu, a não ser na sua uniteralidade. Um respeito quase que imaculado diante de idealizações criadas por um coração doente e masoquista. E então, hoje diante dessa decadência amorosa eu me pergunto: “Será que amamos realmente uma pessoa ou o que idealizamos em relação a ela?”
Há tempos essa pergunta martela em minha cabeça e, confesso, que sempre que tentei interligar ao meu “pretenso” amor essa pergunta, o meu coração parecia dizer: deixe lá, está escondido e esquecido. E então, ele foi permanecendo ali dentro, criando raízes como bem queria e eu, sem perceber, vivi em uma prisão ao qual o carcereiro [meu coração], permitia somente enxergar o sol pelas frestas. E durante esse tempo todo dentro de mim, a tristeza me envolvia e sabe? Eu sorrio, minha gente. Não porque eu seja um poço de contentamento, eu sorrio porque eu preciso viver um tiquinho, mesmo que “amarelamente”. Só que cheguei no meu limite, não quero ver um pedaço do sol, não quero apenas ouvir e saber que há pássaros lá fora cantando, eu quero viver isso.
E hoje, antes tarde que nunca, eu ensabôo o meu coração, jogo água mesmo, puxo com o rodo, porque durou tempo demais. Não era para ter enraizado. Não era para ser alimentado. Era para ter morrido. Alguns amores são bonitos porque tiveram que acabar, e algumas pessoas são mantidas em nossos corações como prisioneiras simplesmente pelo desejo obsessivo de tê-lo ali dentro. E sabe, diante de todos esses “nãos”, toda essa existência sofrível do amor em mim, eu realmente decidi que há tantos outros sentimentos bons por vir. Há tantas pessoas que gostariam de receber todo o amor que há dentro de mim, e que sim estariam dispostas a ficar. E sei, que hoje hei de sofrer. Mas não dizem que o tempo cura tudo? Então, eis-me aqui tempo à tua disposição.
Sem mais. Sem choro.

7 comentários:

  1. Nossa! Q lindo!
    Senti como se eu tivesse desenhado todas essas letras aí.

    Segundo o psicólogo Jurandi Freire: "nos apegamos ao corpo, mas na verdade gostamos mesmo é da ideia." A tua pergunta tem sido presente na minha cabeça tbm e sempre chego a conclusão que amamos mais nossas ideias, por isso as decepções, desilusões quando o outro não soube cobrir nossos desenhos, mas pior q isso é kuando o próprio outro alimenta-nos, fazendo acreditar que são o que não são, pra então depois deixar nosso coração com fome. Outro ponto importante que vc colocou e que tbm compartilho é a questão de alguns amores serem bonitos porque tiveram que acabar. Acho que toda história de amor pra ser bonita tem que ter um fim. Seja como ele for, por isso Rose sempre lembrará do Jack[filme TITANIC], Nelson Moss sempre lembrará da Sara Deever[filme DOCE NOVEMBRO]e outras historias...

    Enfim, adorei o texto. Sempre bom vir aki. meu abraço.

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  2. Pode até ser clichê, mas preciso dizer que me identifiquei demaaais com o seu texto! Nossa, demais mesmo!

    Tirando o último paragrafo, porque infelizmente ainda não cheguei nesse ponto. Mas quanto ao restante, tudinho... Sabe, de deixar a pessoa dentro do coração, criando raízes, fingindo não perceber, mas ao mesmo tempo deixando e gostando. Entendo bem o que é isso! haauhaua

    Essa vida é estranha né? kkk

    Enfim, quero só dizer que achei seu texto ótimo.. Gosto de palavras que me fazem refletir e as suas fizeram!

    BJão! =*

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  3. Amamos os dois. Logo de início, amamos o que o outro pode nos oferecer, ou o que ele representa para nós é o que imaginamos. O que temos de aprender é que também no amor não se deve esperar demasiado, pois ele não é feito de promessas. O amor é feito de carne, osso e coração. Logo, os erros acontecem. E se repetem. Sobretudo de nós para os outros.
    Abraços.

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  4. Shakespeare também disse: "sem saber amar não adianta amar profundamente".
    Acredito que há sempre o que se aprender quando idealizamos alguém, no fim quando nos damos conta, ja passou. E nosso coração continua oferecendo espaços, espero que para pessoas que amem reciprocamente.
    Se cuida.

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  5. Tudo isso aí. Só que com o choro, Pam. Ainda não tenho domínio desse líquido teimoso que insiste em descer pelo olho não.

    Vem cá, vamos conversar. :*

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  6. Sempre que venho aqui Pâmela, me perco e me encontro nas tuas palavras. Gostaria muito de poder enterrar algumas coisas - não só amores infundados que nos trazem tantas conturbações por dentro.

    Queria mesmo que isso fosse possível - Limpar, lavar - tirar os nós de dentro do nosso peito...


    Gostei muito e achei muito bem escrito.

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